O fenômeno bullying
O poder de
sensibilização ao fenômeno bullying
está relacionado, entre outros fatores, à sua alta carga emotiva devido ao fato
de o ciclo se fechar muitas vezes com manifestação de alto grau de violência e
seqüelas profundas — o fenômeno chega a ser denominado por Rubem Alves como
forma escolar de tortura —, mas também devido ao fato de relacionar-se à busca
de maneiras eficientes de transformar uma sala de aula em que se apresentam
condutas desrespeitosas e violentas num espaço de respeito e ensino–aprendizagem
efetivo. Ao estudar o fenômeno, alguns autores optam por um reducionismo
psicológico; outros ainda o tratam sob uma ótica sociológica, propondo
encaminhamentos pedagógicos coerentes com essas escolhas. É exemplo da primeira
opção a corrente compreensão de que a solução do bullying está em tratar por meio de terapia
individual a vítima e o agressor, sem envolvimento da comunidade escolar. Dessa
linha, derivam idéias do tipo “Não vale a pena falar sobre o assunto na escola,
pois, desse modo, estaríamos estimulando a ocorrência”, as quais acreditam numa
resolução derivada da orientação direta às famílias das vítimas e de medidas
socioeducativas aos agressores; ou, ainda, em casos mais graves, a idéia de que
os problemas são comuns a certas faixas etárias, esvaecendo com a idade. As
pesquisas já demonstraram que essas posições não só não favorecem a resolução
dos problemas, como são potencializadoras de novos casos.
Devido à complexidade
do problema e ao crescente índice de violência escolar, apontado por Duarte
(2006) em pesquisa sobre o efeito da violência no aprendizado nas escolas
públicas do Recife, a problemática da violência escolar não deve ser
desvinculada dos altos índices de pobreza e desamparo político em que vive
grande parte da população brasileira, em especial a recifense. Esse autor nos
auxilia a compreender que a perpetuação da situação de exclusão — econômica,
cultural, afetiva, etc. — é fruto de uma ordem social que vem passando por um
processo de esgarçamento deveras preocupante, intensificado pela
competitividade oriunda do capitalismo em sua fase tardia.
Essa abordagem dialoga
com a necessidade de compreender o contexto cultural da vida dos indivíduos
envolvidos, pois, como apontam Beaudon e Taylor (2006), “os pensamentos dos
indivíduos geralmente estão sujeitos a um filtro cultural daquilo que é
aceitável num contexto específico”, o que significa dizer que o pensamento está
sujeito a bloqueios culturais, os quais provêm da cultura em sentido mais
amplo, a saber: patriarcado, capitalismo, individualismo, racismo e adultismo.
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