Educar é Semear

Educar é Semear

sábado, 7 de janeiro de 2012

LEITURA: FONTE DE PRAZER E DE FORMAÇÃO DO CIDADÃO-LEITOR CRÍTICO”


  1. INTRODUÇÃO
O presente relatório de prática docente tem por objetivo deixar claro à equipe pedagógica da Unidade Escolar, e demais interessados, os procedimentos pedagógicos do Professor João César Pereira Fernandes com relação:
Rotina de aula;
Leitura prazer (professor enquanto modelo de leitor, fomentador de prazer);
Leitura enquanto instrumento pedagógico;
Outros desdobramentos do Projeto Leitura.
• “Hora do Brinquedo”: Brincadeira é coisa séria
  1. ROTINA DE AULA
A aula será sempre iniciada pela leitura compartilhada: o professor lê para a classe um texto ou o capítulo seqüencial de um livro. Logo após, os alunos registram no caderno a rotina de atividades previstas para aquele dia de aula, para ficar bem claro tudo o que deve ser trabalhado no dia e sua posterior conferência do que foi, o que não foi e por que não foi trabalhado (organização e avaliação coletiva).
Será combinado junto aos alunos que o início da aula, a leitura compartilhada – como será posto mais adiante, é parte integrante e fundamental da aula, não podendo ser suprimida ou interrompida por nada e por ninguém. Caso algum aluno não esteja interessado naquele momento, basta não prestar atenção à ele, guardando, porém silêncio, pois alguém perto dele pode estar interessado. É um primeiro trabalho envolvendo valores, no caso a ética: “o que não desejo para mim – ser atrapalhado, não farei para o outro”.
Após esse momento inicial da leitura pelo professor, os alunos pegam seus respectivos cadernos para registrar o cabeçalho, uma frase posta pelo professor para reflexão – geralmente de um ponto central da leitura (ou algo relacionado a um evento do cotidiano), e a rotina prevista. Nesta, é incluída a leitura já feita, com nome da obra e capítulo, e as atividades que ocorrerão, divididas em antes e depois do recreio. É esclarecida para os alunos a intenção interdisciplinar, uma vez que, da mesma forma que a língua portuguesa permeia todas as atividades, outros componentes curriculares subsidiam os diversos trabalhos do dia. Daí o significado de registrar a rotina prevista no caderno, sempre.
Após esse registro, que permanece durante boa parte da aula na lousa, para constante conferência, desenvolvem-se as diversas atividades pedagógicas, de acordo com o Plano de Trabalho do Ano/Ciclo. Porém, algumas vezes por semana, a leitura compartilhada serve de recurso para o trabalho específico em Português (ou outro componente curricular). Oralmente a classe, ajudada pelo professor, faz o levantamento – recordação de tudo o que a leitura nos trouxe: personagens, cenários, fatos e suas seqüências, além de elementos subjetivos do tipo: o que será que acontecerá depois?; se fosse você, o que faria? etc. – mais um trabalho envolvendo valores e criticidade. Logo em seguida faz-se o registro escrito dessa etapa, que pode ser por meio de questionários, produção de textos ou mesmo reprodução pictórica – em conjunto com Artes, quando possível. Uma outra variante é o levantamento de palavras significativas presentes na leitura e trabalhos pedagógicos com as cinco mais votadas pelos alunos: classificação, flexões, produções escritas etc.
No final da aula, alunos e professor analisam a rotina prevista, para verificar o que foi cumprido ou não e suas causas, permitindo assim uma avaliação coletiva da aula com co-responsabilidade nos sucessos e fracassos.
Será previsto um momento especial, geralmente às sextas-feiras – momento da brincadeira: as crianças trarão seus brinquedos e brincarão por cerca vinte e cinco minutos no final da aula. Brincando a criança não somente se distrai, mas também se socializa, descobre regras de jogos, leva uma lembrança agradável da escola e resolve seus problemas internos, como insistem vários teóricos da Educação – veremos na última parte deste documento.
  1. LEITURA PRAZER
Leitura prazer ou leitura compartilhada é o momento inicial da aula, no qual o professor lê um texto ou um livro dividido em capítulos diários.
Ao contrário de outros anos – onde o professor escolhia e lia aleatoriamente textos – em 2010 (a exemplo do que ocorreu em 2007, 2008 e 2009) a leitura no início da aula será direcionada para um trabalho específico de acolhimento e auto estima (nos primeiros dias de aula), e de regras de convivência e valores (nas semanas iniciais), assim descritos:
No primeiro dia de aula, como dinâmica de acolhida, será dito aos alunos que o professor tem, dentro de uma pasta, a imagem de alguém muito importante para ele. Cada um deverá ver individualmente e guardar segredo sobre a imagem que viu, para não comprometer o evento. Trata-se de um espelho, no qual cada aluno verá sua própria imagem. Quando todos já tiverem visto o conteúdo da pasta, socializa-se as idéias e impressões. Em seguida o professor lê para todos o texto “A casa dos mil espelhos”1 (sobre os dois cachorrinhos que visitaram a mesma casa repleta de espelhos – um alegre e outro bravo – e suas respectivas reações), para introduzir a conversa de como será o ano escolar, de acordo com as atitudes e responsabilidades de cada um.
Nos dias seguintes, as aulas serão iniciadas com o professor lendo livros da Coleção Valores2 – um por dia, seguido de socialização das impressões, culminando com a reescrita e re-ilustração do tema visto no dia. Todas essas atividades formarão o primeiro livrinho do aluno, além de servirem de painel para elaboração de “regras a serem observadas por todos”.
Quando forem lidos e trabalhados os livros da referida coleção, o Projeto Leitura terá continuidade com o livro “O Pequeno Príncipe”3, o qual será lido diariamente, um capítulo por aula. A escolha deste livro é proposital, por tratar sobre muitos assuntos relacionados à convivência humana, bem como o respeito pela infância – bem acentuado pelo autor.
O Projeto terá continuidade com o livro “O patinho que não aprendeu a voar”4, que retoma o tema liberdade enquanto opção individual. A obra “Estórias de Bichos”5, do mesmo autor, retoma, com textos diários, alguns dos temas já vistos.
Ao longo do ano serão lidos textos avulsos, do tipo fábulas ou parábolas, sempre no início de cada aula. Serão textos publicados nos seguintes livros – obviamente que não é objetivo esgotar todos os textos ali presentes: “Sabedoria da vida – histórias que ensinam”6, “Bebendo nas fontes do povo”7, “Abrindo caminhos – parábolas e reflexões”8 e “Momentos … mensagens para a vida”9, além de textos breves, tipo fábulas, parábolas e afins, presentes nos livros “Estórias que Ensinam” e “Contos que Encantam”.10.
Obviamente, outros livros enriquecerão esse momento diário de leitura, principalmente livros trazidos e selecionados pelos próprios alunos. Também textos de sites específicos11, bem como do grande autor Monteiro Lobato12, estarão presentes ao longo do ano.
No mês de agosto, tradicionalmente dedicado ao folclore, serão lidas, diariamente, lendas, mitos, parlendas, músicas, ditados populares, trava-línguas, superstições e outros elementos folclóricos presentes na obra “Nosso Folclore”13, com conversa coletiva, reescrita e ilustração de cada parte trabalhada. Tais atividades formarão o segundo livrinho do aluno.
No último dia de aula do ano será lido “A menina e o pássaro encantado”14, que trata exatamente da despedida e da esperança do reencontro em algum momento futuro.
Com todas essas leituras o professor pretende mostrar-se enquanto modelo, isto é, que gosta de ler, além de mostrar que a leitura abre as portas de um mundo imenso, tanto de imaginação como de informação e formação.
  1. LEITURA ENQUANTO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO
Além da leitura prazer descrita acima, o mesmo texto lido no dia poderá servir de instrumento durante a aula, como explicado na descrição da rotina, mais acima. Claro que outros instrumentos estarão presentes na aula, como o livro didático e/ou subsídios elaborados por SME, mas este(s) é(são) apenas mais um instrumento, e não o objetivo e fim da aula.
Por isso, muitas vezes a leitura, mesmo sendo enquanto prazer, será usada como instrumento eficaz no restante da aula. E não somente em Português, como ficou claro mais atrás, mas também em Artes (representação pictórica, história em quadrinhos, dobradura, pintura, música etc.), Ciências (elementos naturais ou artificiais presentes na leitura – em co-relação ao Projeto “Mão na Massa”), História (o texto enquanto produção histórica de um determinado povo com seus elementos culturais),Geografia (dados de localização espacial, presentes na leitura), dentre muitas outras coisas.
  1. OUTROS DESDOBRAMENTOS
Além dos diversos trabalhos envolvendo leitura acima descritos, também os alunos terão acesso à livros fornecidos pelo(a) Professor(a) Orientador(a) da Sala de Leitura (“caixa volante”) – espera-se que tenha, quer quando terminam sua lição, quer em momentos específicos de leitura ao longo da semana, além da própria Sala de Leitura.
Também outras formas de texto, sobretudo letras de músicas – Popular Brasileira e Folclóricas, serão trabalhados esporadicamente – estas últimas em especial em agosto, como já citado. O objetivo do Professor, com esse trabalho, será criar o lado da apreciação artística da criança, tão acostumada com músicas criadas pela mídia.
Poderá ser trabalhada a música enquanto um texto poético a ter uma mensagem/tema a ser extraído coletivamente. Dessa mensagem, elabora-se um texto jornalístico e, dependendo do tema, trabalha-se tabelas e gráficos.
Muitos outros desdobramentos, com certeza, ocorrerão ao longo do ano letivo, uns previstos, outros conseqüentes das ações já em andamento. Em especial, no Projeto Leitura, ênfase em trabalhos com os livros da coleção “Valores”, conforme já citado neste relatório. Também autores como Rubem Alves terão seus textos lidos ao longo do Projeto, em especial o livro “O Patinho que não aprendeu a voar”, sobre liberdade enquanto conquista com responsabilidade, como já afirmado aqui. Dessa forma os Temas Transversais estarão sempre presentes na formação dos alunos.
Também o Estatuto da Criança e do Adolescente será trabalhado constantemente, não como instrumento punitivo, mas coletânea de direitos coletivos: “você tem direito, seu colega também; por isso respeite-o para que ele também o faça”15.
Como também já descrito, muitas das leituras feitas serão retomadas, discutidas coletivamente, reescritas e ilustradas. Todos esses trabalhos formarão os livrinhos dos alunos, mostrando que eles também podem ser escritores.
  1. HORA DO BRINQUEDO: BRINCADEIRA É COISA SÉRIA
Como já afirmado anteriormente, são previstos momentos semanais especiais, geralmente às sextas-feiras – momento da brincadeira: as crianças trarão seus brinquedos e brincarão por cerca vinte a quarenta minutos no final da aula. Brincando, a criança não somente se distrai, mas também se socializa, descobre regras de jogos, leva uma lembrança agradável da escola e resolve seus problemas internos, como insistem vários teóricos da Educação16.
Além desse momento formal o Professor prevê, algumas breves intervenções informais na hora da entrada e, eventualmente, no recreio17. Quer, dessa forma, propor atividades recreativas salutares aos alunos, além de ouvi-los em suas necessidades, como opção dinâmica a outras atividades um tanto quanto violentas que os mesmos poderiam apresentar nesses momentos informais coletivos. Quer também mostrar-se mais próximo dos alunos, mais informal, interessado naquilo que lhes agrada para, quem sabe, os mesmos tenham uma relação diferente e nova com aquilo que menos lhes interessa (como o estudo). Este é um pressuposto bem intuitivo, baseado na experiência e na prática de um educador que atuou no norte da atual Itália, no século XIX, e deixou um legado pedagógico que muitos desconhecem18.
Mas, vale repetir: tais intervenções serão esporádicas. Trata-se de uma experiência informal, que o professor praticou, escondido, em 2005, e que lhe garantiu uma classe muito tranqüila e comprometida com os estudos naquele ano. Também ótimos resultados junto ao 4º ano B, da EMEF Marechal Espiridião Rosas, em 2009, minimizando, inclusive, ocorrências de Bullying na referida turma (o professor não deixava que problemas externos às aulas “invadissem-nas”, na medida em que procurava ouvir os alunos nesses momentos informais e propor soluções ali mesmo, o “aqui agora”).
  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Professor João acredita que sua função docente vai muito alem do ensinar a ler e escrever. O mesmo Professor acredita também em uma educação afetiva e efetiva, sem negligenciar os conteúdos tradicionais, mas colocá-los a serviço da formação do cidadão critico, atuante e consciente de seus direitos e deveres, como reza diversas diretrizes e, em especial projetos pedagógicos de várias escolas19, pois estamos diante do ser humano completo, não somente um ser cognitivo.
Por isso todo esse cuidado, que vai desde a rotina da aula, até as leituras e seus diversos desdobramentos, passando por um tratamento respeitoso e pedagógico da recreação infantil, tem se mostrado muito eficaz na solução de conflitos das crianças, na socialização e em criar-se vínculos de amizade entre educador e educandos.
Da mesma forma, as aulas estarão sempre abertas à visita da Equipe Pedagógica, para não somente verificar o que está ocorrendo, mas principalmente para sugerir caminhos, desde que coerentes com os princípios do Professor.
Desde já o Professor é grato pela atenção que estão dando a este documento. O Professor coloca-se à inteira disposição para quaisquer esclarecimentos. Pede-se a gentileza dos leitores de fazerem um uso bem particular deste relatório, sem divulgá-lo fora do contexto da Secretaria Municipal da Educação, bem como para não serem dados quaisquer outros usos além da divulgação da prática docente.
A critério da Equipe Pedagógica, este documento poderá ser parte integrante do plano de trabalho do Professor João César no ano de 2010.
Enfim, o Professor faz dele as palavras de um Grande Educador bem prático: “É impossível educar uma criança se ela não for respeitada” (Marcelino Champagnat)20. Tal frase pressupõe que o respeito seja a condição indispensável para um salutar ambiente de aprendizagem. Mas respeito absoluto e amplo: entre os alunos e entre eles para com os demais seres humanos – e vice-versa.
João César Pereira Fernandes, RF.
Professor de Educação Básica (Ed. Inf. e Ens. Fund. I – 1º ao 5º ano), desde maio de 1997

Nenhum comentário:

Postar um comentário