- INTRODUÇÃO
O presente relatório de prática
docente tem por objetivo deixar claro à equipe pedagógica da Unidade Escolar, e
demais interessados, os procedimentos pedagógicos do Professor João César
Pereira Fernandes com relação:
•
Rotina de aula;
•
Leitura prazer (professor enquanto modelo de leitor, fomentador de
prazer);
•
Leitura enquanto instrumento pedagógico;
•
Outros desdobramentos do Projeto Leitura.
•
“Hora do Brinquedo”: Brincadeira é coisa séria
- ROTINA DE AULA
A aula será sempre iniciada pela
leitura compartilhada: o professor lê para a classe um texto ou o capítulo
seqüencial de um livro. Logo após, os alunos registram no caderno a rotina de
atividades previstas para aquele dia de aula, para ficar bem claro tudo o que
deve ser trabalhado no dia e sua posterior conferência do que foi, o que não
foi e por que não foi trabalhado (organização e avaliação coletiva).
Será combinado junto aos alunos que o
início da aula, a leitura compartilhada – como será posto mais adiante, é parte
integrante e fundamental da aula, não podendo ser suprimida ou interrompida por
nada e por ninguém. Caso algum aluno não esteja interessado naquele momento,
basta não prestar atenção à ele, guardando, porém silêncio, pois alguém perto
dele pode estar interessado. É um primeiro trabalho envolvendo valores, no caso
a ética: “o que não desejo para mim – ser atrapalhado, não farei para o outro”.
Após esse momento inicial da leitura
pelo professor, os alunos pegam seus respectivos cadernos para registrar o
cabeçalho, uma frase posta pelo professor para reflexão – geralmente de um
ponto central da leitura (ou algo relacionado a um evento do cotidiano), e a
rotina prevista. Nesta, é incluída a leitura já feita, com nome da obra e
capítulo, e as atividades que ocorrerão, divididas em antes e depois do
recreio. É esclarecida para os alunos a intenção interdisciplinar, uma vez que,
da mesma forma que a língua portuguesa permeia todas as atividades, outros
componentes curriculares subsidiam os diversos trabalhos do dia. Daí o
significado de registrar a rotina prevista no caderno, sempre.
Após esse registro, que permanece
durante boa parte da aula na lousa, para constante conferência, desenvolvem-se
as diversas atividades pedagógicas, de acordo com o Plano de Trabalho do
Ano/Ciclo. Porém, algumas vezes por semana, a leitura compartilhada serve de
recurso para o trabalho específico em Português (ou outro componente
curricular). Oralmente a classe, ajudada pelo professor, faz o levantamento –
recordação de tudo o que a leitura nos trouxe: personagens, cenários, fatos e
suas seqüências, além de elementos subjetivos do tipo: o que será que
acontecerá depois?; se fosse você, o que faria? etc. – mais um trabalho
envolvendo valores e criticidade. Logo em seguida faz-se o registro escrito
dessa etapa, que pode ser por meio de questionários, produção de textos ou
mesmo reprodução pictórica – em conjunto com Artes, quando possível. Uma outra
variante é o levantamento de palavras significativas presentes na leitura e
trabalhos pedagógicos com as cinco mais votadas pelos alunos: classificação,
flexões, produções escritas etc.
No final da aula, alunos e professor
analisam a rotina prevista, para verificar o que foi cumprido ou não e suas
causas, permitindo assim uma avaliação coletiva da aula com co-responsabilidade
nos sucessos e fracassos.
Será previsto um momento especial,
geralmente às sextas-feiras – momento da brincadeira: as crianças trarão seus
brinquedos e brincarão por cerca vinte e cinco minutos no final da aula.
Brincando a criança não somente se distrai, mas também se socializa, descobre
regras de jogos, leva uma lembrança agradável da escola e resolve seus
problemas internos, como insistem vários teóricos da Educação – veremos na
última parte deste documento.
- LEITURA PRAZER
Leitura prazer ou leitura
compartilhada é o momento inicial da aula, no qual o professor lê um texto ou
um livro dividido em capítulos diários.
Ao contrário de outros anos – onde o
professor escolhia e lia aleatoriamente textos – em 2010 (a exemplo do que
ocorreu em 2007, 2008 e 2009) a leitura no início da aula será direcionada para
um trabalho específico de acolhimento e auto estima (nos primeiros dias de
aula), e de regras de convivência e valores (nas semanas iniciais), assim
descritos:
No primeiro dia de aula, como
dinâmica de acolhida, será dito aos alunos que o professor tem, dentro de uma
pasta, a imagem de alguém muito importante para ele. Cada um deverá ver
individualmente e guardar segredo sobre a imagem que viu, para não comprometer
o evento. Trata-se de um espelho, no qual cada aluno verá sua própria imagem.
Quando todos já tiverem visto o conteúdo da pasta, socializa-se as idéias e
impressões. Em seguida o professor lê para todos o texto “A casa dos mil
espelhos”1
(sobre os dois cachorrinhos que visitaram a mesma casa repleta de espelhos – um
alegre e outro bravo – e suas respectivas reações), para introduzir a conversa
de como será o ano escolar, de acordo com as atitudes e responsabilidades de
cada um.
Nos dias seguintes, as aulas serão
iniciadas com o professor lendo livros da Coleção Valores2
– um por dia, seguido de socialização das impressões, culminando com a
reescrita e re-ilustração do tema visto no dia. Todas essas atividades formarão
o primeiro livrinho do aluno, além de servirem de painel para elaboração de
“regras a serem observadas por todos”.
Quando forem lidos e trabalhados os
livros da referida coleção, o Projeto Leitura terá continuidade com o livro “O
Pequeno Príncipe”3,
o qual será lido diariamente, um capítulo por aula. A escolha deste livro é
proposital, por tratar sobre muitos assuntos relacionados à convivência humana,
bem como o respeito pela infância – bem acentuado pelo autor.
O Projeto terá continuidade com o
livro “O patinho que não aprendeu a voar”4,
que retoma o tema liberdade enquanto opção individual. A obra “Estórias de
Bichos”5,
do mesmo autor, retoma, com textos diários, alguns dos temas já vistos.
Ao longo do ano serão lidos textos avulsos,
do tipo fábulas ou parábolas, sempre no início de cada aula. Serão textos
publicados nos seguintes livros – obviamente que não é objetivo esgotar todos
os textos ali presentes: “Sabedoria da vida – histórias que ensinam”6,
“Bebendo nas fontes do povo”7,
“Abrindo caminhos – parábolas e reflexões”8
e “Momentos … mensagens para a vida”9,
além de textos breves, tipo fábulas, parábolas e afins, presentes nos livros
“Estórias que Ensinam” e “Contos que Encantam”.10.
Obviamente, outros livros
enriquecerão esse momento diário de leitura, principalmente livros trazidos e selecionados pelos próprios alunos. Também textos de sites específicos11,
bem como do grande autor Monteiro Lobato12,
estarão presentes ao longo do ano.
No mês de agosto, tradicionalmente
dedicado ao folclore, serão lidas, diariamente, lendas, mitos, parlendas,
músicas, ditados populares, trava-línguas, superstições e outros elementos
folclóricos presentes na obra “Nosso Folclore”13,
com conversa coletiva, reescrita e ilustração de cada parte trabalhada. Tais
atividades formarão o segundo livrinho do aluno.
No último dia de aula do ano será
lido “A menina e o pássaro encantado”14,
que trata exatamente da despedida e da esperança do reencontro em algum momento
futuro.
Com todas essas leituras o professor
pretende mostrar-se enquanto modelo, isto é, que gosta de ler, além de mostrar
que a leitura abre as portas de um mundo imenso, tanto de imaginação como de
informação e formação.
- LEITURA ENQUANTO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO
Além da leitura prazer descrita
acima, o mesmo texto lido no dia poderá servir de instrumento durante a aula,
como explicado na descrição da rotina, mais acima. Claro que outros
instrumentos estarão presentes na aula, como o livro didático e/ou subsídios
elaborados por SME, mas este(s) é(são) apenas mais um instrumento, e não o
objetivo e fim da aula.
Por isso, muitas vezes a leitura,
mesmo sendo enquanto prazer, será usada como instrumento eficaz no restante da
aula. E não somente em Português, como ficou claro mais atrás, mas também em
Artes (representação pictórica, história em quadrinhos, dobradura, pintura,
música etc.), Ciências (elementos naturais ou artificiais presentes na leitura
– em co-relação ao Projeto “Mão na Massa”), História (o texto enquanto produção
histórica de um determinado povo com seus elementos culturais),Geografia (dados
de localização espacial, presentes na leitura), dentre muitas outras coisas.
- OUTROS DESDOBRAMENTOS
Além dos diversos trabalhos
envolvendo leitura acima descritos, também os alunos terão acesso à livros
fornecidos pelo(a) Professor(a) Orientador(a) da Sala de Leitura (“caixa
volante”) – espera-se que tenha, quer quando terminam sua lição, quer em
momentos específicos de leitura ao longo da semana, além da própria Sala de
Leitura.
Também outras formas de texto,
sobretudo letras de músicas – Popular Brasileira e Folclóricas, serão
trabalhados esporadicamente – estas últimas em especial em agosto, como já
citado. O objetivo do Professor, com esse trabalho, será criar o lado da
apreciação artística da criança, tão acostumada com músicas criadas pela mídia.
Poderá ser trabalhada a música
enquanto um texto poético a ter uma mensagem/tema a ser extraído coletivamente.
Dessa mensagem, elabora-se um texto jornalístico e, dependendo do tema,
trabalha-se tabelas e gráficos.
Muitos outros desdobramentos, com
certeza, ocorrerão ao longo do ano letivo, uns previstos, outros conseqüentes
das ações já em andamento. Em especial, no Projeto Leitura, ênfase em trabalhos
com os livros da coleção “Valores”, conforme já citado neste relatório. Também
autores como Rubem Alves terão seus textos lidos ao longo do Projeto, em
especial o livro “O Patinho que não aprendeu a voar”, sobre liberdade enquanto
conquista com responsabilidade, como já afirmado aqui. Dessa forma os Temas
Transversais estarão sempre presentes na formação dos alunos.
Também o Estatuto da Criança e do
Adolescente será trabalhado constantemente, não como instrumento punitivo, mas
coletânea de direitos coletivos: “você tem direito, seu colega também; por isso
respeite-o para que ele também o faça”15.
Como também já descrito, muitas das
leituras feitas serão retomadas, discutidas coletivamente, reescritas e
ilustradas. Todos esses trabalhos formarão os livrinhos dos alunos, mostrando
que eles também podem ser escritores.
- HORA DO BRINQUEDO: BRINCADEIRA É COISA SÉRIA
Como já afirmado anteriormente, são previstos
momentos semanais especiais, geralmente às sextas-feiras – momento da brincadeira:
as crianças trarão seus brinquedos e brincarão por cerca vinte a quarenta
minutos no final da aula. Brincando, a criança não somente se distrai, mas
também se socializa, descobre regras de jogos, leva uma lembrança agradável da
escola e resolve seus problemas internos, como insistem vários teóricos da
Educação16.
Além desse momento formal o Professor prevê,
algumas breves intervenções informais na hora da entrada e, eventualmente, no
recreio17.
Quer, dessa forma, propor atividades recreativas salutares aos alunos, além de
ouvi-los em suas necessidades, como opção dinâmica a outras atividades um tanto
quanto violentas que os mesmos poderiam apresentar nesses momentos informais
coletivos. Quer também mostrar-se mais próximo dos alunos, mais informal,
interessado naquilo que lhes agrada para, quem sabe, os mesmos tenham uma
relação diferente e nova com aquilo que menos lhes interessa (como o estudo).
Este é um pressuposto bem intuitivo, baseado na experiência e na prática de um
educador que atuou no norte da atual Itália, no século XIX, e deixou um legado
pedagógico que muitos desconhecem18.
Mas, vale repetir: tais intervenções serão
esporádicas. Trata-se de uma experiência informal, que o professor praticou,
escondido, em 2005, e que lhe garantiu uma classe muito tranqüila e comprometida
com os estudos naquele ano. Também ótimos resultados junto ao 4º ano B, da EMEF
Marechal Espiridião Rosas, em 2009, minimizando, inclusive, ocorrências de Bullying na referida turma (o professor não
deixava que problemas externos às aulas “invadissem-nas”, na medida em que
procurava ouvir os alunos nesses momentos informais e propor soluções ali
mesmo, o “aqui agora”).
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Professor João acredita que sua
função docente vai muito alem do ensinar a ler e escrever. O mesmo Professor
acredita também em uma educação afetiva e efetiva, sem negligenciar os
conteúdos tradicionais, mas colocá-los a serviço da formação do cidadão
critico, atuante e consciente de seus direitos e deveres, como reza diversas
diretrizes e, em especial projetos pedagógicos de várias escolas19,
pois estamos diante do ser humano completo, não somente um ser cognitivo.
Por isso todo esse cuidado, que vai
desde a rotina da aula, até as leituras e seus diversos desdobramentos,
passando por um tratamento respeitoso e pedagógico da recreação infantil, tem
se mostrado muito eficaz na solução de conflitos das crianças, na socialização
e em criar-se vínculos de amizade entre educador e educandos.
Da mesma forma, as aulas estarão
sempre abertas à visita da Equipe Pedagógica, para não somente verificar o que
está ocorrendo, mas principalmente para sugerir caminhos, desde que coerentes
com os princípios do Professor.
Desde já o Professor é grato pela atenção que estão
dando a este documento. O Professor coloca-se à inteira disposição para
quaisquer esclarecimentos. Pede-se a gentileza dos leitores de fazerem um uso
bem particular deste relatório, sem divulgá-lo fora do contexto da Secretaria
Municipal da Educação, bem como para não serem dados quaisquer outros usos além
da divulgação da prática docente.
A critério da Equipe Pedagógica, este documento
poderá ser parte integrante do plano de trabalho do Professor João César no ano
de 2010.
Enfim, o Professor faz dele as palavras de um
Grande Educador bem prático: “É impossível educar uma criança se ela não for
respeitada” (Marcelino Champagnat)20.
Tal frase pressupõe que o respeito seja a condição indispensável para um
salutar ambiente de aprendizagem. Mas respeito absoluto e amplo: entre os
alunos e entre eles para com os demais seres humanos – e vice-versa.
João César Pereira Fernandes, RF.
Professor de Educação Básica (Ed. Inf. e Ens.
Fund. I – 1º ao 5º ano), desde maio de 1997
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