REESCRITA DE
FÁBULAS – PRODUÇÃO DE TEXTO
APRESENTAÇÃO
O presente
projeto nasce do desejo conjunto de professores de sete escolas, que pertencem
ao Núcleo Pedagógico de Amparo e Região, que tem como principal objetivo,
favorecer uma compreensão das crianças acera dos processos de produção de
textos, mesmo quando ainda não sabem grafar.
Neste
trabalho, optamos por abordar a fábula, enfatizando algumas questões de
produção, que possibilitam um olhar renovado sobre o gênero, muito mais como um
objeto estético que pode ser apreciado pelo aluno, do que como um texto
didático-moralizante. Isto quer dizer que a fábula será estudada por meio da
observação de seus recursos expressivos, analisando como são construídos os
efeitos de sentido e como eles podem ser
percebidos por nós.
percebidos por nós.
Por serem
narrativas simples e que todas as crianças gostam, elas se envolvem nas
historias, pois nessa faixa etária sua imaginação é fértil e se concretiza nos
acontecimentos das histórias lidas e nas peripécias de seus personagens.
O
interessante, ao estudar tais obras, é reconhecer fábulas semelhantes presentes
em diferentes culturas, indicando que, ao viajar e entrar em contato com
distintos povos, o ser humano não apenas trocou riquezas materiais ou aprendeu
a dominar técnicas: também se apropriou de novas histórias, num intercâmbio de
imaginários.
Para os
alunos, ler ou ouvir esses textos permite que conheçam outros povos, ou se
reconheçam no imaginário deles e, desse modo, ampliem seu domínio sobre as
formas de pensar, sentir e descrever o mundo.
Fascinadas
pela temática desses textos, as crianças enfrentam desafios para
compreendê-los, pois a linguagem nem sempre é simples. Com isso, ampliam seu
universo lingüístico e seu vocabulário, conhecem estruturas diferentes de construção
das frases e experimentam novas formas da linguagem, como o uso de metáforas ou
outras figura de retórica.
Apresentamos
aqui um projeto no qual os alunos acompanharão a leitura feita pelo professor,
analisarão alguns efeitos da linguagem utilizada e serão desafiados a
reescrever histórias lidas. Ao fazer a reescrita de uma história conhecida,
terão oportunidade de pôr em jogo os conhecimentos que construíram a partir da
leitura, preocupando-se em utilizar a linguagem mais adequada. É preciso lembrar
que a condição didática para que os alunos sejam capazes de realizar essa
proposta é a participação em muitas situações de leitura de fábulas, mesmo que
seja como ouvintes (ao acompanhar a leitura de outra pessoa).
Além
disso, A prática de produção oral com destino escrito de uma fábula será uma
situação privilegiada para que troquem informações sobre a melhor linguagem a
ser utilizada e compartilhem conhecimentos sobre a linguagem escrita, para
poder utilizá-los quando forem assumir a responsabilidade pela produção.
Conteúdo
Temático
A fábula
apresenta um conteúdo didático-moralista que veicula valores éticos, políticos,
religiosos ou social.
Este
conteúdo pode vir organizado de modo a enfocar o discurso moralista – mais
comum nas fábulas em prosa, clássicas – ou pode assumir um valor mais estético,
com uma linguagem mais metafórica e a presença de descrições mais apreciativas
que investem na constituição mais poética das personagens e da ação narrativa.
Neste caso, o desfecho é, em geral, surpreendente, humorístico ou impactante.
Aprender a
Linguagem Que se Escreve
A reescrita
é uma atividade de produção textual com apoio. É a escrita de uma história cujo
enredo é conhecido e cuja referência é um texto escrito.
Quando os
alunos aprendem o enredo, junto vem também à forma, a linguagem que se usa para
escrever, diferente da que se usa para falar. A reescrita é a produção de mais
uma versão, e não a reprodução idêntica. Não é condição para uma atividade de
reescrita – e nem é desejável – que o aluno memorize o texto. Para reescrever
não é necessário decorar: o que queremos desenvolver não é a memória, mas a
capacidade de produzir um texto em linguagem escrita.
O conto
tradicional, por exemplo, funciona como uma espécie de matriz para a escrita de
narrativas. Ao realizar um reconto, os alunos recuperam os acontecimentos da
narrativa, utilizando, freqüentemente, elementos da linguagem que se usa para
escrever.
O mesmo
acontece com as reescritas, pois, ao reescrever uma história, um conto, uma
fábula os alunos precisam coordenar uma série de tarefas: eles precisam
recuperar os acontecimentos, utilizar a linguagem que se escreve organizar
junto com os colegas o que querem escrever, controlar o que já foi escrito e o
que falta escrever. Ao realizar essas tarefas, os alunos estarão aprendendo
sobre o processo de composição de um texto escrito.
REFERÊNCIA: Programa
de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA), Volume 2, p :183
Prof.ª Thais
Pinheiro Costa Mascarenhas
AUTORIA:
O projeto Re
Fabulando, foi escrito conjuntamente por professores do 4º e 5º anos do ensino
Fundamental do Núcleo Pedagógico de Amparo e Região, Boa Vista do Tupim – BA,
pelos seguintes professores:
Cira Souza,
Eliete
Ramos,
Maria
Olivia,
Marivanda
Souza,
Patrícia
Freitas,
Ronaldo
Lima,
Rozana
Oliveira,
Sueide S. S.
Reis.
ÁREA DO
CONHECIMENTO: Língua Portuguesa
CONTEXTO: Produção
textual – (reescrita de fábulas.)
EMPREENDIMENTOS
SUGERIDOS
Elaboração
de um livro contendo as histórias produzidas pelos alunos para presentear os
pais na reunião de pais e mestres ao final da III unidade.
Gravação de
CD com versões das fábulas produzidas gravadas pelos alunos com a finalidade de
entregá-lo aos pais em uma reunião.
OBJETIVO
GERAL
Desenvolver
comportamentos leitores e escritores associados á situação de produção de
fábulas, tendo em vista a elaboração de um livro ou gravação de um CD que será
destinado aos pais.
PÚBLICO-ALVO
Alunos do 1º
ao 3º ano do ensino fundamental, das escolas municipais do povoado de Amparo e
localidades próximas – Assentamento Grotão, Beija-Flor, Bom Viver, Limoeiro e
Malhada Grande.
O que se
espera que os alunos aprendam
A ampliar
seus conhecimentos sobre a linguagem e os recursos discursivos presentes nas
fabulas.
A
reapresentar uma história conhecida, considerando não apenas seu conteúdo, mas
também a forma de contá-la.
Alguns
comportamentos de escritor, como:
Planejar um
texto e escrevê-lo.
Preocupar-se
em reapresentar o conteúdo da história.
Preocupar-se
em utilizar recursos discursivos para tornar a história mais interessante e a
linguagem mais literária.
Revisar os
textos, adequando a linguagem à sua função social.
A ampliar
seus conhecimentos sobre a escrita, avançando em suas hipóteses (embora a
seqüência não tenha como eixo o sistema de escrita, inclui situações que
oferecem desafios nesse sentido).
Colocar em
diálogo diferentes versões de fábulas para recriá-las ou criar outras, a partir
da análise dos argumentos ou da moral previamente apresentados;
Considerar o
destinatário ausente e a necessidade da clareza do texto para que ele possa
compreender a mensagem.
Controlar o
ritmo do que está sendo ditado, quando a fala se ajusta ao tempo da escrita.
Diferenciar
as atividades de contar uma história, por exemplo, da atividade de ditá-la para
o professor, percebendo, portanto, que não se dizem as mesmas coisas nem da
mesma forma quando se fala e quando se escreve;
Diferenciar
entre o que o texto escrito diz e a intenção que se teve antes de escrever.
Fazer
inferências sobre informações das fábulas considerando o contexto em que foram
produzidas.
Fazer uso –
na leitura e na produção de fábulas – dos recursos lingüísticos- discursivos
próprios do gênero;
Fazer uso de
estratégias e capacidades de leitura para construir sentidos sobre as fábulas
lidas. Isto envolve:
Fazer uso
dos recursos lingüísticos e estilísticos próprios da fábula, explorados durante
a leitura e também durante a revisão coletiva de produções, para a produção de
outras fábulas.
Realizar
várias versões do texto sobre o qual se trabalha, produzindo alterações que
podem afetar tanto o conteúdo como a forma em que foi escrito.
Reconhecer as
fábulas como um produto da cultura humana que influencia e é influenciada pelos
valores sociais, políticos, éticos e religiosos de um determinado tempo, na
história de uma determinada sociedade;
Repetir
palavras ou expressões literais do texto original.
Retomar o
texto escrito pelo professor, a fim de saber o que já está escrito e o que
ainda falta escrever.
Conteúdos
A linguagem usada na escrita das fábulas.
Comportamento escritor.
Comportamento leitor.
Planejamento e produção escrita.
Recursos discursivos das fábulas.
Revisão de textos.
O que se espera do professor
Acreditar que as crianças conseguem produzir textos, mesmo sem saber
grafá-los;
Compreender a idéia geral do projeto e cumprir com o cronograma
estipulado.
Estabelecer parcerias com os colegas na troca de experiências,
informações e matérias que os ajudem a tornar as aulas mais produtivas;
Incentivar o trabalho em grupo e a funcionalidade deste em função da
produção de texto;
Incentivar os alunos para analisarem a estrutura dos contos com
perguntas bem pensadas e intervenções que façam os alunos refletirem a cerca
das regularidades deste gênero.
Ler os textos com antecedência, analisando-os criteriosamente, pensando
na melhor maneira de despertar na turma o interesse pelas leituras.
Motivar a turma em prol do produto final do projeto pela sua própria
motivação com a idéia.
Pesquise em diferentes fontes versões diferentes de uma mesma fábula
para ler nos momentos de leitura pelo professor (ver dia na rotina);
Ser criativo diante das subjetividades e adequar às intervenções
previstas à realidade de sua turma;
Solicitar com antecedência materiais que precise, para não atrapalhar o
andamento do projeto.
Tirar suas dúvidas, durante os encontros formativos, com colegas e
pesquisando.
ORDEM
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DESCRIÇÃO
DA AULA
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1ª AULA
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APRESENTAÇÃO
DO PROJETO PARA A TURMA – é um momento onde o professor deve conquistar a
turma para o objetivo maior do projeto: o produto final. Devem ser
compartilhadas também as etapas, tempo de duração e a preparação para a
culminância do projeto.
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2ª AULA
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DIFERENCIAR
OS TÍTULOS DE FÁBULAS CONHECIDAS E DESCONHECIDAS – Além de ser uma
oportunidade de fazer uma aula de leitura, as crianças terão a oportunidade
de conhecer ou relembrar muitas fábulas. Pode-se pedir que relatem brevemente
o que sabem sobre as histórias e eleger, por exemplo, as preferidas da turma.
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3ª AULA
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LEITURA
PELO PROFESSOR - da fábula "A cigarra e a formiga", atentando para
a forma com que esta leitura deve ser feita, diferentemente da atividade
habitual ela é mais lenta e durante esta o professor evidencia fatos, formas
discursivas usadas pelo autor, analisando o texto na sua totalidade.
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4ª AULA
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ANÁLISE
COMPARATIVA DE DUAS VERSÕES DA FÁBULA "A cigarra e a formiga" – é
uma atividade que fará com que as crianças percebam que socialmente as
histórias são recontadas e que apesar de serem inspirados num mesmo enredo os
autores fazem mudanças, imprimindo sua personalidade e seu conhecimento de
mundo na história recontada, isso os ajudará a perceberem que reescrever não
é copiar um texto memorizado.
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5ª AULA
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ANÁLISE DE
MORAL DAS FÁBULAS – é interessante que as crianças percebam que a moral
aparece às vezes explicitamente, outras não. Para isso a leitura de uma ou
duas morais não permitirá essa reflexão, o interessante será a análise de
diferentes versões e que focassem em algumas para que percebesse os elementos
da história que levam para a moral utilizada pelo seu autor. As crianças
podem ser desafiadas a escreverem uma moral para uma fabula que não conhecem
e compará-la com a escrita pelo autor.
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6ª AULA
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LEITURA EM
GRUPO DA 3ª VERSÃO DA FÁBULA – "A formiga boa" – analisando o que é
mantido pelo autor e o que é acrescentado e de que forma isso foi feito.
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7ª AULA
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PLANEJAMENTO
DE REESCRITA DA FÁBULA – é momento de preparar a turma para escrita do
primeiro texto que irá compor o livro. Além de decidirem o que permanecerá
igual e que parte da história irá mudar (se mudar), para comunicar o que.
Além de refletir sobre forma como o texto é estruturado, a linguagem, etc.
que será mais adequada.
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8ª AULA
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REESCRITA
DA 1ª FÁBULA – "A cigarra e a formiga". Nesse momento é hora de
fazer valer o que foi planejado na aula anterior. Para os alunos que ainda
não são alfabético, o professor será o escriba, porem é necessário que o
professor problematize questões relacionadas a escrita, recorrendo a
discussões anteriores, mas cuidar que o texto seja fiel ao que for ditado
pelos alunos. e os alfabetizados poderão ser agrupados de forma que fique
claro como cada um deles poderá contribuir com a escrita e quem irá escrever.
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9ª AULA
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REVISÃO
COLETIVA DA FÁBULA "A CIGARRA E A FORMIGA" – é um momento
privilegiado para que as crianças reflitam acerca da linguagem escrita e
aprendam mais um comportamento escritor: um texto não nasce de uma só vez,
ele é regado das reflexões (em um dado tempo) daquele que o escreve. Em uma
revisão não dá para resolver todos os problemas do texto, por isso além de
focar em um aspecto (segmentação, repetição de palavras. Descrição confusa
etc.); deve fazer uso dos outros do espaço de sistematização da rotina para
trabalhar outras questões até que o texto fique bom.
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10ª AULA
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LEITURA DA
FÁBULA "A LEBRE E A TARTARUGA", analisando a forma como o autor
escreve.
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11ª AULA
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LEITURA DA
FABULA "A TARTARUGA E O COELHO" - fazendo uma análise comparativa
com o texto "A lebre e a tartaruga"
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12ª AULA
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ORGANIZAÇÃO
DE TEXTO FATIADO - para recuperar a seqüência lógica dos fatos.
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13ª AULA
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ANALISE DA
PERSONALIDADE DO COELHO NAS FÁBULAS
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14ª AULA
17/09
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Escrevendo
uma nova versão para a fábula "A lebre e o coelho".
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15ª AULA
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ANALISE DE
UMA FÁBULA BEM ESCRITA.
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16ª AULA
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REVISÃO DA
FABULA "A LEBRE E A TARTARUGA" - com foco no campo discursivo
(repetição de palavras, segmentação).
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17ª AULA
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REVISÃO DA
FABULA "A LEBRE E A TARTARUGA" - com foco na concordância verbal e
nominal.
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18ª AULA
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LEITURA DA
FÁBULA "A CEGONHA E A RAPOSA" 1ª versão, refletindo sobre a
personalidade dos personagens.
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19ª AULA
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LEITURA DA
FÁBULA "A CEGONHA E A RAPOSA" 2ª VERSÃO - traçando um quadro
comparativo no estilo dos dois autores na escrita do texto.
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20ª AULA
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LEITURA DE
DIFERENTES FÁBULAS - em que a raposa é personagem para análise de sua
personalidade.
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21ª AULA
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PLANEJANDO
A REESCRITA DA FABULA A RAPOSA E A CEGONHA.
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22ª AULA
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REESCRITA
DA FÁBULA "A RAPOSA E A CEGONHA".
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23ª AULA
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REVISÃO DA
REESCRITA DA FÁBULA "A RAPOSA E A CEGONHA".
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24ª AULA
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ORGANIZAÇÃO
DO LIVRO OU CD DE FÁBULAS E PLANEJAMENTO DA CULMINÂNCIA. Uma aula não dará
conta da organização do produto final, pois a organização do livro e a
gravação de CD exigem habilidades diferentes e que precisam ser ensinados,
como a demanda depende de cada turma, o produto final não terá prazo
estipulado, porém creio que em três aulas á turma dará conta de se preparar,
afinal de contas eles já percorreram um longo caminho de aprendizagens.
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25ª AULA
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CULMINÂNCIA
DO PROJETO.
É
necessário que nessa etapa o professor organize vários momentos, que variam
de acordo com a turma, para organizar as fábulas a serem gravadas, quem vai
gravar, ensaios com microfone para ver como fica melhor a voz, capa do CD,
lançamento etc.
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DESCRIÇÃO
DAS AULAS
1ª AULA
APRESENTAÇÃO
DO PROJETO PARA A TURMA
OBSERVAÇÕES
INICIAIS - Na primeira aula do projeto Re Fabulando, uma boa conversa será uma
excelente oportunidade para compartilhar com os alunos aquilo que será feito.
Além disso, para o professor, é o momento de saber o que eles já sabem sobre
esse gênero literário.
Comece
pedindo que relembrem as fábulas que ouviram e organize uma lista coletiva na
lousa. Essa lista deverá ser copiada no livro do aluno.
Em seguida,
explique o que será feito, o produto final (um livro de fábulas que será
entregue aos pais em uma reunião e a gravação de um CD), e as etapas que
ocorrerão para chegar à sua elaboração. É interessante a participação da turma
nesse momento, conte com a participação da turma, com perguntas ou sugestões.
Essa conversa visa a envolver os alunos, levando-os a perceberem-se como
co-responsáveis pela realização do trabalho e, assim, conseguir seu empenho
durante o desenvolvimento das atividades de leitura e escrita que serão
propostas.
Antecipar
com detalhes o produto final permite aos alunos compreender melhor as diferentes
etapas de produção que estão previstas. Durante essa conversa, é interessante
produzir um cartaz em que tais etapas estejam registradas, o que permitirá, no
decorrer do trabalho, que eles tenham maior controle daquilo que ainda precisa
ser feito. Esse é um momento privilegiado, também, para compartilhar tudo
quanto irão aprender sobre a linguagem escrita, em especial sobre o gênero
fábulas. Segue descrição da aula.
Objetivo:
Envolver os
alunos com o projeto por meio de sua apresentação e subseqüentes etapas e na
construção de seu produto final: um livro de fábulas para ser entregue aos
pais.
Orientações
Didáticas
Crianças
dispostas em circulo. No centro do circulo estará diversos livros de fábulas
expostos no chão. Cada criança deverá pegar um livro para manusear. O professor
deverá fazer algumas intervenções:
O que vocês
acham que está escrito aí?
Será que são
poesias?
Serão
historias?
Até que a
turma chegue a descobrir, pela análise das ilustrações, pela leitura dos
títulos e deliberações entre os colegas.
Fale que as
fábulas são histórias contadas e lidas no mundo todo, que trabalharemos com o
projeto Re Fabulando algum tempo.
Pergunte
quais fábulas eles já conhecem? Quais eles mais gostam?
Apresente o
projeto com entusiasmo, explicando as etapas (fixar as etapas num cartaz), os
objetivos e produto final. Leia da fábula "A cigarra e a formiga" de
La Fontaine.
Após
termine, termine assistido a um episódio do "Pica- pau" inspirado na
fábula "A cigarra e a formiga".
Comente junto
com as crianças as semelhanças entre a fábula e o desenho animado assistido.
2ª AULA
LEITURA DOS
TÍTULOS
Objetivos
Levantar o
conhecimento sobre as fábulas conhecidas e desconhecidas e contá-las (as
conhecidas) livremente.
Ler títulos
de fábulas e classificá-las quanto: conhecidas e não conhecidas fazendo usos de
procedimentos de leitura para diferenciá-los em uma lista.
Orientações
Didáticas
Dispor os
alunos em circulo e apresentar uma caixa contendo títulos das fabulas
conhecidas e desconhecidas.
Fazer a
caixa circular de mão em mão, sob o canto de uma canção (batata que
passa-passa) onde a caixa ficar quando terminar a música a criança deverá abrir
a caixa pegar um título e ler; dizendo se é desconhecido ou conhecido, caso
conheça ou alguém da turma, descrever brevemente como é a história.
Será
considerado um titulo conhecido quando a maioria das crianças tiver
familiaridade com a fábula, os que não conhecem devem ser registrado pelo
professor, para fazer a leitura em um momento oportuno.
Leve um
cartaz, preparado previamente com uma tabela como a seguir:
Peça que
cada criança localize entre os títulos dos desconhecidos e conhecidos o título
que retirou e com a ajuda sua e da turma cole-a nu lugar que julgarem certo (conhecidas
ou desconhecidas).
Fixe o
cartaz na parede par posterior consulta.
PARA CASA –
Peça que as crianças conversem com seus pais para listarem as fábulas
conhecidas por eles.
LEITURA PELO
PROFESSOR
3ª AULA
Objetivo
:
Perceber
através da leitura do professor a diferença entre linguagem falada e escrita e
as característica do gênero fábula.
Orientações
Didáticas
Disponha as
crianças em circulo no chão. Expor na lousa a lista das fabulas fazendo marcas
nas fabulas conhecidas e desconhecidas, destacando o que os alunos se apropriam
das novas fabulas.
Apresente o
livro (caso possua) pedindo para que eles observem as imagens e os escritos da
capa, e tente descobrir o que está escrito ali. Perguntar se o nome do autor
está escrito ali, após ouvir pedir que um dos alunos localize com a ajuda dos
outros. O mesmo deve fazer para identificarem o titulo.
Cante a
música a seguir (no ritmo de ciranda, cirandinha) para indicar que vai ser lida
uma nova história.
Leia a
Fábula "A cigarra e a Formiga" de Esopo. Só que diferentemente do
espaço de leitura em voz alta para deleite, esta leitura assume um novo
propósito, o de favorecer a análise da linguagem usada pelo autor. A leitura
pode ter pausas para que você chame a atenção deles para a descrição de uma
ação, a mudança de atitude de um personagem em relação à da 1ª versão, a moral
e como o autor escreve as freses em detrimento da linguagem falada. É
necessário fazer uma análise cuidadosa em casa e registrar quais as partes do
texto deve ser explorada.
Cante a
parte final da música para indicar que a história terminou.
Peça aos
alunos que digam o que achou da leitura e comente. Dizer que na próxima aula
eles terão que compara duas versões diferentes.
4ª AULA
COMPARAÇÃO
DE DUAS VERSÕES DA FÁBULA "A CIGARRA E A FORMIGA".
Objetivo:
Fazer
análise comparativa entre duas versões da fábula "A cigarra e a
formiga" para perceber as diferentes possibilidades de escrever uma mesma
história e como o ato de reescrever histórias conhecidas é comum mesmo entre os
autores consagrados.
Orientações
Didáticas
Leia duas
versões da fábula "A cigarra e as formigas". Converse com seus eles
explicando que terão que analisar e para descrever a diferentes formas em que
dois autores escrevem a mesma fábula. Vejam o exemplo abaixo:
1ª VERSÃO
– La Fontaine
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2ª VERSÃO
- Esopo
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INÍCIO DA
FÁBULA:
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QUANDO A
CIGARRA LHES PEDE COMIDA, AS FORMIGUINHAS RESPONDEM:
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E A
CIGARRA RESPONDE:
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MORAL DA
HISTÓRIA:
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Peça que
socializem os escritos e que digam o que conclusão chegaram depois de fazer a
atividade.
Converse com
eles para que percebam que socialmente é comum que os autores escrevem versões
diferentes de uma mesma história, lembre do desenho do pica-pau para
exemplificar e muitas vezes até mudam o desfecho da história como fez Monteiro
lobato em "A formiga boa".
Leia para
eles, pausadamente e vá fazendo-os perceber a forma como o autor descreve as
ações dos personagens, a seqüência da história, o desfecho. Questione o porquê
Monteiro Lobato teria escrito um final diferente para a história, de qual mais
gostaram e por que. Essa discussão será importante para que percebam que as
fábulas expressam os valores de que escrevem e que portanto ele estarão livres
para escrever a sua versão quando chegasse a hora.
5ª AULA
ANÁLISE DA
MORAL DE FÁBULAS CONHECIDAS
Objetivo:
Analisar a
moral das duas versões associando a fatos do cotidiano
Orientações
Didáticas
:
Organize as
crianças em quartetos e entregue para cada grupo a cópia de três historias
diferentes (ter para análise no mimo três histórias diferentes), já com a moral
destacada, para torná-la mais visível.
Diga quais
são os títulos das histórias que cada um recebeu e seus respectivo autor, para
que percebam que são conhecidas. Peça para que leiam as histórias e a relacione
com a moral.
Peça que
escolha uma das histórias para analisar a moral, para isso o grupo terá que
entrar num acordo. Oriente as discussões e intervenha para que leiam a mora da
fábula escolhidas e justifique por que.
Entregue um
pedaço de papel e solicite que leia novamente (se necessário) a moral e que
escrevam como compreenderam o que dizia a moral e de um exemplo de como isso se
aplicaria na vida real – Exemplo: Se a moral fosse "Em casa de ferreiro,
espeto de pau" – poderiam dizer que saber as coisas não é garantia de
fazê-las e a aplicação seria – meu tio é professor, mas seu filho não sabe ler.
Solicite que
socializem o que escreveram para os colegas. Depois fixe o comentário com a
respectiva fábula no mural da escola para a apreciação de todos.
6ª Aula
LEITURA DA
3ª VERSÃO DA FÁBULA "A CIGARRA BOA – DE MONTEIRO LOBATO"
Objetivos:
Analisar uma
terceira versão da Fabula "A cigarra boa" para perceber que é possível
mudar o desfecho da história a partir do que o autor acredita ou quer comunicar
a seu leitor.
Orientações
Didáticas
Resgate com
a turma as discussões das aulas anteriores, par que possam se situar dentro do
trabalho;
Organize a
turma – alfabéticos em quartetos ou trios previamente organizados e levando em
consideração critérios que colaborarão com o bom funcionamento dos grupos e
definindo quem será escriba ou leitor e como os outros poderão colaborar. Não
alfabéticos: todos num grupão o professor será o leitor.
Comunique
aos alunos que irão conhecer mais uma versão da fábula "A cigarra e a
formiga". Relembre com eles brevemente as discussões quando compararam as
duas versões anteriores, recorrendo à ficha que foi sistematizada e exposta na
sala.
Questione:
como será o título dessa versão? Será que mudou muito das versões anteriores?
Ouça atentamente e sistematize as falas na lousa para voltar nelas mais na
frente.
Apresente o
título da fábula e questione: o que compreenderam? Que informações sobre a
história nos trás? A formiga das versões que lemos anteriormente era realmente
boa? Justifiquem? Siga com as anotações e compare junto com eles com as que já
fizeram
Entregue uma
cópia do texto e peçam que leiam e discutam sobre a personalidade dos
personagens da história em detrimento as outras versões lidas (até mesmo o
desenho do pica-pau). Entregue também papel pautado para que escrevam suas
conclusões. Sua presença nos grupos é indispensável, pois as crianças sentirão
dificuldades inicialmente de perceber as diferenciações e principalmente na
hora de decidir o que e como escrever, a escolha do escriba deve ser bem
pensada.
Peça que
socializem as discussões se apoiando nas notas. Problematize as discussões e
questione sobre o que acharam da versão lida.
Comunique
que na próxima aula irão planejar a escrita de uma nova versão dessa mesma
fábula, e que ao logo das aulas anteriores tiveram a oportunidade de ler várias
versões e alisá-las e que se preparem para decidirem como será a versão que
irão escrever.
7ª Aula
PLANEJAMENTO
DA REESCRITA DA FÁBULA "A CIGARRA E A FORMIGA"
Objetivos:
Perceber o
ato de planejar como indispensável quando se pretende escrever, e que este é
utilizado por todo escritor proficiente.
Planejar a
escrita da fábula "a cigarra e a formiga".
Orientações
Didáticas
Organize a
sala em circulo.
Prepare
diferentes imagens de lugares (escola, férias em determinada cidade longe, uma
excussão, tomar banho de rio etc.) faça legendas para ajudar na identificação
da imagem.
Exponha no
centro da sala num local acessível aos olhos de todos.
Depois de
escolherem o destino deixe no mesmo local das imagens fichas descrevendo alguns
atitude e itens necessários para garantir o seu conforto no lugar que deseja
ir.
Peça que
justifique as suas escolhas.
Explique
para eles que tudo o que fazemos precisa de um planejamento, de uma
organização, ou seja, de escolhas e que para escrever um texto não é diferente.
Já
percebendo a grande importância do planejar
Inicie o
planejamento da re-escrita da fábula organizando em tópicos as decisões tomadas
sobre sugestões de títulos, seqüência dos fatos, ação e desfecho da história.
Também é importante resgatar as discussões acerca das características da língua
escrita, decidindo que linha (muito distante do original – tipo "formiga
boa" ou conservadora como La Fontaine) e seguir quanto à reescrita da
fábula.
8ª AULA
REESCRITA DA
FÁBULA "A CIGARRA E A FORMIGA"
Objetivos:
Reescrever a
fabula "A cigarra e a formiga" percebendo a diferença entre a
linguagem oral e a linguagem escrita.
Fazer uso de
comportamentos escritores como se apoiar em discussões anteriores e
planejamento feito anteriormente para escrever um texto, rever enquanto escreve
escolher uma entre várias possibilidades, rever após escrever etc.
Orientações
Didáticas
Organize os
alunos alfabéticos nos quartetos das aulas anteriores e redefina com
antecedência o papel de cada aluno no grupo (quem vai ditar, quem vai fazer o
rascunho, quem vai passar a limpo e todos devem participar das decisões e
opinar na construção do texto). Os alunos do 1º ano será produção oral com
destino escrita.
Resgate as
discussões feitas nas aulas anteriores, especialmente na última. Volte ao
planejamento feito e reforce as discussões entorno da utilidade deste no
momento da produção.
Resgate
oralmente ou releia (se necessário) as versões estudadas.
Entregue
para cada grupo uma folha de papel pautada e peça que escrevam de acordo com o
que foi combinado na aula anterior no caderno e depois de revisto e
"aprovado" por todos no grupo o texto deverá ser passado a limpo na
folha que você entregou ao grupo. Durante a produção podem surgir muitas
dúvidas, ou equívocos, o professor deve dar o Maximo de atenção as crianças,
intervindo, problematizado se apoiando nas discussões anteriores e nos
materiais expostos, pois eles estão iniciando na função de produtores de texto.
É importante fazer com que releiam o que escreveram não como obrigação, mas
porque é uma condição do escritor par ir avaliando o que já foi produzido e de
onde deve seguir escrevendo, não repetir informações ou para deixar o texto
claro para quem vai ler.
Recolha o
texto e em casa analise-os cuidadosamente para identificar as necessidades de
investimentos e o que já garantem.
9ª AULA
REVISÃO
COLETIVA DA FÁBULA PRODUZIDA PELOS ALUNOS
Objetivo:
perceber a
importância da linguagem para a clareza e compreensão do texto, fazendo os
marcos textuais necessários a um bom texto.
Orientações
Didáticas
Organização da
sala – individual
Escolha,
pelo professor, de um texto, onde foi percebido mais dificuldades de linguagem
Expor no
papel metro o texto, ler com as crianças levando-as a perceber a linguagem
usada buscando chamar a atenção para palavras repetidas e seqüência dos fatos.
10ª Aula
Objetivo
: Revisar o
texto escrito pelos alunos (no papel metro) propondo que analisem junto com o
professor as questões:
Conteúdo:
Revisão para
os últimos ajustes do texto escrito pelos alunos (foco pontuação)
Orientações
Didáticas
Expor a
fábula reescrita pelos alunos (no papel metro) propondo que analisem junto com
o professor as seguintes questões:
- vocês já
perceberam que o texto é formado por frases
- vocês
observaram que o texto é dividido por partes?
Distribuir o
texto (original) aos alunos pedindo que observem o que existem além das letras.
Esses sinais que aparecem vocês sabem para que servem? Explicar.
Voltar à
reescrita fazendo com que os alunos percebam que, para um texto, está bem
escrito precisará de uma pontuação necessária, grifar as alterações que deverão
ser feitas no texto. Informar aos alunos que o texto será guardado para compor
um livro.
11ª AULA
Objetivo
: Ampliar o
repertório do conhecimento de fabulas
Conteúdo
: Leitura da
segunda fábula
Orientações
Didáticas
Crianças
dispostas em círculo.
Comentar com
a turma que irá ser lida uma fábula buscando na lista exposta na sala se esta é
conhecida ou desconhecida pela turma circulando a mesma (a cigarra e a
formiga).
Propor aos
alunos o silêncio e a atenção. Após a leitura perguntar as crianças:
- Quais
personagens da fábula?
- Como cada
um é descrito?
- O que
acontece com eles?
- O que
vocês entenderam da moral?
Listar
respostas no cartaz para comparar com outra versão usando uma estrutura como a
seguir:
12ª AULA
Objetivo:
Ler a fábula
para comparar seqüência, personagens, moral
Conteúdo:
Leitura da
segunda versão (A cigarra e a formiga)
Orientações
Didáticas
Crianças
dispostas em circulo.
Ler o titulo
da fábula procurando se eles conhecem. (esperar que os alunos comentem que esta
já foi lida).
Comentar que
o professor irá ler propondo que observem se é a mesma história. Voltar ao
quadro da aula anterior comparando personagens, trama e moral.
OUTRAS DICAS
... Se os
alunos falarem ao mesmo tempo?
Faça um bom
combinado antes de iniciar a tarefa: comente a importância de ouvir os colegas,
relembre que é preciso respeitar a vez de cada um, levantando a mão quando
tiver alguma idéia.
... Se
houver alunos que se dispersam em atividades coletivas?
Procure
fazer com que os alunos que têm essa característica ocupem lugares mais
próximos de você. Valorize sua contribuição, perguntando-lhes o que acham de
determinada informação, como gostariam de incluí-la no texto e outras
solicitações e lembre-os sempre da responsabilidade de todos para conseguirem
chegar realizar o projeto a contento.
... Se os
alunos não conseguirem solucionar problemas textuais apontados por você?
No
encaminhamento foi apontada a possibilidade de levantar questões aos alunos
para aprimorar o modo de elaborar o texto. Mas é possível que eles ainda não
tenham conhecimentos necessários para resolver alguns problemas.
Neste caso,
recorra aos modelos de fábulas, retomando determinados trechos e indicando como
o autor escreveu para que possam retomar as referências.
Não hesite
em dar algumas sugestões, submetendo-as à reflexão do grupo, negociando sua
adequação.
Estas são
estratégias didáticas fundamentais no processo de aprendizagem.
Afinal, as
situações de escrita coletiva são sugeridas exatamente porque temos o
diagnóstico de que estamos tratando de uma tarefa que envolve determinados
conhecimentos ainda em construção e que, portanto, os alunos ainda não
conseguem fazer sozinhos.
TEXTOS USADOS
– SEGUIDOS DE COMENTÁRIOS
A CIGARRA E A FORMIGA
A cigarra, sem pensar em guardar,
a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então,
sem provisão na despensa,
como saída ela pensa
em recorrer a uma amiga:
sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,
algum grão, qualquer bocado,
até o bom tempo voltar.
- "Antes de agosto chegar,
pode estar certa a Senhora:
pago com juros, sem mora."
Obsequiosa, certamente,
A formiga não seria.
- "Que fizeste até outro dia?"
- "Eu cantava, sim Senhora,
noite e dia sem tristeza."
- "Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança, agora..."
in: Fábulas de La Fontaine. Villa Rica Editoras Reunidas Limitada.
1992, vol. I, pp. 743-4. Trad. Milton Amado e Eugênio Amado
O MENINO QUE MENTIA
Um pastor costumava levar seu rebanho para fora da aldeia. Um dia resolveu pregar uma peça nos vizinhos.
— Um lobo! Um lobo! Socorro! Ele vai comer minhas ovelhas!
Os vizinhos largaram o trabalho e saíram correndo para o campo para socorrer o menino. Mas encontraram-no às gargalhadas. Não havia lobo nenhum.
Ainda outra vez ele fez a mesma brincadeira e todos vieram ajudar. E ele caçoou de todos.
Mas um dia, o lobo apareceu de fato e começou a atacar as ovelhas. Morrendo de medo, o menino saiu correndo.
— Um lobo! Um lobo! Socorro!
Os vizinhos ouviram, mas acharam que era caçoada.
Ninguém socorreu e o pastor perdeu todo o rebanho.
Moral: Ninguém acredita quando o mentiroso fala a verdade.
(Retirado do "Livro das Virtudes para Crianças" de William Bennett. Editora Nova Fronteira)
A ROSA E A BORBOLETA
A cigarra, sem pensar em guardar,
a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então,
sem provisão na despensa,
como saída ela pensa
em recorrer a uma amiga:
sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,
algum grão, qualquer bocado,
até o bom tempo voltar.
- "Antes de agosto chegar,
pode estar certa a Senhora:
pago com juros, sem mora."
Obsequiosa, certamente,
A formiga não seria.
- "Que fizeste até outro dia?"
- "Eu cantava, sim Senhora,
noite e dia sem tristeza."
- "Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança, agora..."
in: Fábulas de La Fontaine. Villa Rica Editoras Reunidas Limitada.
1992, vol. I, pp. 743-4. Trad. Milton Amado e Eugênio Amado
O MENINO QUE MENTIA
Um pastor costumava levar seu rebanho para fora da aldeia. Um dia resolveu pregar uma peça nos vizinhos.
— Um lobo! Um lobo! Socorro! Ele vai comer minhas ovelhas!
Os vizinhos largaram o trabalho e saíram correndo para o campo para socorrer o menino. Mas encontraram-no às gargalhadas. Não havia lobo nenhum.
Ainda outra vez ele fez a mesma brincadeira e todos vieram ajudar. E ele caçoou de todos.
Mas um dia, o lobo apareceu de fato e começou a atacar as ovelhas. Morrendo de medo, o menino saiu correndo.
— Um lobo! Um lobo! Socorro!
Os vizinhos ouviram, mas acharam que era caçoada.
Ninguém socorreu e o pastor perdeu todo o rebanho.
Moral: Ninguém acredita quando o mentiroso fala a verdade.
(Retirado do "Livro das Virtudes para Crianças" de William Bennett. Editora Nova Fronteira)
A ROSA E A BORBOLETA
Uma vez, uma
borboleta se apaixonou por uma linda rosa. A rosa ficou comovida, pois o pó das
asas da borboleta formava um maravilhoso desenho em ouro e prata. Assim, quando
a borboleta se aproximou, voando, da rosa e disse que a amava, a rosa ficou
coradinha e aceitou o namoro. Depois de um longo noivado e muitas promessas de
fidelidade, a borboleta deixou sua amada rosa. Mas, ó desgraça! A borboleta só
voltou um tempo depois.
– É isso que
você chama de fidelidade? – choramingou a rosa. – Faz séculos que você partiu,
e, além disso, você passa o tempo de namoro com todos os tipos de flores. Vi
quando você beijou dona Gerânio, vi quando você deu voltinhas na dona Margarida
até que dona Abelha chegou e expulsou você... Pena que ela não lhe deu uma boa
ferroada!
–
Fidelidade!? – riu a borboleta. – Assim que me afastei, vi o Senhor Vento
beijando você. Depois você deu o maior escândalo com o senhor Zangão e ficou
dando trela para todo besourinho que passava por aqui. E ainda vem me falar em
fidelidade!
Moral: Não
espere fidelidade dos outros se não for fiel também.
(in: Fábulas de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 86. Trad. Heloisa Jahn)
Comentários
sobre algumas características das fábulas "A cigarra e a formiga",
"O menino que mentia" e "A borboleta e a rosa"
Diferentemente
da fábula A cigarra e a formiga, estas duas fábulas trazem uma moral explícita,
em destaque, como um desfecho trágico e conclusivo da história, na voz do
próprio narrador, que fala como "um velho que prega lição em tom
edificante e moralizador".
Apesar da
diferença, cabe observar que em A cigarra e a formiga também há uma moral
implícita, mas agora, na voz da formiga, também como um desfecho trágico da
história: - "Tu cantavas? Que beleza! / Muito bem: pois dança,
agora..."
Em vista
destas considerações sobre a moral, percebe-se que desta perspectiva ela passa
a ser parte integrante da história e um recurso a mais para o autor compor a
estética do texto, conforme comentado no texto inicial em que caracterizamos a
fábula.
Estas duas
fábulas trazem como personagens outros seres além dos animais: temos uma deusa,
um homem e uma flor, além do inseto. Explorar a variedade de personagens das
fábulas reforça a informação de que eles não se restringem a animais: podem ser
seres animados (inclusive o homem) e seres inanimados (como um machado, uma
pedra, conforme veremos em outras fábulas).
O recurso de
personificação de animais ou objetos – observados tanto no fato de estes seres
falarem, como nos sentimentos e reações humanas que apresentam – envolve sempre
a escolha de seres que colaborem na construção do enredo. Ou seja, é preciso
que o ser escolhido tenha alguma característica que contribua para o
desenvolvimento da ação da narrativa.
No caso da
fábula A rosa e a borboleta, por exemplo, o enredo se constrói em torno de uma
situação que envolve amor, ciúme e fidelidade (próprios da natureza e
comportamento humanos). Para desenvolver este enredo o fabulista escolhe a
borboleta – concorrendo com outros insetos que polinizam as flores em geral – e
a rosa – que como uma flor é polinizada por vários insetos. Como se vê, ambos
os personagens servem perfeitamente bem ao enredo da fábula: aos seres que
figuram nesta fábula é naturalmente impossível exigir fidelidade, tal como a
concebemos.
Também na
fábula A cigarra e a Formiga, percebemos a escolha pertinente das personagens:
a formiga, conhecida como inseto que nunca pára que está sempre recolhendo
alimento para estocar e a cigarra, reconhecida pelo seu 'canto' contínuo: duas
características fundamentais para compor o enredo – enquanto uma trabalha a
outra canta – duas características que vão entrar em choque, gerando o
conflito.
Cabe
observar que a fábula mais óbvia – e, talvez, menos atraente em razão da
ausência do elemento mágico (os animais que falam, que têm sentimentos humanos)
– é a que apresenta como personagens seres humanos e os animais citados não são
personificados.
As
personagens destas fábulas poderiam ser outras desde que a escolha seja guiada
pelo critério comentado acima. Teríamos que nos perguntar: que outros seres
teriam
características semelhantes às das personagens?
características semelhantes às das personagens?
A cigarra e
a formiga e a borboleta e a rosa poderiam, ainda, ser substituídas por seres
humanos: no lugar da cigarra e da formiga, por exemplo, poderíamos ter um
lavrador e um cantor; no lugar da borboleta e da rosa poderíamos ter um casal
de namoradas infiéis ou dois amigos que se traem.
Na fábula O
menino que mentia – que já traz seres humanos como personagens –, poderíamos
pensar em substituí-los por animais. Neste caso, teríamos que pensar em um
animal que seja brincalhão, enganador – por exemplo, o macaco no lugar do
menino.
Os vizinhos
poderiam ser outros bichos quaisquer.
A CAUSA DA CHUVA
Millôr Fernandes
Não chovia
há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos.
Uns diziam
que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar.
Mas não
chegavam a uma conclusão.
– Chove só
quando a água cai do telhado do meu galinheiro – esclareceu a galinha.
– Ora, que
bobagem! – disse o sapo de dentro da lagoa. – Chove quando a água da lagoa
começa a borbulhar suas gotinhas.
– Como
assim? – disse a lebre. – Está visto que só chove quando as folhas das árvores
começam, a deixar cair às gotas d'água que têm dentro.
Nesse
momento começou a chover.
– Viram? –
gritou a galinha. – O telhado do meu galinheiro está pingando.
Isso é
chuva!
– Ora, não
vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? – disse o sapo.
– Mas, como
assim? – tornou a lebre. – Parecem cegos! Não vêem que a água cai das folhas
das árvores?
Moral: Todas
as opiniões estão erradas.
(In: Novas
Fábulas Fabulosas. Editora Desiderata, Rio de Janeiro, RJ. 2007)
Comentários
sobre algumas características da fábula A causa da chuva
Esta fábula
de Millôr Fernandes apresenta um enredo que começa construído segundo os
princípios da fábula: um conflito é estabelecido desde o início, a partir do
qual a fábula se desenvolve. Entretanto, surpreende ao suspender o enredo no
conflito – as personagens continuam com opiniões diferentes sobre a chuva – e
introduzir a moral que interpreta a situação de uma perspectiva inesperada:
todas as personagens estão erradas! Não há vencedores na competição pela
explicação correta sobre a chuva.
O texto é um
excelente exemplo do papel que a moral passa a assumir na fábula em verso e que
as novas versões da fábula em prosa também incorporaram. A explicitação da
moral é parte constitutiva da construção do sentido do texto. Neste caso, por
meio da moral, o autor introduz uma informação inesperada que se contrapõe ao
que comumente se espera das morais das fábulas que sempre condensam um
ensinamento ou uma crítica a partir das ações de uma das personagens, como
acontece nas fábulas anteriores. Aqui, o fabulista assume o seu próprio ponto
vista ao interpretar a situação apresentada e cria, ele mesmo, um desfecho para
a narrativa, produzindo humor.
Caso o
fabulista quisesse fazer uso da moral de acordo com o esperado – assumindo a
perspectiva moral a partir do comportamento de uma das personagens –,
poderíamos ter algo como: Há várias interpretações para um mesmo problema ou
Cada um vê a vida de seu ponto de vista ou, ainda, Todo mundo tem uma opinião
sobre as coisas, mas não significa que estejam certos ou Cada um tem a sua
verdade etc.
Vale a pena
comparar a moral desta fábula de Millôr com a de Esopo – O leão e o ratinho.
Nesta última, observamos que a moral reassume um tom mais sério e apresenta um
ensinamento moral baseado na atitude positiva do leão (de complacência em
relação ao ratinho) que é recompensada no final.
O LEÃO E O
RATINHO
Um leão,
cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra boa de uma árvore.
Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.
Todos
conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da pata.
Tanto o
ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse
embora. Algum tempo depois o leão ficou preso na rede de uns caçadores. Não
conseguindo se soltar, fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.
Nisso apareceu o ratinho, e com seus dentes afiados roeu as cordas e soltou o
leão.
Moral: Uma
boa ação ganha outra.
(in: Fábulas
de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 61. Trad. Heloisa Jahn)
Comentários
sobre as diferentes morais da fábula
O leão e o
ratinho
As três
morais formuladas a partir do enredo desta fábula são resultado de diferentes
autores em contextos sócio-históricos que definem, inclusive, novos interesses
e novas finalidades para as fábulas.
Enquanto na versão de Esopo o comportamento do leão é exaltado e premiado
(quem faz uma boa ação é compensado), na versão de La Fontaine o que entra em foco é a oposição entre a força bruta (do feroz leão) e a discrição do trabalho contínuo (do frágil rato) para conseguir o que se quer. Em La Fontaine o que se destaca é o comportamento do ratinho, considerado positivo, enquanto o comportamento do Leão – que ao ver-se preso ruge, irritado – chega a ser ridicularizado.
Enquanto em Esopo vislumbramos um ensinamento de cunho moral religioso, em La Fontaine temos a crítica ao comportamento escandaloso do leão e o reconhecimento do esforço do ratinho.
Quanto à última moral – Todas as funções dentro de uma empresa têm seu valor, por mais simples que possam parecer – faz referência a um contexto muito específico.
Enquanto na versão de Esopo o comportamento do leão é exaltado e premiado
(quem faz uma boa ação é compensado), na versão de La Fontaine o que entra em foco é a oposição entre a força bruta (do feroz leão) e a discrição do trabalho contínuo (do frágil rato) para conseguir o que se quer. Em La Fontaine o que se destaca é o comportamento do ratinho, considerado positivo, enquanto o comportamento do Leão – que ao ver-se preso ruge, irritado – chega a ser ridicularizado.
Enquanto em Esopo vislumbramos um ensinamento de cunho moral religioso, em La Fontaine temos a crítica ao comportamento escandaloso do leão e o reconhecimento do esforço do ratinho.
Quanto à última moral – Todas as funções dentro de uma empresa têm seu valor, por mais simples que possam parecer – faz referência a um contexto muito específico.
O livro de
que foi retirada (Fábulas de Esopo para executivos), indica o uso da fábula num
contexto de trabalho, e define uma finalidade particular: usá-las para discutir
temas relacionados ao mundo do trabalho, tais como motivação de equipe,
criatividade nos negócios, satisfação do cliente, como o próprio editor do
livro declara. A título de informação complementar, é interessante notar que se
comparamos a versão da fábula (e não apenas da moral) de La Fontaine com a de Alexandre
Rangel, é possível perceber que toda a fábula deste é uma adaptação mais
próxima à versão de
La Fontaine.
A título de ilustração, veja como La Fontaine inicia a fábula:
Vale a pena
espalhar razões de gratidão:
Os pequenos
também têm utilidade.
Duas fábulas
mostrarão
Que eu não
estou falando senão a verdade.
Vê-se que é
possível aproximar o sentido do segundo verso (que não deixa de ser também uma
moral!!!) com a moral proposta por A. Rangel: Todas as funções dentro de uma
empresa têm seu valor, por mais simples que possam parecer.
Atenção,
professor: embora trataremos mais adiante dos procedimentos que serão
comentados agora, caso você avalie pertinente, seria possível propor a leitura
da versão em verso, de La Fontaine (ver indicação bibliográfica) para chamar a
atenção do aluno para os procedimentos usados pelo fabulista que diferem das
versões de Esopo.
Na versão de
La Fontaine: a voz do fabulista se apresenta ao leitor, em 1ª pessoa,
estabelecendo um diálogo com o leitor, anunciando-lhe duas fábulas (O leão e o
Rato e A pomba e a formiga) e demonstrando previamente o tema que prenuncia a
moral – os pequenos também têm utilidade.
Em suma,
vemos em La Fontaine dois recursos inovadores: o fabulista se apresentando como
o narrador das histórias (e não como uma voz institucionalizada), se
aproximando mais do leitor e ao fazer isso, antecipa a moral que volta a ser
reapresentada ao final da fábula.
Comentários
sobre as situações apresentadas como enredos das fábulas e sobre as personagens
Se
considerarmos que os animais ou outros seres inanimados que aparecem nas
fábulas são quase sempre personificados – apresentam ações, sentimentos e
comportamentos humanos –, fica evidente que embora o enredo apresente uma
situação próxima da vida real destes seres, esta situação tem especificidades
da vida humana. Tomando como exemplo a fábula do leão e do rato, a situação do
rato poder ser devorado pelo leão e, deste, poder se ver preso em uma rede é
totalmente plausível (verossímil) no mundo dos animais. Entretanto, se
considerarmos o momento da generosidade do leão que permite ao rato viver e o
episódio de generosidade e heroísmo do rato que salva o leão da rede, nos
deparamos com sentimentos e comportamentos possíveis e próprios de seres
humanos. Esta é uma razão porque as situações das fábulas podem ser transpostas
para situações humanas.
Outro
aspecto importante de ser observado refere-se à seleção dos animais que serão
personagens das fábulas. É importante observar que embora tenhamos alguns
animais que simbolizem aspectos de caráter ou de comportamento humanos de forma
mais permanente (por exemplo, a raposa como sempre astuta, rápida,
inteligente), neste texto é possível observar sobre o a escolha dos animais que
serão personagens de uma fábula: essa escolha está muito mais associada ao que
ele pode oferecer à ação da narrativa (ao enredo) do que propriamente ao que
ele simboliza em termos de características humanas, conforme já comentado na
abertura do projeto e também nos comentários à fábula A borboleta e a rosa.
A RAPOSA E A
CEGONHA – 1ª versão
A Comadre
Raposa, apesar de mesquinha, tinha lá seus momentos de delicadeza.
Num dos
tais, convidou a cegonha, vizinha, a partilhar da sua mesa.
Constava a
refeição de um caldo muito ralo, servido em prato raso. Não pôde prová-lo a
cegonha, por causa do bico comprido.
A raposa, em
segundos, havia lambido todo o caldo. Querendo desforrar-se da raposa, a
comadre um dia a convidou para um jantar. Ela aceitou com deleite do qual não
fez disfarce.
Na hora
marcada, chegou à casa da anfitriã.
Esta, com
caprichoso afã, pedindo desculpas pelo transtorno, solicitou ajuda pra tirar do
forno a carne, cujo cheiro enchia o ar.
A raposa,
gulosa, espiou o cozido: era carne moída – e a fome a apertar!
Eis que a
cegonha vira, num vaso comprido e de gargalo fino à beça, todo o conteúdo da
travessa!
O bico de
uma entrava facilmente, mas o focinho da outra era bem diferente; assim, rabo
entre as pernas, a correr, foi-se a raposa. Espertalhão, atente: quem hoje
planta, amanhã vai
(in: Fábulas
de La Fontaine. Villa Rica Editoras Reunidas Limitada. 1992, vol. I, pp. 117-8.
Trad. Milton Amado e Eugênio Amado)
A RAPOSA E A CEGONHA – 2ª versão
A RAPOSA E A CEGONHA – 2ª versão
Um dia a
raposa convidou a cegonha para jantar. Querendo pregar uma peça na outra,
serviu sopa num prato raso. Claro que a raposa tomou toda a sua sopa sem o
menor problema, mas a pobre da cegonha com seu bico comprido mal pôde tomar uma
gota. O resultado foi que a cegonha voltou para casa morrendo de fome. A raposa
fingiu que estava preocupada, perguntou se a sopa não estava do gosto da
cegonha, mas a cegonha não disse nada. Quando foi embora, agradeceu muito a
gentileza da raposa e disse que fazia questão de retribuir o jantar no dia
seguinte.
Assim que
chegou, a raposa se sentou lambendo os beiços de fome, curiosa para ver as
delícias que a outra ia servir. O jantar veio para a mesa numa jarra alta, de
gargalo estreito, onde a cegonha podia beber sem o menor problema. A raposa,
amoladíssima, só teve uma saída: lamber as gotinhas de sopa que escorriam pelo lado
de fora da jarra. Ela aprendeu muito bem a lição. Enquanto ia andando para
casa, faminta, pensava: "Não posso reclamar da cegonha. Ela me tratou mal,
mas fui grosseira com ela primeiro".
Moral: Trate
os outros tal como deseja ser tratado.
(in: Fábulas
de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 36. Trad. Heloisa Jahn)
A RAPOSA E O CORVO
Um dia um corvo estava pousado no galho de uma árvore com um pedaço de queijo no bico quando passou uma raposa. Vendo o corvo com o queijo, a raposa logo começou a matutar um jeito de se apoderar do queijo. Com esta idéia na cabeça, foi para debaixo da árvore, olhou para cima e disse:
— Que pássaro magnífico avisto nessa árvore! Que beleza estonteante!
Que cores maravilhosas! Será que ele tem uma voz suave para combinar com tanta beleza! Se tiver, não há dúvida de que deve ser proclamado rei dos pássaros.
Ouvindo aquilo o corvo ficou que era pura vaidade. Para mostrar à raposa que sabia cantar, abriu o bico e soltou um sonoro "Cróóó!". O queijo veio abaixo, claro, e a raposa abocanhou ligeiro aquela delícia, dizendo:
— Olhe, meu senhor, estou vendo que voz o senhor tem. O que não tem é inteligência!
Moral: cuidado com quem muito elogia.
(in: Fábulas de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 61. Trad. Heloisa Jahn)
A RAPOSA E O CORVO
Um dia um corvo estava pousado no galho de uma árvore com um pedaço de queijo no bico quando passou uma raposa. Vendo o corvo com o queijo, a raposa logo começou a matutar um jeito de se apoderar do queijo. Com esta idéia na cabeça, foi para debaixo da árvore, olhou para cima e disse:
— Que pássaro magnífico avisto nessa árvore! Que beleza estonteante!
Que cores maravilhosas! Será que ele tem uma voz suave para combinar com tanta beleza! Se tiver, não há dúvida de que deve ser proclamado rei dos pássaros.
Ouvindo aquilo o corvo ficou que era pura vaidade. Para mostrar à raposa que sabia cantar, abriu o bico e soltou um sonoro "Cróóó!". O queijo veio abaixo, claro, e a raposa abocanhou ligeiro aquela delícia, dizendo:
— Olhe, meu senhor, estou vendo que voz o senhor tem. O que não tem é inteligência!
Moral: cuidado com quem muito elogia.
(in: Fábulas de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 61. Trad. Heloisa Jahn)
Comentários
sobre algumas características da fábula "A RAPOSA E CORVO"
Embora o
corvo seja considerado um animal astuto e inteligente, nesta fábula ele aparece
sendo enganado pela raposa. Mais astuta, ela aposta no orgulho e na vaidade do
pássaro superando a sua inteligência: a raposa o elogia, destacando suas
qualidades e sugerindo outras. E o corvo, dominado pelo orgulho e pela vaidade,
cai na armadilha e deixa cair o queijo do bico que é devorado pela raposa.
Neste texto
é possível observar, mais uma vez, o uso e a escolha dos animais que serão
personagens de uma fábula associada ao que ele pode oferecer à ação da
narrativa: o corvo teria uma vantagem sobre a raposa – como voa, está no alto
de uma árvore e esta não teria como alcançá-lo para brigar pelo queijo.
Quanto à
moral, constatamos pelo menos duas, presentes no texto: temos a moral
explicitada no final da fábula – que atenta para o cuidado que devemos ter com
quem nos elogia em demasia, para não cairmos em armadilhas; e outra moral não
explícita, mas perfeitamente subentendida que nos alerta sobre os perigos de
nos deixarmos dominar pela vaidade e pelo orgulho.
E assim
podemos proceder em busca de várias 'morais' em qualquer fábula, dependendo da
situação em que a queremos usar e do enfoque que desejamos dar (nosso
objetivo). Este aspecto, em especial, será mais explorado em atividades
posteriores.
A LEBRE E A
TARTARUGA – 1ª VERSÃO
A lebre
vivia a se gabar de que era o mais veloz de todos os animais. Até o dia em que
encontrou a tartaruga. – Eu tenho certeza de que, se apostarmos uma corrida,
serei a vencedora – desafiou a tartaruga.
A lebre caiu
na gargalhada. – Uma corrida? Eu e você? Essa é boa!
– Por acaso
você está com medo de perder? – perguntou a tartaruga.
– É mais
fácil um leão cacarejar do que eu perder uma corrida para você – respondeu a
lebre.
No dia
seguinte a raposa foi escolhida para ser a juíza da prova. Bastou dar o sinal
da largada para a lebre disparar na frente a toda velocidade. A tartaruga não
se abalou e continuou na disputa. A lebre estava tão certa da vitória que
resolveu tirar uma soneca.
"Se
aquela molenga passar na minha frente, é só correr um pouco que eu a
ultrapasso" – pensou.
A lebre
dormiu tanto que não percebeu quando a tartaruga, em sua marcha vagarosa e constante,
passou. Quando acordou, continuou a correr com ares de vencedora. Mas, para sua
surpresa, a tartaruga, que não descansara um só minuto, cruzou a linha de
chegada em primeiro lugar.
Desse dia em
diante, a lebre tornou-se o alvo das chacotas da floresta.
Quando dizia
que era o animal mais veloz, todos lembravam-na de uma certa tartaruga...
Moral: Quem
segue devagar e com constância sempre chega na frente.
(Jean de La
Fontaine. In: Fábulas de Esopo. Editora Scipione, São Paulo. 2000. Adaptação:
Lúcia Tulchinski)
A TARTARUGA E O COELHO – 2ª versão
Dilea Frate
A TARTARUGA E O COELHO – 2ª versão
Dilea Frate
A tartaruga
ganhou do coelho na corrida e ficou rica. Um dia, ela se encontrou com o pardal
e começou a rolar uma discussão sobre dinheiro: "Eu sou rica, carrego
muito dinheiro no meu casco-cofre, e você?". O pardal respondeu: "Eu
sou pobre, não tenho casco nem cofre, mas sou leve e posso voar". A
tartaruga respondeu: "Se quiser, posso comprar uma asa igual à sua. O
dinheiro consegue tudo". E foi o que ela fez. Chegou o dia do vôo. Com as
asas postiças, a tartaruga ajeitou o casco-cofre, subiu num precipício enorme
e... (assovio)... Começou a cair feito uma pedra. As asas não faziam efeito!
Aí, ela teve a idéia de jogar o casco-cofre pelos ares e, como num passe de
mágica, as asas começaram a funcionar!... Que alívio! E que alegria poder voar
como um passarinho! Quando chegou à terra, a tartaruga estava pobre, mas feliz.
Na hora de voltar para casa, o coelho apareceu e emprestou o dinheiro do táxi.
(In:
Histórias para Acordar. Companhia das Letrinhas. SP. 1996, p. 59)
Comentários
sobre as fábulas
Na clássica
fábula A lebre e a tartaruga, novamente observamos a escolha de dois animais
com características importantíssimas para o desenvolvimento do enredo:
Uma corrida
vai acontecer e para vencer é preciso ser o mais rápido. Para estabelecer o
conflito as personagens escolhidas são a lebre, animal ligeiro e a tartaruga,
animal que se movimenta com vagar.
Temos aqui
uma competição entre o mais rápido e o mais lento – o que, em princípio,
indicaria a vitória da lebre. Entretanto, movida pela autoconfiança exagerada e
acreditando que venceria sem qualquer esforço, torna-se descuidada e se distrai
do seu objetivo, quando resolve dormir. Neste momento de 'fraqueza' acaba
possibilitando à tartaruga, em desvantagem natural, conquistar a vitória.
Nesta fábula
quem vence é quem é o 'mais fraco' porque possui uma outra qualidade que o
torna superior à lebre, neste contexto. A tartaruga não se desvia da meta e
assim a sua fraqueza é convertida em força, pelo seu compromisso com a corrida.
Quando Dilea
Frate propõe uma nova fábula sobre a lebre e a tartaruga, a referência continua
sendo a fábula de Esopo. Mas, na primeira frase percebemos que não se trata da
mesma fábula, mas de uma continuação dela. A autora avança, apresentando um
novo episódio na vida da tartaruga, em que a lebre passa a ser simples
coadjuvante e um novo personagem aparece para ajudar na construção de um outro
conflito.
Agora, a
tartaruga é rica e por isso crê que é possível conquistar qualquer coisa – ela
passa a representar o lado forte! Do outro lado, temos o pardal – que não tem
dinheiro, mas sabe voar e valoriza esta sua característica – ele não tem
dinheiro, mas pode voar, pode fazer algo que a tartaruga, rica, não pode! Veja
que o pardal não se sente intimidado ou inferior em relação à tartaruga. Muito
pelo contrário. Esta situação entre as personagens contribui para não haver uma
competição entre eles, diferente da outra fábula.
O conflito
passa a ser apenas da tartaruga. A 'tensão' do enredo se concentra não numa
disputa externa, mas num conflito pessoal: movida pelo desejo de ter o que não
possui – ela deseja voar e não é capaz – gasta tudo o que tem na tentativa de
realizar este desejo.
A tartaruga
supera o seu conflito. Consegue voar! E mesmo sem dinheiro, fica feliz porque
foi ele que possibilitou a realização do seu desejo. Como se percebe, não houve
uma competição – o pardal nada ganhou e nada perdeu com a pobreza da tartaruga.
Ao contrário, ele mostrou a ela um outro valor, além do dinheiro, pelo qual no
final das contas, valeu a pena à tartaruga, perder toda sua riqueza.
E a lebre –
agora na versão brasileira transformada em coelho – a perdedora da outra
fábula, acaba emprestando dinheiro para a tartaruga.
Nesta fábula
percebe-se outro movimento na construção do enredo que eliminou do conflito o
caráter competitivo entre forças opostas (bem e mal, forte e fraco, feroz e
manso...) – um forte argumento nas fábulas clássicas. Esta ausência de
oposições pode ser interessante para questioná-las e relativizá-las.
Podemos
observar, ainda, que a tartaruga não deixa de se manter coerente em relação à
fábula clássica: ela perseverou em seu objetivo, sem se importar com o custo.
A perda,
neste caso, não foi lamentada pela personagem que termina a fábula feliz porque
ganhou algo.
Poderíamos
depreender alguns valores desta fábula de Dilea Frate, tais como: O dinheiro
deve ser um meio para se ter o que deseja e não um fim em si mesmo; Há coisas
mais valiosas no mundo do que o dinheiro; O dinheiro não traz felicidade, mas
ajuda a consegui-la etc. – que são valores mais contemporâneos.
O LOBO E O
CORDEIRO
A razão do mais forte é a que vence no final
(nem sempre o Bem derrota o Mal).
Um cordeiro a sede matava nas águas limpas de um regato.
Eis que se avista um lobo que por lá passava e lhe diz irritado: – "Que ousadia a tua, de turvar, em pleno dia, a água que bebo! Ei de castigar-te!"
– "Majestade, permiti-me um aparte – diz o cordeiro.
– "Vede que estou matando a sede água a jusante, bem uns vinte passos adiante de onde vos encontrais. Assim, por conseguinte, para mim seria impossível cometer tão grosseiro acinte."
– "Mas turvas, e ainda mais horrível foi que falaste mal de mim no ano passado."
– "Mas como poderia" – pergunta assustado o cordeiro –, "se eu não era nascido?"
– "Ah, não? Então deve ter sido teu irmão." – "Peço-vos perdão mais uma vez, mas deve ser engano, pois eu não tenho mano."
– "Então algum parente: teus tios, teus pais...
Cordeiros, cães, pastores, vós não me poupais; por isso, hei de vingar-me" – e o leva até o recesso da mata, onde o esquarteja e come sem processo.
(in: Fábulas de La Fontaine. Villa Rica Editoras Reunidas Limitada. 1992, vol. I, pp. 97-9. Trad. Milton Amado e Eugênio Amado)
O CACHORRO E SUA SOMBRA
Um cachorro com um pedaço de carne roubada na boca estava atravessando um rio a caminho de casa quando viu sua sombra refletida na água. Pensando que estava vendo outro cachorro com outro pedaço de carne, ele abocanhou o reflexo para se apropriar da outra carne, mas quando abriu a boca deixou cair no rio o pedaço que já era dele.
Moral: A cobiça não leva a nada
(in: Fábulas de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 72. Trad. Heloisa Jahn)
AS FRUTAS DO JABUTI
O jabuti, pequenino, vagaroso, foi perguntar ao macaco o que deveria fazer para colher frutas no tempo da safra, ele que não pode subir em árvores. O macaco informou:
– É simples. Vá para debaixo da árvore que estiver carregada e espere um dia de vento. Quando a ventania sacudir os galhos as frutas caem e você aproveita.
Está entendido?
Num dia em que o vento soprava continuamente, o jabuti pôs-se por baixo do que ele julgava árvore e ficou esperando a queda dos balouçantes frutos.
Veio o macaco e perguntou, surpreendido:
– Que está você fazendo aqui?
– Esperando que o vento derrube aquelas duas frutas...
– Não são frutas, seu idiota. São os escrotos do touro!
– Ai! Ai! Nem tudo que balança cai...
(fábula popular, narrada pelo poeta Jorge Fernandes [1887-1953] in: Grande Fabulário de Portugal e do Brasil. Vieira de Almeida e Luís da Câmara Cascudo.
Edições Artísticas Fólio, Lisboa. 1962)
A razão do mais forte é a que vence no final
(nem sempre o Bem derrota o Mal).
Um cordeiro a sede matava nas águas limpas de um regato.
Eis que se avista um lobo que por lá passava e lhe diz irritado: – "Que ousadia a tua, de turvar, em pleno dia, a água que bebo! Ei de castigar-te!"
– "Majestade, permiti-me um aparte – diz o cordeiro.
– "Vede que estou matando a sede água a jusante, bem uns vinte passos adiante de onde vos encontrais. Assim, por conseguinte, para mim seria impossível cometer tão grosseiro acinte."
– "Mas turvas, e ainda mais horrível foi que falaste mal de mim no ano passado."
– "Mas como poderia" – pergunta assustado o cordeiro –, "se eu não era nascido?"
– "Ah, não? Então deve ter sido teu irmão." – "Peço-vos perdão mais uma vez, mas deve ser engano, pois eu não tenho mano."
– "Então algum parente: teus tios, teus pais...
Cordeiros, cães, pastores, vós não me poupais; por isso, hei de vingar-me" – e o leva até o recesso da mata, onde o esquarteja e come sem processo.
(in: Fábulas de La Fontaine. Villa Rica Editoras Reunidas Limitada. 1992, vol. I, pp. 97-9. Trad. Milton Amado e Eugênio Amado)
O CACHORRO E SUA SOMBRA
Um cachorro com um pedaço de carne roubada na boca estava atravessando um rio a caminho de casa quando viu sua sombra refletida na água. Pensando que estava vendo outro cachorro com outro pedaço de carne, ele abocanhou o reflexo para se apropriar da outra carne, mas quando abriu a boca deixou cair no rio o pedaço que já era dele.
Moral: A cobiça não leva a nada
(in: Fábulas de Esopo. Companhia das Letrinhas. 1990, p. 72. Trad. Heloisa Jahn)
AS FRUTAS DO JABUTI
O jabuti, pequenino, vagaroso, foi perguntar ao macaco o que deveria fazer para colher frutas no tempo da safra, ele que não pode subir em árvores. O macaco informou:
– É simples. Vá para debaixo da árvore que estiver carregada e espere um dia de vento. Quando a ventania sacudir os galhos as frutas caem e você aproveita.
Está entendido?
Num dia em que o vento soprava continuamente, o jabuti pôs-se por baixo do que ele julgava árvore e ficou esperando a queda dos balouçantes frutos.
Veio o macaco e perguntou, surpreendido:
– Que está você fazendo aqui?
– Esperando que o vento derrube aquelas duas frutas...
– Não são frutas, seu idiota. São os escrotos do touro!
– Ai! Ai! Nem tudo que balança cai...
(fábula popular, narrada pelo poeta Jorge Fernandes [1887-1953] in: Grande Fabulário de Portugal e do Brasil. Vieira de Almeida e Luís da Câmara Cascudo.
Edições Artísticas Fólio, Lisboa. 1962)
REFERÊNCIAS
São Paulo
(SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Guia
de planejamento e orientações didáticas para o professor do 3º ano do Ciclo 1 /
Secretaria Municipal de Educação. – São Paulo: SME / DOT, 2008.
BRASIL.
Ministério da Educação. Língua portuguesa. Brasília: SEF/MEC, 1996. (Série
Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Fundamental 1ª à 4ª série.)
BRASIL.
Ministrio da Educação. Língua portuguesa. Brasília: SEF/MEC, 1997. (Série
Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Fundamental 1ª à 4ª série.)
BRASIL.
Ministério da Educação. Programa de formação de professores alfabetizadores
(Profa). Brasília: SEF/ MEC, 2001.
LERNER,
Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto
Alegre: Artmed, 2002, pp. 74-102.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2008.
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2008.
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