O gato, o galo e o ratinho
O gato, o galo e o ratinho
Um ratinho vivia num buraco com sua mãe. Depois de sair sozinho pela primeira vez, contou a ela:
- Mãe, você não imagina os bichos estranhos que encontrei!
Um era bonito e delicado, tinha pêlo muito macio e um rabo elegante, um rabo que se movia formando ondas.
O outro era um monstro horrível.
No alto da cabeça e debaixo do queixo ele tinha pedaços de carne crua, que balançavam quando ele andava.
De repente os lados do corpo dele se sacudiram e ele deu um grito apavorante.
Fiquei com tanto medo que fugi correndo, bem na hora que ia conversar um pouco com o simpático.
- Ah!, Meu filho! – respondeu a mãe.
– Esse seu monstro era uma ave inofensiva; o outro era um gato feroz, que num segundo teria te devorado. (Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1.994. p. 46)
1) O moral da historia poderia ser
(a) Jamais engane alguém. (c) Jamais faça mal alguém.
(b) Jamais confie nas aparências (d) Jamais seja amigo dos animais.
ERA UMA VEZ...
Sabia que ter contos de fadas estimula a imaginação e ainda pode nos afastar da violência?
Bela Adormecida, Branca de Neve, A Bela e a Fera...Esses e outros contos de fadas são nossos conhecidos. Mas você sabia que ler histórias como essas, além de fazer a gente sonhar, pode nos afastar da violência? Pois é. Uma pesquisa divulgada recentemente sugere que quem costuma Le contos infantis dá menos atenção aos jogos eletrônicos – alguns muitos violentos -, solta a imaginação com mais facilidade e, como ouve e lê mais histórias, tem respostas na ponta da língua sobre vários assuntos. “O contato com os livros de literatura infantil, especialmente conto de fadas, permite às crianças falar, ler e se expressar de maneira harmoniosa, além disso, ela é capaz de analisar e desenvolver certos assuntos com mais facilidade”.
Depois dessa pesquisa, quem gosta de um bom conto de fadas vai, com certeza, querer ler muito mais. Já os que dizem que não gostam, podem se animar e abrir um bom livro. Afinal, quem não gosta de viajar de graça em tapetes mágicos, carruagens ou até mesmo num bom cavalo alazão? Tudo isso é permitido se você soltar a imaginação e experimentar a magia dos contos de fadas.
Fonte: ABREU, Cathia. Era uma vez...In: Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro, 26 set. 2055 Fragmento.
Sabia que ter contos de fadas estimula a imaginação e ainda pode nos afastar da violência?
Bela Adormecida, Branca de Neve, A Bela e a Fera...Esses e outros contos de fadas são nossos conhecidos. Mas você sabia que ler histórias como essas, além de fazer a gente sonhar, pode nos afastar da violência? Pois é. Uma pesquisa divulgada recentemente sugere que quem costuma Le contos infantis dá menos atenção aos jogos eletrônicos – alguns muitos violentos -, solta a imaginação com mais facilidade e, como ouve e lê mais histórias, tem respostas na ponta da língua sobre vários assuntos. “O contato com os livros de literatura infantil, especialmente conto de fadas, permite às crianças falar, ler e se expressar de maneira harmoniosa, além disso, ela é capaz de analisar e desenvolver certos assuntos com mais facilidade”.
Depois dessa pesquisa, quem gosta de um bom conto de fadas vai, com certeza, querer ler muito mais. Já os que dizem que não gostam, podem se animar e abrir um bom livro. Afinal, quem não gosta de viajar de graça em tapetes mágicos, carruagens ou até mesmo num bom cavalo alazão? Tudo isso é permitido se você soltar a imaginação e experimentar a magia dos contos de fadas.
Fonte: ABREU, Cathia. Era uma vez...In: Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro, 26 set. 2055 Fragmento.
De como Malasartes vendeu um passarinho
De como Malasartes vendeu um passarinho
Pedro Malasartes
Malasartes ia viajando quando lhe deu vontade dedar de corpo. Agachou-se no meio da estrada e ali ficou. Nisto avistou um senhor que andava caçando. Malasartes tirou o chapéu e colocou-o sobre o que havia feito. O senhor quando se aproximou perguntou-lhe:
- Que está fazendo ai a segurar nesse chapéu com tanto cuidado?
- E um lindo passarinho que apanhei debaixo do chapéu. Canta que é um gosto. E eu não quero perdê-lo. Estou à espera de alguém que queira tomar conta dele, enquanto vou buscar uma gaiola.
O homem ficou muito curioso de ver o canário pois era grande apreciador de pássaros cantadores.
Propôs comprá-lo, mas com a condição de Malasartes ir buscar a gaiola.
Pedro, depois de muitas negaças fechou o negócio por bom dinheiro deixou o tolo a tomar conta, e foi buscar a gaiola. O tempo ia passando e Malasartes não voltava. Então o homem, já impaciente tomou o partido de apanhar o pássaro com a mão e levá-lo para casa. Com toda a cautela, meteu a mão debaixo do chapéu e, quando pensou que pegava o canário, agarrou uma coisa muito diferente.
Deu os pregos, soltou pragas enquanto Pedro já estava muito distante e se divertindo à custa do trouxa...
Pedro Malasarte
O ANIVERSÁRIO MALASARTEEra aniversário de Pedro Malasarte. Ele adorava uma festa, mas estava sem dinheiro para festejar o aniversário. Resolveu então, visitar o primo que tinha muito dinheiro e, certamente, lhe ofereceria alguma coisa, apesar de ser um tanto pão-duro. Chegando a fazenda do primo, este o recebeu com muito entusiasmado, não pela visita, mas por economizar assim a viagem a casa do aniversariante. Entraram e o primo foi logo oferecendo:
— Ó, primo Pedro! Tenho aqui uma broa, fresquinha, que sinhá assou. É tanta que vai durar a semana inteira.
— Broa de milho, primo?
— É sim, quer um pedaço?
— Não, primo - agradeceu Malasarte - basta um cafezinho.
— Mas é seu aniversário primo, eu reconheço que sou um pão-duro, mas um pouco de cortesia ao primo não faz mal! Se quiser é só pedir.
Malasarte novamente agradeceu, porém continuou só com o café. Continuaram proseando e, em meio à prosa, o primo lhe diz:
— Olha Pedro, ontem mandei matar aquele leitão capado que eu vinha engordando. Temos uma porção de torresmo e toucinho frescos que mandei preparar. Quer um pouco, pois tenho bastante?
— Não me diga isso! Tem muito mesmo?
— É o que lhe digo! Tenho bastante, quer?
— Nada primo, pode deixar, basta um cafezinho.
— Seja dito..., mas quando quiser é só pedir.
Continuaram proseando mais e mais, até que o primo fez nova oferta:
— Pedro, faz tempo que guardo umas garrafas de cachaça. Vamos tomar uns goles para comemorar?
— E é dá boa?
— Da melhor.
— Não primo, para mim basta um cafezinho.
— Não se faça de rogado que você tá em casa. Quando ficar com vontade é só pedir.
E assim, o primo de Pedro Malasarte, querendo lhe agradar pela passagem do aniversário e ao mesmo tempo percebendo que Malasarte não estava querendo lhe dar despesa, foi oferecendo um pouco de cada coisa que tinha na despensa. Malasarte ouvia e recusava; contentando-se só com o cafezinho. E continuaram nessa toada até que ouviram uma tímida batida na porta. O primo de Malasarte se levantou, abriu a porta epegou de espiar; do lado de fora havia uma verdadeira multidão de conhecidos. O primeiro foi logo falando:
— Olha, desculpa a intrusão, mas ficamos sabendo que Pedro Malasarte estava por aqui e passamos somente para dar lhe dar os parabéns.
Desconfiado, mas sem ter como recusar, o primo convidou a todos para entrar, mas foi logo avisando:
— Meus amigos! Gostaria de lhes oferecer alguma coisa, porém... quase nada tenho na despensa...
Malasarte, deixando de lado o cafezinho e interrompendo o primo, falou:
— Primo, sabe aquele torresmo, aquele toucinho, aquela broa, a cachaça, a suco de laranja, a rosca, a linguiça, e tudo mais que você me ofereceu? Agora eu até quero um pouquinho, que já me cansei desse cafezinho que tomava pra modo de esperar o pessoal chegar...
Vosmecê calcule: o primo ficou aturdido, tonteou... parecia inté que estava para dar a alma a Deus; entretanto, uma vez que o oferecido estava em vigor, acabou bancando toda a festa. Pois foi assim que Pedro Malasarte teve a sua festança. ®Sérgio.
O SEGREDO DO ALFAIATE
O SEGREDO DO ALFAIATE
Pedro Malasartes queria pregar uma peça no alfaiate Jeroboão.
Disse então que um velho alfaiate contara-lhe um segredo que tornaria rico e feliz o alfaiate que o conhecesse. Pedro disse ainda que só poderia contar esse segredo em público. Jeroboão, mais que depressa, enviou cartas para todos os alfaiates e costureiras do país, convidando-os para se reunirem em sua cidade. Dentro em pouco não havia mais lugar em nenhuma hospedaria da cidade. As casas dos alfaiates e costureiras locais também estavam repletas. No grande dia, armaram-se barraquinhas na praça principal da cidade e todos comeram e beberam por conta do segredo que os tornaria ricos e felizes. No meio da praça havia um alto palanque e, por volta das seis horas da tarde, quando o dia já ia morrendo e começavam a cair as primeiras sombras da noite, ali subiram Pedro Malasartes e Jeroboão. Foram longamente aplaudidos pela grande multidão que enchia a praça, de barriga cheia e a cabeça razoavelmente confusa pelo vinho. Então Pedro Malasartes tomou a palavra: - Meus caros amigos, que manejam com tanta habilidade a tesoura e o dedal, a agulha e a linha, mestres do carretel! A estas palavras seguiram-se longos e entusiasmados aplausos. - Não estou aqui para lhes ensinar como se manejam essas coisas, pois estão fartos de saber - continuou Pedro Malasartes, quando as palmas cessaram. - Meu caro amigo Jeroboão, aqui no meu lado, mandou-lhes as amáveis cartinhas que receberam convidando-os a se reunirem aqui, porque temos um maravilhoso segredo a lhes revelar. É um segredo ouvido da boca de um homem na hora da morte, e que lhes será muito útil daqui por diante.
Fez-se silêncio total na praça.
- Sabem o que ele me disse? - prosseguiu Pedro Malasartes - Vou-lhes repetir com suas próprias palavras: "Nunca se esqueçam de dar um nó na ponta da linha depois de a ter enfiado na agulha."
SEIS AVENTURAS DE PEDRO MALAZARTE Luís da Câmara Cascudo
SEIS AVENTURAS DE PEDRO MALAZARTE
Luís da Câmara CascudoI Um casal de velhos possuía dois filhos homens, João e Pedro, este tão astucioso e vadio que o chamavam Pedro Malazarte. Como era gente pobre, o filho mais velho saiu para ganhar a vida e empregou-se numa fazenda onde o proprietário era rico e cheio de velhacarias, não pagando aos empregados porque fazia contratos impossíveis de cumprimento. João trabalhou quase um ano e voltou quase morto. O patrão tirara-lhe uma tira de couro desde o pescoço até o fim das costas e nada mais lhe dera. Pedro ficou furioso e saiu para vingar o irmão. Procurou o mesmo fazendeiro e pediu trabalho. O fazendeiro disse que o empregava com duas condições; não enjeitar serviços e do que primeiro ficasse zangado tirava o outro uma tira de couro. Pedro Malazarte aceitou. No primeiro dia foi trabalhar numa plantação de milho. O patrão mandou que uma cachorrinha o acompanhasse. Só podia voltar quando a cachorra voltasse para casa. Pedro meteu o braço no serviço até meio-dia. A cachorrinha deitada na sombra nem se mexia. Vendo que era combinação Malazarte largou uma paulada na cachorra que esta saiu ganindo e correu até o alpendre da casa. O rapaz voltou e almoçou. Pela tarde nem precisou bater na cachorra. Fez o gesto e o bicho voou no caminho. No outro dia o fazendeiro escolheu outra tarefa. Mandou-o limpar a roça de mandioca. Pedro arrancou toda plantação, deixando o terreno completamente limpo. Quando foi dizer ao patrão o que fizera este ficou feio. - Zangou-se, meu amo? - Não senhor, - respondeu o patrão. No outro dia disse que Pedro trouxera o carro de bois carregado de pau sem nós. Malazarte cortou quase todo o bananal, explicando que bananeira é pau que não tem nó. O patrão ficou frio: - Zangou-se, meu amo? - Não senhor. No outro dia mandou-o levar o carro, com a junta de bois, para dentro de uma sala numa casinha perto, sem passar pela porta. E para melhor atrapalhar, fechou a porta e escondeu a chave. Malazarte agarrou um machado e fez o carro em pedaços, matou os bois, esquartejou-os e sacudiu, carnes e madeiras, pela janela, para dentro da sala. O patrão, quando viu, ficou preto:
- Zangou-se, meu amo? - Não senhor. Mandou vender na feira um bando de porcos. Malazarte levou os porcos, cortou as caudas e vendeu-os todos por um bom preço. Voltando enterrou os rabinhos num lamaçal e chegou em casa gritando que a porcada esta atolada no lameiro. O patrão foi ver e deu o desespero. Malazarte sugeriu cavar com duas pás. Correu para casa e pediu à dona que lhe entregasse dois contos de réis. A velha não queria mas o rapaz para certificá-la, perguntava ao patrão por gestos se devia levar um ou dois, e mostrava os dedos. Ante aos gritos do amo, a velha entregou o dinheiro ao Pedro. Voltou para o lameiro e começou a puxar a cauda de cada porco que dizia estar enterrado. Ia ficando com todas na mão. O patrão ficou suando mas não deu mostras de zanga. E Pedro ainda negou que tivesse recebido dinheiro. Vendo que ficava pobre com aquele empregado, o fazendeiro resolveu matá-lo o mais depressa possível, de um modo que não o levasse à justiça. Disse que andava um ladrão rondando o curral e deviam vigiar, armados, para prender ou afugentar a tiros. A idéia era atirar em Malazarte e dizer que se tinha enganado, supondo-o um malfeitor. De noite o fazendeiro foi para o curral e Pedro devia substituí-lo ao primeiro cantar do galo. Quando o galo cantou, Malazarte acordou a velha e disse que o marido a esperava no curral, e que levasse a outra espingarda, porque ele, Pedro, ia fazer o cerco pelo outro lado. A velha apanhou a carabina e foi, sendo morta pelo fazendeiro com um tiro certo de que abatia, pelo vulto, o atrevido criado. Assim que a velha caiu, Pedro apareceu chorando e acusando o amo. Este, assombrado pagou muito dinheiro para não haver conhecimento da justiça e ofereceu ainda mais dinheiro se o Malazarte se fosse embora, sem mais outra proeza. O rapaz aceitou e voltou rico para casa dos pais. II Não podendo ficar sossegado, Malazarte largou a casa, indo correr mundo. Logo no primeiro dia encontrou um urubu com uma perna e uma asa quebradas, batendo no meio da estrada. Agarrou o urubu e meteu-o dentro de um saco, seguindo caminho. Ao anoitecer estava diante de uma casa grande e bonita, alpendrada. Pela janela viu uma mulher guardando vários pratos de comidas saborosas e garrafas de vinho. Bateu e pediu abrigo mas a mulher recusou, dizendo que não estava em casa o marido e ficava feio ter um homem de portas a dentro. Malazarte foi para debaixo de uma árvore e reparou na chegada de um rapaz ainda moço, recebido com agrados pela dona da casa que o levou imediatamente para jantar. Iam os dois começando a refeição quando o dono da casa apareceu montado num cavalo alazão. O rapaz pulou uma janela e fugiu. Malazarte deu tempo para o dono da casa mudar o traje e tornou a bater e pedir dormida. O
dono apareceu e mandou-o entrar, lavar as mãos e ir jantar com ele. A comida que apareceu era outra, bem pobre e malfeita. Malazarte, sempre com o urubu dentro do saco, deu com o pé, fazendo-o roncar, começou a falar, baixinho, como se estivesse discutindo. - Com quem está falando? - Perguntou o dono da casa. - Com esse urubu. - Sim senhor, falando e adivinhando. Esse urubu é ensinado a adivinhar. - E o que ele está adivinhando a agora? - Está me dizendo que naquele armário há um peru assado, arroz de forno, bolo de milho e três garrafas de vinho. - Não me diga ... Procura aí, mulher! A mulher procurou e, fingindo-se assombrada pela surpresa, encontrou tudo quanto anunciara o urubu e trouxe os pratos e o vinho para a mesa. Comeram fartamente e o dono quis porque quis comprar o urubu. Pela manhã Malazarte, muito contrariado, aceitou o dinheiro alto e foi embora, deixando o urubu que nunca mais adivinhou cousa alguma. III Malazarte encontrou uma ruma de excremento ainda fresca, no meio da estrada. Parou curvou-se e cobriu com seu próprio chapéu, ficando de cócoras, segurando as abas, como se guardasse uma preciosidade. Passou um homem, a cavalo, e parou, perguntando: - Que está guardando aí? - O mais bonito passarinho do mundo! Custou mas segurei-o - E o que vai fazer? - Esperar que passe um conhecido para vendê-lo ou mandar comprar uma gaiola. - Quanto quer pelo passarinho? - Vinte mil-réis! - Está fechado. Tome o dinheiro, monte neste cavalo e vá buscar uma gaiola, ali na vila. Apeou-se, Malazarte meteu o dinheiro no bolso, cavalgou o animal, picou-o
nas esporas e desapareceu para sempre. O dono do passarinho esperou, esperou e, perdendo a paciência ou cutucado pela curiosidade, passou a mão para segurar a mais linda ave do mundo, ficando com ela suja e nauseante, furioso pelo logro e sem poder castigar o astucioso larápio. IV Órfão de pai, Malazarte viu morrer sua mãe, ficando muito triste. Mas, sendo ardiloso por natureza, do próprio cadáver quis aproveitar e ganhar mais dinheiro. Saiu com ele e escondeu-o nuns capins, perto de um pomar. O dono desse pomar era homem rico e violento, tendo comprado uma matilha de cachorros ferozes para a defesa das frutas. Ao anoitecer, Malazarte levou o corpo da velha e sacudiu-o por cima da cerca. Os cachorros acudiram imediatamente ladrando e mordendo. Nesse momento, Malazarte começou a gritar pelo dono do pomar, e quando este apareceu acusou-o de haver assassinado sua mãe, velhinha inofensiva que entrara no sítio para apanhar um graveto de lenha. Sabendo da ferocidade dos cachorros, Malazarte correra para impedir mas já chegara tarde. O dono do pomar, cheio de medo, pagou muito dinheiro e ainda encarregou-se de enterrar a velha com toda a decência. V Pedro Malazarte comprou uma panelinha nova para cozinhar quando viajasse. Na primeira viagem que fez levou a panelinha e estava preparando seu almoço, já abrindo a fervura, quando ouviu o tropel de um comboio que carregava algodão. Mais que depressa cavou um buraco, colocou todas as brasas e tições, cobrindo de areia, e pôs a panela por cima, fervendo. Os comboieiros que iam passando ficaram admirados de ver uma panela ferver sem haver fogo. Pararam, discutiram e perguntaram se Malazarte a queria vender por bom dinheiro. O sabidão fez-se muito rogado, dizendo ter adquirido aquele objeto em terras distantes, mas terminou vendendo a panelinha. Os comboieiros seguiram jornada, muito satisfeitos da compra que no outro dia verificaram ser mais um logro do endiabrado rapaz. VI Nas cercanias da casa de Pedro Malazarte morava um homem rico e muito avarento. Vivia enganando toda a gente e sendo detestado por todos os vizinhos. Não pagava ordenado aos seus empregados porque fazia apostas e não era possível cumprir-se uma das condições porque tinham sido escolhidas com intenção de burla. Malazarte ofereceu-se para criado e o homem aceitou. Se Malazarte ficasse trinta dias sem pedir a conta, seria pago três vezes, e não o fazendo, nada teria de direito.
O homem mandou Malazarte com mais duzentas ovelhas para o campo, com ordem de passar por uma garganta de serra muito estreita. As ovelhas recusavam avançar e os empregados anteriores haviam desistido com esse embaraço. Malazarte chegou ao boqueirão, agarrou uma ovelha, amarrou-a e saiu na frente puxando o animalzinho. As outras acompanharam sem dificuldade. Não deram rede para Malazarte dormir. Durma onde quiser, disse-lhe o homem. Pedro, vendo que o casal guardava a comida num armário grande, trepou-se para cima, com as pernas descidas e recusou sair, dizendo ser aquela a sua cama. Como o casal queria comer, ofereceram ao novo empregado o direito de fazer as refeições com eles, marido e mulher, chegando à conclusão de que só iam comer pão e bolachas, o que davam a Pedro quando ele se empregou. Mandou o dono que Malazarte levasse o carro de bois e o metesse numa sala sem passar pelas portas. Malazarte despedaçou o carro, partiu os bois em quatro e jogou tudo pela janela. Dias depois o dono da casa foi viajar e recomendou a Pedro que queria encontrar o gado muito bem tratado, rindo-se com o tempo. Quando o homem voltou viu que Malazarte havia cortado os beiços dos bois, vacas, novilhos, touros, deixando-os com os dentes de fora, como se estivessem rindo. Não quis mais conversa. Pagou três vezes e mandou que Pedro Malazarte fosse embora antes que ficasse completamente arruinado.
A ÁRVORE QUE DAVA DINHEIRO
Pedro Malasarte
A ÁRVORE QUE DAVA DINHEIROVendo-se apertado com a falta de dinheiro e não querendo ter arenga com o dono da pensão, Malasarte saiu bem cedo naquela manhã, para ganhar a vida. Arranjou com o vendedor de mel de jataí um bocado de cera; trocou na mercearia de Seu Joaquim a única nota de dinheiro que lhe sobrara, por algumas de moedas de vintém e caiu na estrada. Caminhou por obra de uma légua ou mais, quando avistou uma árvore na beira da estrada. Chegando ao pé da árvore, parou e pôs-se a pregar os vinténs à folhagem com a cera que arranjara.
Não demorou muito, deu de aparecer na estrada um boiadeiro que vinha tocando uns boizinhos para vender na vila. E como já ia levantando um solão esparramado, a cera ia derretendo e fazendo cair às moedas. Malasarte, fazendo festas, as apanhava. O boiadeiro acercou-se, curioso, perguntou-lhe o que fazia, e Malasarte explicou:
— Esta árvore é deveras encantada, patrão. As suas frutas são moedas legítimas. Estou colhendo todas, porque vou me bandear pra outra terra e tô pensando em levar a árvore, apesar de todo o trabalho que vai me dar.
— Não me diga isto, sô!
— É o que eu lhe digo, patrão!
— Diacho! Se lhe vai dar tanto trabalho...
E o boiadeiro propôs comprar a árvore encantada. Malasarte, depois de muitas negaças, fechou negócio trocando a árvore pelos boizinhos; em seguida, bateu pé na estrada, vendendo-os na vila por um bom preço.
O boiadeiro mandou alguns de seus peões retirarem, com todo o cuidado, a árvore encantada e a replantou no pomar do seu sítio. Daquele ano até hoje, está esperando ela dar moedas de vinténs.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry
Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry
O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante....
- Bom dia - disse o príncipe.
- Bom dia - disse a flor.
- Onde estão os homens? - Perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
-Adeus - disse o principezinho.
-Adeus - disse a flor.
O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De uma montanha tão alta como esta", pensava ele, "verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu pedras pontudas, como agulhas.
- Bom dia! - disse ele ao léu.
- Bom dia... bom dia... bom dia... - respondeu o eco.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho.
- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... - respondeu o eco.
- Sejam meus amigos, eu estou só... - disse ele.
- Estou só... estou só... estou só... - respondeu o eco.
"Que planeta engraçado!", pensou então. "É completamente seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor; e era sempre ela que falava primeiro."
Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.
- Bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! - disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? - perguntou ele espantado.
- Somos as rosas - responderam elas.
- Ah! - exclamou o principezinho...
E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela teria se envergonhado", pensou ele, "se visse isto... Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade..."
Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso..."
E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra - disse o principezinho.
- A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito - suspirou a raposa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário