quinta-feira, 19 de abril de 2012

Texto :Conversinha no Galope


    Leia o título do texto abaixo.
         Pensando neste título o que essa história poderá nos contar?

Conversinha no Galope

Ana Maria Machado

         Adorei saber que a gente ia se encontrar aqui, bem no início de um livro novo, de um novo ano começando na escola. Fico com vontade de fazer festa e pular de braços abertos para lhe dar as boas-vindas. Mas primeiro me apresento.
         Meu nome é Emília. Dona Vanda, a professora da quarta série, dizia que é por isso que às vezes eu falo demais, é do nome. Mas é engano dela. A outra Emília, a do Lobato (ou ela pensava que eu não sabia que homenagem era essa do meu nome?), era boneca e asneirenta. Eu, não. Só tenho a mania de pensar e dizer o que penso. E às vezes meus pensamentos galopam por uns espaços sem fim. O jeito é acompanhar enquanto eles disparam pra lá e pra cá, num sobe-e-desce sem fim. Quer vir comigo?
         Uma coisa em que eu tenho pensado muito ultimamente é na minha vontade de entender as coisas. O mundo, a vida, tudo. Não faço por menos. Porque às vezes não dá mesmo para se entender. Como é que pode ser tudo tão certo e tão errado ao mesmo tempo? Tão lindo e tão horrível... Parece que cada coisa tem seu contrário ao mesmo tempo. Em todo canto. Luz e sombra, alto e baixo. Um só existe com o outro.
         Aqui mesmo, este nosso encontro. É o começo das aulas e é também o fim das férias. É bom e é ruim. A gente não gosta de ter horário, dever, rotina, uma chatice. Era bem melhor ficar sem aula, com o dia todo para brincar. Só férias... mas é ótimo encontrar amigos, conhecer gente diferente, ler outros livros, ficar sabendo uma porção de coisas novas. Deus me livre de não ter escola! Já imaginou? Ficar o resto da vida ignorante? Como se fosse uma condenação a nunca melhorar de vida, a repetir tudo o que é atraso... Então, quando eu penso nisso, eu acho que este momento é bom e ruim, como eu estava dizendo.
         Se eu olhar pela janela agora, a sombra dessa árvore aí, tão gostosa num calorão destes, fico pensando: como a natureza é tão certinha... Põe um montão de bichos no mundo inspirando oxigênio e expirando gás carbônico e expirando oxigênio. Não parece que ela é a maior sabida? Fazer uma coisa tão certa assim... Só que também faz vírus que transmite doença. E já não dá mais para entender, acho muito errado. Minha avó diz que a natureza é sábia, mas não sei não...
         Gente eu sei que não é sábia, vive fazendo besteira. Qualquer um pode ser. É só olhar os lugares onde tem mais gente, feito cidade, por exemplo. Miséria, violência, sujeira, injustiça de todo tipo. A gente olha e acha a vida um horror. Mas também tem tanta coisa bonita, interessante e divertida! E as cidades estão cheias de invenções fantásticas, máquinas maravilhosas, muitas pessoas para serem amigas, gente descobrindo coisas, inventando moda, fazendo artes... Gente sábia, claro. Não dá para achar tudo ruim.
         Mas eu queria que tivesse muito mais coisa boa. Poder ter este clima bom aqui do Brasil, com uma natureza tão bonita, e ao mesmo tempo ter um pais funcionando melhor, como existem outros. Cidades em que as pessoas não vivam sempre com medo ou com raiva. Não ter gente passando fome, não precisar ter grade nas casas, ter escola boa para todo mundo, hospital bem equipado para todos, esgotos em todas as ruas, moradia para as pessoas, transporte confortável, riqueza bem distribuída entre a população. Você pensa que eu sou uma maluca, sonhando uma coisa impossível? Não sou mesmo. Está cheio de países que conseguem. Uns mais, outros menos. Pode ser que nenhum tenha a perfeição total, mas também, puxa! Não precisa ser tão imperfeito assim como “alguns”... Você entende, não é?
         Quando penso nisso, fico furiosa. Como é que eu posso ficar esquecida da vida, feliz, no sobe-e-desce do meu cavalinho dos pensamentos? Não dá, né? Com tanto problema por ai... Só quando eu me distraio... Por isso eu quero inventar um país novo, que possa ser de verdade, real, e onde a gente não tenha que se envergonhar de brincar contente com os amigos porque tem tanta gente sofrendo em volta.
         Dona Vanda dizia que isso é utopia. E explicou que esse nome, Utopia, também é uma homenagem a um livro antigo, que contava a história de um lugar que não existe, com um governo perfeito e uma sociedade ideal onde todo mundo pode ser feliz. Gostei chamar Utopia. Um lugar que pode não existir ainda. Mas que um dia vai ser verdade, se a gente fizer força para acontecer mesmo.
         Por isso, adorei vir encontrar você aqui hoje. Para lhe fazer um convite. Escolha também seu cavalo no carrossel dos pensamentos. Vermelho, amarelo, azul, preto, branco, qualquer cor. Pode se chamar Sonho, Esperança, Futuro, como você quiser. Solte as rédeas dele, para que corra solto e livre, porque não pode existir nada bom com rédea presa. E vamos juntos, cabelos ao vento, brincar de ver os dois lados desses caminhos novos. Alto e baixo, claro e escuro, direito e dever, sim e não.
         Quem sabe se assim a gente não consegue inventar um país bom e justo mesmo? E ele fica sendo de verdade quando nós crescermos...

                                                     Compreensão do texto

01.  Após a leitura do texto,  você continua com a mesma opinião sobre o título? Justifique.
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02. Quem conta essa história: é a menina que fala sobre si mesma ou é alguém que fala sobre ela?
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03. Qual é a opinião da professora Dona Vanda, em relação à sua aluna?
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Você concorda com a opinião da Dona Vanda? Por quê?
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04. O texto todo é uma conversa com os leitores. Em dois momentos ela nos faz um convite.
Qual é o primeiro deles?
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05. A ambiguidade das coisas, ou seja, as coisas terem sempre dois “lados”, cria um conflito na cabecinha da Emília.
       Escreva o número do parágrafo que explica essa dúvida da menina.


06. A escola, diz Emília, como tudo na vida, tem seu lado bom e seu lado ruim.
De acordo com a visão da Emília, estabeleça um paralelo entre as coisas boas e as coisas ruins da escola.


VISÃO DA ESCOLA SEGUNDO EMÍLIA
Lado bom
Lado ruim







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