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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Patriotismo não combina com egoísmo


Patriotismo não combina com egoísmo

Artigo sobre patriotismo e nacionalismo
Convidamos os leitores a uma rápida reflexão sobre patriotismo e nacionalismo. Não vamos fazer distinção entre esses dois termos, embora um venha de pátria e o outro de nação. Às vezes o termo nacionalismo parece carregar uma conotação um pouco negativa, como se fosse um patriotismo exagerado. Mas aqui vamos tomar os dois como sinônimos.
É interessante constatar como as coisas mais lindas e queridas muitas vezes se corrompem e se tornam detestáveis quando são exageradas. Veja, por exemplo, o amor. O verdadeiro amor é generosidade, doação, entrega gratuita. Mas quando ele se torna egoísta, se transforma em ciúme doentio e nos prejudica muito.
Pois assim é também com o patriotismo, ou nacionalismo. Práticas louváveis que podem trazer tanto bem, quando desviadas de seus verdadeiros fins se transformam em genocídios e guerras horrendas.
A pátria é a casa da gente
Todo grupo humano cria e desenvolve uma cultura. A cultura fica sendo uma espécie de seio materno, um ninho protetor para onde nós corremos e nos abrigamos quando precisamos de carinho e afeto. A cultura é sempre algo sagrado. É como se fosse a água para o peixe, o ar que respiramos. Cultura é a maneira de comer, de beber, de se visitar, de cantar, de dançar, de se vestir, de celebrar, de fazer festa. Nesse sentido, é impossível dizer que existe uma cultura melhor ou pior. Existem culturas diferentes e para cada povo, cada nação, cada comunidade, a cultura que eles desenvolvem é sempre a melhor. Querer insistir que uma cultura é melhor que a de outros, além de ser um tanto ridículo, pode trazer sérias consequências.
O que é uma pátria? A pátria é o reservatório dessa cultura. É o local onde essa cultura é criada, desenvolvida, vivida e celebrada. A pátria é principalmente nossos valores, nossas tradições, nossas realizações. Ninguém consegue, nem pode viver sem uma pátria. A pátria é o lar onde nós cultivamos nossa cultura. Como nos sentimos bem em nosso lar. Quem já viveu em outros países, com outras culturas, sabe do que estamos falando.
A cultura é a coisa mais sagrada de um povo. A cultura é a alma de um povo. Povo que perde sua cultura é um povo que perde sua alma. E se a cultura é a alma de um povo, a dimensão religiosa, os valores, são a alma dessa cultura.
Então: cultivar essas tradições, esses valores, essa cultura é ser patriota, ou se quiser, nacionalista, no bom sentido. Defender essa cultura é nossa obrigação, pois a cultura é a nossa maior riqueza.
Mas, como o amor que pode se corromper em ciúme, também o patriotismo e o nacionalismo podem se transformar em práticas criminosas e opressoras. Isso acontece sempre que algum povo, ou algum grupo, acha que apenas sua pátria tem valor, que eles são os melhores e os outros são atrasados, ignorantes ou violentos. Os gregos e romanos chamaram os povos que eles conquistavam de bárbaros. Agora, pensando bem, quem seria mais bárbaro: quem vive tranquilo em sua pátria, ou quem invade outro país, mata as pessoas e escraviza seus habitantes?
Patriotismo além das fronteira
Vamos pensar um pouco: não está acontecendo algo parecido nos dias de hoje? Com que direito alguns países que possuem armas poderosas ocupam outros países, achando que eles não podem viver do jeito que querem?
Contudo há algo muito importante que devemos trazer para essa reflexão. É que os seres humanos formam uma única família. Somos cidadãos do mundo, todos irmãos e irmãs. Então, por que não se poderia pensar e agir como se todos os povos tivessem uma vida digna? Nos momentos de catástrofes, como no Haiti, foram mandados soldados brasileiros em missão de paz.
Que bom que o Brasil mande pessoas para ajudá-los. Não é muito melhor mandar soldados para garantir a paz do que para fazer guerra? Muitos criticam nosso presidente quando perdoa as dívidas de países extremamente pobres da África e da América Latina, dizendo que isso nos diminui, nos torna dependentes, que deveríamos apenas cuidar de nós. Porém não é bonito quando um povo, até nem tão rico, como o nosso querido Brasil, pensa nos países irmãos mais pobres e procura de certa forma colaborar com eles? O verdadeiro patriotismo vai além das fronteiras.
Marlos MelloPsicólogo social, Porto Alegre, RS.
Pedrinho A. GuareschiProfessor e pesquisador da UFRGS, autor dos livros Sociologia Crítica e Psicologia Social Crítica.
Artigo publicado na edição nº 412, jornal Mundo Jovem, novembro de 2010, página 6.

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