A mesmice das reuniões de pais e mestres
Não houve
engano algum quanto ao título. Foi mesmice mesmo que eu quis dizer, como
poderia ter qualificado como “chatérrima” ou mesmo “entediante”. O adjetivo é
apenas um alerta para chamar a atenção do quanto temos que mudar a maneira de
fazer as famosas “reuniões de pais e mestres”.
Você pode
pensar: “a reunião de pais e mestres da minha escola é diferenciada, pois
aplicamos algumas dinâmicas com os pais, e para finalizar oferecemos comes e
bebes”.
Mas não me refiro a esta inovação. Não é satisfatório saber que os pais comparecem à reunião porque vão se divertir participando das dinâmicas e ao final ainda vão ganhar um lanchinho.
Mas não me refiro a esta inovação. Não é satisfatório saber que os pais comparecem à reunião porque vão se divertir participando das dinâmicas e ao final ainda vão ganhar um lanchinho.
O que
precisa existir como válvula propulsora da reunião de pais e mestres é o
interesse dos pais em participar ativamente da vida escolar do seu filho
independente dele estar com problemas de aprendizagem ou de comportamento.
Temos que
propiciar uma caminhada lado a lado efetivando uma cumplicidade entre pais,
alunos e professores.
Há
escolas que intimam a presença dos pais nas reuniões vinculando-a a entrega dos
boletins. Estão agindo de forma antididática. Os pais não devem ser obrigados a
ir, devem ir por vontade própria.
Há também
o professor que inicia a reunião exaltando o paradigma da família do século
passado. Este tipo de procedimento é desestimulante e provoca uma sensação de
incompetência dos pais. O professor deve respeitar e orientar o modelo de
família de hoje.
O que os
pais realmente querem saber quando vão a uma reunião de pais e mestres é como a
matéria está sendo ministrada; qual o retorno do seu filho frente à didática
utilizada; que recursos o professor está utilizando para ensinar e qual é o
olhar do professor para cada um dos seus alunos.
A família
não quer mais o ensino massificado. Os alunos não devem ser encarados como uma
multidão que caminha sem saber para onde. Cada vez mais necessitamos ser
olhados como indivíduos e temos que saber qual a aplicabilidade do que está
sendo ensinado.
Esta visão se encaixa tanto para o aluno quanto para os pais.
Esta visão se encaixa tanto para o aluno quanto para os pais.
O pai tem
que ter espaço para se manifestar. Ele tem que ser ouvido, pois sua dúvida pode
ser a dúvida de muitos outros pais e é nesta ocasião que deve ser
compartilhada.
Ouvir o
pai, além de ser muito importante gera uma motivação maior, pois ele se sente
participante resultando na troca de idéias e esclarecimentos.
Na
verdade sabemos que os pais adoram participar da vida escolar haja vista que ao
encerrar a reunião de pais e mestres, muitos ainda continuam nas dependências
da escola trocando experiências. Também podemos citar as festas organizadas
pela escola. Quando esta requisita a participação dos pais, o resultado é
sempre muito positivo. O que precisa acontecer é a escola abrir espaço para que
a família entre.
A maioria
dos professores reclama que os pais estão cada vez mais transferindo para a
escola a formação total de seus filhos. Ocorre que nada está sendo feito para
propiciar a mudança desta realidade. Muito pelo contrário, a escola faz questão
de manter os procedimentos antigos onde a presença dos pais era requisitada
somente em casos de reclamações. Até hoje, se o aluno vai bem, o pai nunca
precisa ir à escola.
A bem da
verdade, na história das escolas* nunca houve a participação ativa dos pais,
resultante, no princípio, da maioria deles serem analfabetos ou terem pouca
instrução. Por esta razão o respeito ao professor era imenso tanto por parte do
aluno quanto da família, e a sua voz era tida como lei a qual ninguém contrariava.
Foi da
metade do século XX em diante que um número grande de pessoas começou a ter
acesso à educação e formar famílias com grau de escolaridade, inclusive, de
ensino superior. Foi por esta razão que se iniciou um clamor por parte dos
professores frente a uma maior participação dos pais junto à escola.
Ocorre
que para que isto ocorra os pais têm que ser orientados. É a escola que precisa
favorecer esta abertura para que os pais caminhem junto no aprendizado do seu
filho. Eles não sabem como devem proceder. Já fui testemunha de pais que
querendo ser atuantes na formação educacional do seu filho acabaram atropelando
o professor e criando até uma situação de animosidade entre eles. Há pais que
ao fazer o trabalho de casa junto com os filhos se acham no direito de cobrar
uma nota melhor.
Todas
estas atitudes mostram como estão perdidos quanto a melhor maneira de ajudar
seus filhos. Ninguém melhor que o professor para dar as coordenadas, e não há
ocasião melhor do que a reunião de pais e mestres para orientá-los.
A escola
precisa disponibilizar informações que oriente e possibilite o envolvimento dos
pais estabelecendo uma relação construtiva com a escola.
A mudança
deve começar pela disposição física da sala onde a reunião de pais e mestres
será realizada. Assim como nas salas de aula, as carteiras devem ficar
dispostas em círculo ou semicírculo, onde todos possam ver uns aos outros. Esta
prática irá favorecer um entrosamento maior entre os pais, e dos pais com o
professor principalmente, se ao iniciar a reunião estes forem estimulados a
falar, cada um o seu nome acrescido de alguma característica sua, quando aluno.
Esta apresentação fará com que todos se conheçam propiciando um ambiente
descontraído. Em seguida o professor poderá iniciar a reunião tocando nos pontos
principais, mas sempre priorizando a participação atuante dos pais.
A reunião
deve seguir como um delicioso bate-papo podendo, a qualquer momento, haver
manifestações tanto de discordância quanto de dúvidas ou sugestões.
As
reuniões tradicionais normalmente iniciam com as regras que devem ser cumpridas
pelos pais e alunos. Em seguida há o pedido de uma participação mais ativa dos
pais na vida escolar dos filhos sugerindo que acompanhem diariamente a lição de
casa bem como orientem em épocas de provas e nos trabalhos sugeridos.
Ocorre
que o pai irá atender este pedido provavelmente, durante a primeira semana. Da
segunda semana em diante ele não se sentirá mais motivado a fazê-lo e
justificará a sua não participação alegando que esta tarefa pertence ao
professor.
A
motivação dos pais também tem que ser trabalhada constantemente e o professor
para isto deverá conhecer muito bem a comunidade que atua escolhendo quais os
assuntos que chamam mais a atenção das famílias. É justamente aí que a
convivência entra como facilitador deste conhecimento.
Deverá a
escola abrir as portas aos pais conferindo valor e respeito à diversidade.
Sabe-se de uma maneira geral que o ser humano adora compartilhar os episódios
que fizeram parte da sua história. Pode-se tirar proveito da diversidade
tomando conhecimento das curiosidades trazidas pelos pais: dos lugares onde
moraram, das diferenças no linguajar, nos costumes, na culinária e das
histórias típicas de cada região. Todas estas contribuições são de uma riqueza
imensa e completamente motivadoras para os pais e consequentemente para os
filhos.
Então
professores, vamos trazer os pais para dentro da escola e consolidar esta união
de forças, que com certeza, quem sairá ganhando será principalmente o aluno.
Vamos
fazer de nossas reuniões de pais e mestres, reuniões onde a empolgação, a
cooperação, a participação estejam sempre presentes nos professores, nos pais e
nos alunos.
*Nas
primeiras escolas (séc. XVI) as aulas eram ministradas por jesuítas e existiam
a serviço da fé. Mais tarde (séc. XIX), já ministradas por professores atuavam
a serviço do Estado. Depois vieram os colégios internos (séc. XX), aonde os
pais também não participavam ficando a formação de caráter e intelectual sob a
responsabilidade das escolas, onde os alunos deveriam aprender o essencial para
se tornarem cidadãos e saberem viver em sociedade. Depois surgiram além dos
colégios internos, as escolas de períodos em que a figura do professor era
central na escola e na comunidade sendo suas atitudes respeitadas e
indiscutíveis.
Cybele
Meyer
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