terça-feira, 17 de maio de 2011

As Disciplinas escolares e a radiografia da notícia



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As Disciplinas escolares e a radiografia da notícia
À medida que se avança nos níveis de escolarização, diminui significativamente a participação da população negra e parda nos bancos escolares. Dados do I.B.G.E. indicam que negros e pardos representam 53,2% de total de alunos matriculados no ensino médio brasileiro, enquanto os brancos são 46,4% do total. A proporção muda bastante na pós-graduação, em que o índice de participação dos afrodescendentes é de 17%, enquanto os brancos somam 81,5% do total.


O texto acima é, jornalisticamente falando, uma notícia, uma informação. É um resumo publicado em uma revista ou em um jornal. Apanhemos essa informação, ou outra qualquer extraída da mesma fonte, e a levemos para uma sala de aula.

O desejo de transformar essa informação em conhecimento é preocupação em situar essa notícia dentro de uma estrutura sistemática, de uma teoria científica. Essa preocupação torna assim necessário transformar alunos em estudantes e como em princípio nada sabem sobre as disciplinas escolares é natural que se sintam confusos e precisam da ajuda de seus professores. Se essas disciplinas são apresentadas apenas como um conjunto de fatos, conceitos ou teorias a serem confiadas à memória, irão permanecer na ignorância da razão essencial de cada disciplina. É assim essencial que a notícia acima posa ajudar os alunos a descobrirem que especialistas diferentes possuem olhares diferentes.

Como é a notícia acima para o matemático? E para o historiador? Como a percebe o geógrafo? Como pode trabalhá-la o especialista em Língua Portuguesa? Essa notícia pode ser explorada em uma aula de Educação Física? Como torná-la percebida em uma Língua Estrangeira? Todas essas e ainda muitas outras questões deveriam ser trabalhadas em cada disciplina, pois os fatos de uma notícia somente adquirem cores disciplinares quando são reunidos de uma certa maneira e colocados a serviço de uma teoria, estrutura ou seqüência. As disciplinas escolares são modos de pensar que permite a um praticante atribuir um sentido e uma lógica ao mundo através de processos específicos. Em síntese são maneiras com que os especialistas analisam e explicam os fenômenos do mundo.

Apresentadas essas discussões, voltemos a informação acima.

O professor de História, por certo se concentrará nas razões das diferenças sociais e étnicas explicadas pela notícia e buscará nas raízes escritas em nosso passado uma explicação e se aventurará em prováveis conseqüências; o professor de Geografia anotará na realidade dos dados os contrastes do país e suas implicações no desequilíbrio que toda igualdade social aqui e outras partes pode ocasionar. O professor de Artes sentirá que essa informação necessita ser mostrada através de linguagem não verbal e assim buscará reproduzi-la na em um outro veículo e com isso buscará através da música, colagem, dança ou desenho formas de captar o fenômeno. Fará uma sensível análise do tema, sobretudo se ajudado por um professor de Educação Física, especialista em descobrir linguagens nos movimentos corporais. Uma informação sobre afrodescendentes e seu nível de escolarização poderá parecer distante a um professor de Matemática, mas se perceber bem verificará que é a frieza dos dados numéricos que confere veracidade à notícia e que os mesmos podem se tornar mais facilmente percebidos se olhados através de proporções ou de estruturas gráficas, com sua insinuante geometria. Aos especialistas em Ciências Físicas e Biológicas, a notícia saberá mostrar que na base biológica da espécie não existe razão que a exclusão dos dados revela e que o que parece ser natural em humanos nem sempre o é diante de classificações que a teoria evolucionista, explicada por Darwin, insiste em garantir. Um professor de Língua Portuguesa necessita de ferramentas para que seus alunos interpretem informações, captem entrelinhas, decodifiquem notícias, desconfiem de explicações minimalistas e dessa forma, possam analisar, comparar, descrever e sintetizar o texto.

Em síntese: a notícia em si não parece ser de excepcional relevância e, nesse sentido, pode até ser esquecida pelos alunos. Mas se a informação, atropelada por outras tantas que a cada momento surgem pode ir sendo apagada da memória, a prática de exercícios como esse vez por outra desenvolvidos em sala de aula, mostra aos alunos a grandeza do currículo, a essência da educação e o papel de cada disciplina escolar.

Não seria essa uma proposta para mostrar como se transforma informação em conhecimento e como se faz de um aluno um verdadeiro estudante?

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