domingo, 28 de janeiro de 2018

ESCOLA: ESPAÇO DE SOCIALIZAÇÃO II

ESCOLA: ESPAÇO DE SOCIALIZAÇÃO EDUCAÇÃO: INSTRUMENTO DE INSERSÃO SOCIAL


Márcio Carlos de Oliveira[1]
Professor Dr. José Soares**

RESUMO

Este trabalho pretende analisar a escola além de suas atribuições primordiais de instrumento na produção do saber, mas como espaço privilegiado de socialização, e a educação como mecanismo de inserção social. Deve-se levar em consideração que a escola reúne pessoas de fachas etárias diferentes e que os alunos passam grande parte de seu tempo aglomerados na escola, portanto ela se torna o “lugar” por excelência do intercâmbio de culturas, conhecimentos e experiências históricas. Além, é claro de proporcionar a formação de laços de amizade que durarão por toda vida.

Palavras – chave: Escola, Educação, Socialização e Aluno.

                                 ABSTRACT


                 This work intends to analyze the school beyond their role in primaryproduction of instrument of knowledge, but as a privileged space for socialization,and education as a mechanism of social integration. One should take into consideration that the school brings together people of different age and beamsthat students spend much of their time in school clusters, so it becomes the"place" par excellence of the exchange of cultures, historical experiences andknowledgeIn addition of course to provide the formation of friendships that will last a lifetime.
Keywords - Keywords: School, Education, Socialization, and Student
INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da sociologia amplia a compreensão da escola como grupo social complexo, e a educação como processo de perpetuação e desenvolvimento da sociedade.
Maria Lúcia de Arruda Aranha
O trabalho em questão foi construído a partir de análises, revisões bibliográficas e pesquisas na internet. No primeiro momento o presente pretende abordar a escola como lugar de socialização, levando em consideração as experiências e atividades do ponto de vista prático e teórico que se dão dentro do espaço escolar, e em segundo momento concebe a educação como instrumento de inserção social, na perspectiva de entender a educação como formação cultural de condutas e comportamentos comuns a uma determinada sociedade.
“O homem faz cultura por meio de seu trabalho, com o tal transforma a natureza e a si mesmo, e que o aperfeiçoamento dessas atividades só é possível mediante a educação, fator importantíssimo para a humanização e socialização do homem” (ARANHA; 1989/49).
DESENVOLVIMENTO

A escola é um dos principais instrumentos de formação do conhecimento bem como espaço onde se processa educação. É na escola que se constrói parte da identidade de se pertencer a um grupo da sociedade e ao mundo, nela se adquire os modelos de aprendizagem, a aquisição e incorporação de princípios morais e éticos que regem uma sociedade. De acordo com José Carlos Libânio, “a escola tem por principal tarefa na nossa sociedade a democratização dos conhecimentos, garantindo uma cultua de base para todas as crianças e jovens” (LIBÂNIO; 1994/ 127).
Na escola se depositam as expectativas, as dúvidas, inseguranças em relação ao futuro. No entanto é necessário que se pense na escola não como um prédio, uma edificação ou um lugar qualquer. Deve se pensar na escola como lugar especial, o lugar mais próximo do ideal ou mesmo “natural” do processo de formação de sujeitos históricos – cidadãos. Segundo Dermeval Saviavi o papel da escola “é difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente” (SAVIANI; 1986/10).
Tudo que há na escola – material, estrutura física, funcionários, diretores, professores, jogos temáticos, dinâmicas, eventos e etc.., tem uma razão e uma “intenção” de ser. Por exemplo, uma lixeira no canto da sala, ela tem sua razão de existir, não pelo lixo em si, mas pelo fato de se criar uma “doutrina” de que o lixo não pode ficar espalhado por todos os lados. As intermináveis filas para entrar ou sair das salas, para ir ao banheiro, para ir a cantina e etc.., ora, as filas também têm uma razão de ser, pelo resto da vida usaremos as filas como método de organização, seja nos bancos, nas igrejas, nos hospitais, enfim por todos os lugares encontraremos filas. As dinâmicas, as brincadeiras, os jogos não existem só pelo simples fato de entretenimento, mas pela sua potencialidade de colocar os alunos em contato direto, de modo a contribuir para socializá-los, assim como levá-los a descobrir e a conhecer a si mesmos, suas limitações, habilidades, aptidões e etc... Contudo, teríamos vários outros instrumentos e mecanismos que as escolas usam para educar, mediar e construir comportamentos e hábitos.
Porém a escola não e a única instituição responsável a promover a educação. No entanto, deve-se salientar que fora das escolas também existem práticas educativas, e perpetuação da cultura.
“O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de tal modo que aprendemos desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de estranhos; como, quando e quanto falar em determinadas circunstâncias; como andar, correr brincar; como cobrir o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme atendemos ou transgredimos certos padrões, nossos comportamentos são avaliados como bons ou maus” (ARANHA, 1989/62).
Conceber todo este sistema de formação intelectual, moral e ético como “educação”, é, portanto, entender a educação como mecanismo de inserção social, se entender, é claro, a educação como um código de regras do sistema que rege uma sociedade. O uso correto desse código permitirá ao indivíduo exercer plenamente a cidadania, por exemplo, capacitá-lo para ascensão social, para o bom relacionamento dentro do grupo social a qual pertence.   
“Portanto a educação será um instrumento de correção da marginalidade na medida em que contribuir para a constituição de uma sociedade cujos membros não importa as diferenças de quaisquer tipos, se aceitem mutuamente e se respeitem na sua individualidade específica” (SAVIANI; 1986/12).
 Um dos objetivos mais importantes do processo de educação e socialização consiste em que as crianças aprendam o que seu meio social considera correto ou incorreto, ou seja, que possam adquirir um nível elevado dos conhecimentos historicamente construídos que regem sua sociedade e se comportem de acordo com eles,
O processo educativo que se desenvolve na escola pela instrução e ensino consiste na assimilação de conhecimentos e experiências acumulados pelas gerações anteriores no decurso do desenvolvimento histórico social” (LIBÂNIO; 1994/24).
 Portanto, a formação cultural de condutas e comportamentos se dá através de um processo de construção e interiorização destes valores, processo que tende ademais a favorecer o desenvolvimento dos mecanismos de controle reguladores da conduta da formação moral do educando.
“Ora, o homem não nasce moral, torna-se moral. Nesse sentido, a educação desempenha papel importante na formação moral do homem, o que não é feito em separado, por meio de “aulas de moral”, mas pelo processo mesmo de educação” (ARANHA; 1989/64).
 Deve-se salientar ainda, conforme defende Piaget, que os seres humanos são seres ativos, ou seja, seres que recebem os conhecimentos e os transforma de acordo com a sua capacidade cognitiva bem como a partir de sua concepção de mundo. Assim a educação também se processa de forma distinta em várias sociedades e contextos históricos.
A educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o processo de desenvolvimento integral do homem, quer seja da sua capacidade física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do caráter e personalidade social (ARANHA; 1989/49).
Contudo, o papel que incumbimos à escola vai além de “ensinar” e mediar conteúdos disciplinares. Ora a escola é uma parte da sociedade, a “própria sala de aula é um ambiente social que forma junto com a escola como um todo, o ambiente global da atividade docente organizado para cumprir os objetivos do ensino” (LIBÂNIO; 1994/26). A família também exerce importantes influências na educação e mediação de conhecimento, cultura, valores morais e éticos os quais estarão sempre em conflitos com sociedade, ora de forma discordante, ora de forma concordante. Os valores que as famílias cultivam são os primeiros a ser incorporado pela criança, se tornando o seu referencial.
A educação dada pela família ou pelo meio social se processa de forma espontânea, a partir do senso comum, repetindo costumes que são transmitidos de geração em geração.
“Estamos sendo educados a cada passo em casa, na igreja, no trabalho, no esporte, com os amigos, com o rádio, com a TV e etc. Dentre essas influências, vamos destacar e analisar a ação da família e dos meios de comunicação de massa” (ARANHA; 1989/75).
 Portanto a educação se dá num processo dinâmico, ora formal, onde se tem intenção de educar, por exemplo, nas escolas, nas igrejas, empresas e etc.., ora informal, quando não se tem obrigatoriamente a intenção de educar. Segundo Saviani “a educação é como um processo que se caracteriza por uma atividade mediadora no seio da prática social global” (Apud Aranha; 1986/53), o processo educativo é muito mais amplo e complexo do que podemos imaginar.
Há também maneiras de se educar e de se transmitir “doutrinas” por meios às vezes imperceptíveis, mas que, no entanto tem a intenção de fazê-la, como por exemplo, as mídias, a política, as religiões e tantas outras instituições trazem nas entrelinhas suas ideologias. Usar destes mecanismos com a intenção de bitolar e induzir a sociedade para uma determinada filosofia é, no entanto o que Saviani chama de “violência simbólica”.
“A violência simbólica se manifesta de múltiplas formas:                                 a formação da opinião pública através dos meios de comunicação de massa, jornais e etc,; a pregação religiosa a atividade artística e literária;  a propaganda e a moda; a educação família etc.;” (SAVIANI; 1986/22).
Para Durkheim, “a educação satisfaz, antes de tudo, as necessidades sociais” (Apud ARANHA; 1989/54), ou seja, não há processo educativo sem vida social, e nem formação intelectual e social se não para exercer a cidadania de forma plena. Segundo Saviani a educação é um instrumento que resgata o homem da marginalidade social, no entanto, um instrumento de inserção na vida em sociedade.
“A marginalidade é vista como um problema social e a educação, que dispõe de autonomia em relação à sociedade, estaria por esta razão capacitada a intervir eficazmente na sociedade, transformando-a, tornando-a melhor, corrigindo as injustiças; em suma, promovendo a equalização social” (SAVIANI; 1986/19).
Sendo a escola e a educação instrumento de formação de sujeito crítico e ativo socialmente, deve-se pensar a partir do processo pedagógico educativo que tipo de sociedade se pretende construir.
“O caráter pedagógico da prática educativa se verifica como ação consciente, intencional e planejada no processo de formação humana, através de objetivos e meios estabelecidos por critérios socialmente determinado e que indicam o tipo de homem a formar, para qual sociedade, com que propósito” (LIBÂNIO; 1994/24).
Contudo, deve-se estar certo do anseio e das necessidades da sociedade e qual a proposta da escola para a mesma. Segundo Libânio, a “preparação das crianças e jovens para a participação ativa na vida social é o objetivo mais imediato da escola pública” (LIBÂNIO; 1994/24). É claro que a escola não é a única a contribuir para a educação e formação social dos indivíduos, pois onde há vida e convívio social há, portanto, troca de valores, princípios, culturas e conhecimentos.
O processo de socialização por meio da escola é tão marcante nas nossas vidas que mesmo depois de anos ou até décadas a gente se lembra com nitidez de fatos que marcaram a nossa passagem pela escola. Lembramos praticamente de tudo, das experiências vividas, do que aprendemos, do que ensinamos, dos conflitos nos quais nos evolvemos, dos debates que promovemos, dos professores e funcionários da escola, enfim são muitas as páginas da nossa vida que escrevemos nos bancos da escola.
São tantas as experiências vividas dentro da escola que ela se torna mais do que simplesmente “escola”. O “espaço” se transforma num referencial, atribuímos um significado um símbolo ao “lugar”. Torna-se a nossa casa, ponto de encontro dos amigos, “fábrica” onde se processa e se constrói o conhecimento. Nos recreios se socializa tudo, a merenda, as ideias, fala-se sobre tudo e todos, juntam se as mais diferentes fachas etárias formando o “caldo” a “mistura” perfeita onde se fomenta o saber.
Falar da escola dá saudade. Para os que se emanciparam da casa dos pais, da saudade de casa, dos pais, dos vizinhos enfim do tempo que fomos crianças.
Observou como a escola não é um lugar qualquer ou um amontoado de gente estudando incansavelmente? Em todo o trabalho falamos das diversas possibilidades de entendermos a escola, não necessariamente das disciplinas português, matemática, história, biologia e etc.., não por não serem importantes mas por não ser a única coisa que se faz na escola. A escola se torna nosso referencial, nossa identidade, muito do que nos tornamos foi construído na escola. Independente do tempo e do contexto histórico a escola sempre será um instrumento de socialização, quiçá um dos melhores e mais eficientes.
Levando em consideração o que foi exposto referente à importância da escala como espaço de socialização e da educação como instrumento de inserção social, assim como o posicionamento dos pensadores aqui citados devemos nos perguntar – E nós, como estamos pensando a escola e a educação? Como instrumento de poder, de manipulação e de promoção de nós mesmos, de perpetuação de valores tradicionais defasadas? Ou estamos fazendo da escola e da educação um instrumento de libertação como defende Paulo Freire? Como estamos pensando os alunos? Como seres inativos, com características pré-definidas pela genética, pela hereditariedade de modo que não possam ser transformados e construídos? Ou estamos determinando o comportamento e o hábito a partir do ponto de vista dos ambientalistas que determina o homem como produto do meio? Ou seja, estuda-se meio e não o homem como sujeito histórico.
A escola é sem dúvida necessária à sociedade, ainda que em determinado momento histórico tenha servido aos interesses das classes dominantes para reproduzir seus ideais, ainda que tenha servido de palco para ascensão de alguns e queda de muitos, ainda que tenha servido como mecanismo de estratificação social e ainda que tenha servido como instrumento de poder político. Não podemos, portanto, ter uma visão unilateral e retilínea. Houve quem quis reduzir a educação escolar numa fábrica de robotizar pessoas, porém em contrapartida houve quem transformou a educação num mecanismo de ascensão e inserção social.
É nesta perspectiva que se deve entender a educação, como transformadora da sociedade, a qual constrói indivíduos críticos, capazes de transformarem a si mesmos e o meio em que vive.
REFLEXÕES FINAIS
Diante de tudo que se falou sobre a escola e educação no decorrer deste trabalho, não tivemos a intenção de esgotar o tema e nem poderíamos tê-la, em detrimento do tempo que foi dedicado bem como a estrutura do trabalho não nos permitiria a leviandade de dizer que falamos de todos os detalhes de um assunto tão rico e tão vasto. O tema presente nos permite muitas outras reflexões, outras tantas abordagens que futuramente as desenvolveremos.
Cabe ainda salientar que existem outras concepções no que tange o papel da educação e da escola na sociedade. Muitos pensadores atribuem à educação escolar um papel cujo objetivo é perpetuar a ideologia das classes dominantes e marginalizar os dominados.
De acordo com essa teoria, marginalizados são os grupos ou classes dominados. Marginalizados socialmente porque não possuem força material (capital econômico) e marginalizados culturalmente porque não possuem força simbólica (capital cultural)” (SAVIANI; 1986/24).
Segundo a teoria de Pierre Bourdieu e Jean Claud Passeron a educação escolar seria um instrumento de formação ideológica por meio da violência simbólica a serviço da “burguesia” (Apud SAVIANI; 1986/22). Reproduzir-se-ia por meio da educação escolar a estratificação social, definindo dessa forma um tipo de educação para cada indivíduo de acordo com sua classe social. “Portanto, a teoria não deixa margem a dúvidas. A função da educação é a de reprodução das desigualdades sócias” (SAVIANI; 1986/24). Neste caso a educação não seria libertadora como defende Paulo Freire, mas aprisionadora.
Porém não devemos nos enganar, por mais opressora que fosse a escola em determinados momentos da história, ela nunca deixou de cumprir suas funções sociais, ainda que nas entrelinhas, houve quem fez perpetuar a liberdade por meio da educação, muitos foram perseguidos por fazê-lo.
Contudo, deve-se levar em consideração que em cada momento da história houve uma necessidade e intenção de se educar e se formar uma determinada sociedade. Na Grécia antiga, em Atenas, por exemplo, se educava para a “democracia”, para o exercício da política, em Esparta se educava para a vida militar, formavam-se grandes guerreiros.
Segundo Libânio,
“A escola de décadas atrás serviu aos interesses das classes dominantes da sociedade e para isso estabeleceu os seus objetivos, conteúdos, métodos e sistema de organização de ensino. Aos filhos dos ricos fornecia educação geral e formação intelectual, aos pobres, o ensino profissional visando o trabalho manual. A escola pela qual devemos lutar hoje visa o desenvolvimento científico e cultural do povo, preparando as crianças e jovens para a vida, para o trabalho e a cidadania, através da educação geral, intelectual e profissional” (LIBÂNIO; 1994/44).
Portanto, a escola pode sim ser mecanismo de aprisionamento ou ser instrumento de libertação, depende da proposta e de que tipo de sociedade se pretende formar.


REFERÊNCIAS BIBLIPGRÁFICAS:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 1ª Ed. São Paulo: Moderna, 1989.
LIBÂNIO, José Carlos. Didática. 15ª Ed. São Paulo: Cortez, 1994.
PIAGET, Jean. O Juízo Moral da Criança. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1994.
SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 13ª ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1986.

Fonte:http://marciocarlosoliveira.blogspot.com.br/2011/11/escola-espaco-de-socializacao-educacao.html

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