terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O exercício da tolerância

O exercício da tolerância



O exercício da tolerância inclui, em primeiro lugar, o respeito a outra pessoa. Isso não significa concordar incondicionalmente com o que está sendo dito, anular sua opinião ou se submeter ao que nos violenta ou faz mal. A tolerância nos permite considerar que existem, sim, diversas formas de olhar para a vida, outras maneiras de ser ou vários tipos de ideal. E que opiniões diferentes das nossas não significam, necessariamente, uma afronta pessoal. Admitimos que há uma multiplicidade de escolhas. "Ser tolerante é perceber, entender e aceitar as diferenças sem renunciar a princípio e valores pessoais", assegura Carlos Alberto dos Santos, coordenador de programas da área de Direitos Humanos da UNESCO - entidade educacional, científica e cultural da Organização das Nações Unidas. Essa capacidade de aceitar, compreender e tolerar está presente nos momentos mais banais do cotidiano. O dentista Luiz José Grieco, de São Paulo, pratica a tolerância todos os dias em seu consultório - atende a adolescentes. "Quando eles se tornam mal-humorados ou agressivos, tento me lembrar que eles estão passando por uma fase bastante complicada da vida", diz ele. "Para desenvolver a tolerância, devemos enxergar o mundo com os olhos dos outros", afirma convicto. "Ser tolerante é requisito fundamental para ter com mais tranqüilidade e paz de espírito", reconhece Mônica Chemin, terapeuta de São Paulo. E ela dá um bom exemplo: "Se você está dirigindo e toma uma fechada de um motoqueiro, tanto pode reagir com raiva como pode parar um minuto para refletir e perceber que ele está correndo porque tem de cumprir uma agenda desumana". "O problema é muitas vezes não termos tempo para ponderar e refletir. Somos cobrados a reagir, a tomar partido, com muita rapidez. Isto é, o imediatismo pode comprometer a capacidade de ser tolerante", alerta a terapeuta. Passamos a julgar com base em preconceitos ou conceitos sem fundamento real.
E qual seria o antídoto? Não se precipitar. "E conhecer mais a nós mesmos, nossos valores mais profundos, no que acreditamos realmente", fala a terapeuta. Importante também é aceitar a si próprio. "O perfeccionismo é um sintoma de que não aceitamos nossas próprias imperfeições", diz ela. E a prática da tolerância propõe muita compreensão e paciência, primeiro com nós mesmos e depois nos relacionamentos no casamento, no trabalho, na escola.

Onde tudo começa

"A educação é o meio mais eficaz de criar uma cultura de tolerância. Ela pode estimular as crianças a serem mais abertas, curiosas e receptivas às diferenças. O acesso à educação também desenvolve o senso crítico para recusar a intolerância e o preconceito que podem estar presentes nos meios de comunicação, na família ou no ambiente social", diz o coordenador Carlos Alberto dos Santos. Outro cuidado é prestar atenção nas mensagens de intolerância que são repassadas às crianças por meio de piadas ou apelidos - detalhes que pesam muito durante o processo da formação de valores. Sempre vale, portanto, não estimular o preconceito. O bombardeio de informações que recebemos todos os dias muitas vezes incentiva que se forme um universo de semelhantes, onde se exclui o que é diferente de nós. Mas isso não é irreversível, desde que haja consciência. "Todos nós podemos contribuir para criar um mundo em que todas as diferenças sejam bem-vindas", diz Carlos Alberto dos Santos, coordenador da UNESCO. O futuro certamente agradece. 


Alcance social


No Brasil, a tolerância, que é presente no campo religioso, não vai tão bem na área social. Os grupos de defesa dos direitos dos gays apontam o país como campeão mundial de violência contra homossexuais, registrando mais de 100 assassinatos por ano. E, apesar da miscigenação que deu origem à população brasileira, o panorama não é muito animador também em relação à discriminação racial. "O país tenta mostrar a imagem de que aqui não existe racismo. Mas há enormes diferenças de oportunidade de acesso à educação, ao emprego e de remuneração entre os diferentes grupos raciais", alerta o coordenador Carlos Alberto dos Santos.
Seremos mais felizes quando se concretizar aqui um dos itens principais da Declaração de Princípios da Tolerância, redigida pela UNESCO em 1995. Diz o texto da declaração: "A prática da tolerância significa que cada pessoa é livre para escolher suas convicções e aceita que seu semelhante possa usufruir da mesma liberdade".


Para praticar todos os dias

Veja como incluir mais flexibilidade e compreensão em seu dia-a-dia:

  Avalie se suas opiniões sobre determinadas pessoas ou grupos não estão baseadas em preconceitos.
  Invista no auto conhecimento, investigue quais são suas crenças reais.
  Evite julgar pessoas ou acontecimentos precipitadamente, sem refletir.
  Adote uma atitude aberta face a estilos de vida diferentes do seu.
  Tente aceitar as outras pessoas como são.
  Procure ser mais tolerante consigo mesmo. Aceite seus erros e defeitos.


Texto: Liane Camargo de Almeida e Wilson F. de Weigl
Reportagem: Wilson F. de Weigl
http://bonsfluidos.abril.com.br/extra/a/cidadania3.shtml

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