quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Comunicação e socialização

Comunicação e socialização

Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota. A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual aprendeu a ser “membro” de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e de ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por “instrução”, pelo menos antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência cumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que “convinha”. Tudo isso foi possível graças à comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos, amigos, na casa, na rua nas lojas, no ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social.
Contrariamente, então, ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os meios de comunicação social. Esses meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual, que às vezes esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação total.
Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o “bom dia” à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro de banco, os cumprimentos aos colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato do menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com sua mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: “boa noite”.
A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por um acidente ou doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura.
A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.

DÍAZ BORDENAVE, Juan E. O que é comunicação. São Pualo, Nova Cultura/brasiliense, 1986. p. 17-9.


EXERCÍCIOS:

1) Releia atentamente o primeiro parágrafo e responda: qual a relação entre comunicação e cultura?

Resposta: A cultura foi adquirida por meio da comunicação, numa infindável sequencia de pequenos atos comunicativos cotidianos. 

2) O segundo parágrafo nos fala em "meios de comunicação social". O que você entende sobre eles?

Resposta: Essa expressão se relaciona com os meios de comunicação de massa, aos quais normalmente se remete quando se pensa em comunicação.  (TV, rádio, internet etc)

3) O que pensa o autor sobre os meios de comunicação social?

Resposta: O autor deixa claro que os meios de comunicação de massa, apesar de poderosos, constituem apenas uma parte mínima da nossa comunicação.

4) O terceiro parágrafo é construído por enumeração: uma longa série de atos de comunicação cotidiana nos é apresentada pelo autor. Como podemos relacionar esses atos com os meios de comunicação social do parágrafo anterior?

Responda: Essa enumeração coloca em evidência aquilo que o autor havia declarado no parágrafo anterior: note-se que, nessa lista bastante extensa, a maioria absoluta dos atos de comunicação escapa do circuito dos meios de comunicação de massa, realizando-se nos níveis mais pessoais do cotidiano. 

5) O quarto parágrafo nos coloca uma conclusão sobre o assunto levantado e discutido pelo texto. Qual a frase ou passagem que sintetiza essa conclusão?

Responda: "A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida."

6) Relendo cuidadosamente as questões anteriores, é possível detectar o percurso seguido para atingir sua conclusão no quarto parágrafo. Comente esse percurso.

Resposta: O autor principia seu texto relacionando cultura e comunicação; alude aos meios de comunicação social;  mostra que a comunicação vai muito além desses meios, sendo sendo parte de cada pequeno ato cotidiano, e se encaminha assim para a conclusão de que a comunicação se confunde com a própria vida, pois é uma necessidade básica do ser humano.


A COMUNICAÇÃO
Lembre-se o leitor como se fez gente: sua casa, seu bairro, sua escola, sua patota. A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo qual o aprendeu a ser “membro” de sua sociedade – de sua família, de seu grupo de amigos, de sua vizinhança, de sua nação. Foi assim que adotou a sua “cultura”, isto é, os modos de pensamento e ação, suas crenças e valores, seus hábitos e tabus. Isso não ocorreu por “instrução”, pelo menos antes de ir para a escola: ninguém lhe ensinou propositadamente como está organizada a sociedade e o que pensa e sente a sua cultura. Isso aconteceu indiretamente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relações com diversas pessoas e aprendeu naturalmente a orientar seu comportamento para o que “convinha”. Tudo isso foi possível graças a comunicação. Não foram os professores na escola que lhe ensinaram sua cultura: foi a comunicação diária com pais, irmãos, amigos, na casa, na rua, nas lojas, no ônibus, no jogo, no botequim, na igreja, que lhe transmitiu, menino, as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social.
Contrariamente, então, ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os meios de comunicação social. Estes meios são tão poderosos e importantes na nossa vida atual que esquecemos que representam apenas uma mínima parte de nossa comunicação total.
Alguém fez, uma vez, uma lista dos atos de comunicação que um homem qualquer realiza desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos de comunicação é simplesmente inacreditável, desde o “bom dia” à sua mulher, acompanhado ou não por um beijo, passando pela leitura do jornal, a decodificação de número e cores do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, a conversa com o companheiro do banco, os cumprimentos com os colegas no escritório, o trabalho com documentos, recibos, relatórios, as reuniões e entrevistas, a visita ao banco e as conversas com seu chefe, os inúmeros telefonemas, o papo durante o almoço, a escolha do prato no menu, a conversa com os filhos no jantar, o programinha de televisão, o diálogo amoroso com a mulher antes de dormir, e o ato final de comunicação num dia cheio dela: “boa noite”.
A comunicação confunde-se, assim, com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por um acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Pessoas que foram impedidas de se comunicar durante longos períodos enlouqueceram ou ficaram perto da loucura. A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social.
DÍAZ BONRDENAVE, JUAN. O QUE É COMUNICAÇÃO. SÃO PAULO, NOVA CULTURAL/BRASILIENSE, 1986, P. 17-9.

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2 – Pensamento: “Chega mais perto e contempla as palavras, cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que lhe deres: trouxeste a chave?” (Carlos Drummond de Andrade).

3 – Questões:
1 – Releia atentamente o primeiro parágrafo e responda: qual a relação entre a comunicação e a cultura?
R:_____________________________________________________________________________.
2 – O Segundo parágrafo nos fala em “meios de comunicação social”. O que você sabe sobre eles?
R:_____________________________________________________________________________.
3 – O que pensa o autor sobre os meios de comunicação social?
R:_____________________________________________________________________________.
4 – O terceiro parágrafo é construído por enumeração: uma série longa de atos de comunicação cotidianos nos é apresentada pelo autor. Como podemos relacionar esses atos com os meios de comunicação social do parágrafo anterior?
R:_____________________________________________________________________________.
5 – O quarto parágrafo nos coloca uma conclusão sobre o assunto levantado e discutido pelo texto. Qual a frase ou passagem que sintetiza essa conclusão?
R:_____________________________________________________________________________.
6 – Relendo cuidadosamente as questões anteriores, é possível detectar o percurso seguido pelo autor para atingir sua conclusão no quarto parágrafo. Comente esse percurso.
R:_____________________________________________________________________________.
7 – O último parágrafo sintetiza todo o conteúdo do texto. Reflita sobre o que ele diz e responda: a sua experiência de vida comprava esta afirmação? Por quê?
R:_____________________________________________________________________________.

4 – Relendo o texto: Retorne ao texto e concentre sua atenção sobre o primeiro parágrafo, cujo desenvolvimento segue três etapas:
  1. Uma introdução, que vai de “Lembre-se o leitor…” até “… de sua nação”. É o ponto em que o autor nos apresenta o assunto: a aquisição da cultura via comunicação;
  2. Um desenvolvimento, que vai de ‘Foi assim que…” até “…para o que ‘convinha’”. Nessa altura, o autor expõe como o cotidiano forma o ser social;
  3. Uma conclusão, que vai de “Tudo isso foi possível…” até o final. O autor explicita sua colocação: é a comunicação cotidiana que transmite à criança os valores sociais.
O desenvolvimento desse parágrafo pode servir de modelo para muitos dos seus parágrafos. Note como a sequência lógica introdução/desenvolvimento/conclusão permite uma exposição clara e precisa dos aspectos discutidos.

Fonte:

INFANTE, Ulisses: Do Texto ao texto: curso prático de leitura e redação. Scipione, 5. ed., São Paulo,1996.

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