sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Diferentes habilidades para entender o mesmo enredo


    Uma das obras do gênero trabalhadas na Prova Brasil é O Galo e a Raposa (leia no primeiro quadro abaixo), de Esopo, fabulista grego do século 6 a.C. Considere a questão: por que a raposa queria que o galo descesse da árvore? Ela mobiliza a capacidade relativa a "Estabelecer relação de causa e consequência entre partes e elementos dele" (descritor 8).A resposta certa é a seguinte: para que pudesse pegá-lo e comê-lo, pois raposas comem galos. Chegar a essa conclusão é fundamental para compreender a narrativa, pois ela remete às relações de causalidade entre as ações dos bichos e também à natureza da relação entre eles - predador e vítima -, sem a qual o desenvolvimento da trama não seria possível. Da mesma forma, quando não há o entendimento desses aspectos, alguns recursos linguísticos - como a ironia na fala da raposa - também não podem ser compreendidos. Para responder à questão "por que o galo disse que viu cachorros vindo ao longe?", os alunos precisam "Inferir uma informação implícita em um texto" (descritor 4). Dessa forma, concluem que o galo percebeu o estratagema da raposa para pegá-lo, já que ela é predadora dele e, da mesma forma, o cachorro é inimigo da raposa. Outros meios de chegar a essa constatação seriam eles já terem isso em seu repertório prévio ou recuperarem o dado em algum trecho. Para ambas as habilidades, a familiaridade com leituras variadas é essencial.
                  Diferentes habilidades para entender o mesmo enredo
Com outra versão da mesma fábula, a complexidade da tarefa muda. Vamos estabelecer como exemplo a escrita por Monteiro Lobato (1882-1948), nomeada O Galo Que Logrou a Raposa (leia no segundo quadro abaixo). Do mesmo modo que no exemplo anterior, as informações requeridas não são apresentadas explícita e diretamente. Para responder por que a raposa queria que o galo descesse da árvore, o aluno pode recorrer a noções que já possui sobre a relação entre galo e raposa e raposa e cachorro. Caminhos alternativos são ler o primeiro parágrafo, recuperar o sentido da expressão "te curo" e, depois, articular isso aos dados contidos no segundo parágrafo, em especial o trecho "acabou-se a guerra entre os animais". Para dar conta da segunda pergunta (Por que o galo disse que viu cachorros vindo ao longe?), ao contrário, não há informações explícitas, sendo necessário tanto "Inferir uma informação..." (descritor 4) como articular as que estão nos últimos quatro parágrafos. Nesse sentido, podemos dizer que, quando se considera a segunda fábula - ainda que ela tenha o mesmo enredo e esteja organizada dentro do mesmo gênero -, o esforço do leitor para indicar a alternativa certa da mesma tarefa é maior do que se a base for a primeira. Isso ocorre por suas características de linguagem. Outro tipo de desafio comum na Prova Brasil é o que leva o estudante a "Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto" (descritor 2). Se a base fosse a primeira fábula (O Galo e a Raposa), uma tarefa poderia ser determinar a quem se refere a expressão "sua voz". A complexidade dela não é grande, pois o sujeito ao qual ela se liga está na frase anterior. Já se problema semelhante fosse dado à criança após a leitura da narrativa de Lobato - identificar a quem se refere "raspou-se" -, a dificuldade seria maior. Caberia a ela localizar a raposa dois parágrafos acima.

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