Educar é Semear

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sexta-feira, 6 de março de 2015

A assembleia dos ratos


LIÇÃO 1
TEXTO I                                               
A assembleia dos ratos

                 Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa
velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
               Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o
estudo da questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos miados pelo telhado, fazendo sonetos à lua.
               — Acho – disse um deles - que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe
atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo.
                Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O projeto foi aprovado com
delírio. Só votou contra um rato casmurro, que pediu a palavra e disse:
              — Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino?
              Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo.
              Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.
              Dizer é fácil - fazer é que são elas!
(LOBATO, Monteiro). In Livro das Virtudes – William J. Bennett – Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 308.)

01. Na assembleia dos ratos, o projeto para atar um guizo ao pescoço do gato foi
(A)  aprovado com um voto contrário.
(B)  aprovado pela metade dos participantes.
(C)  negado por toda a assembleia.
(D)  negado pela maioria dos presentes.

TEXTO II
O Pavão

             E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um
luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d´água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
            Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes
com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é
a simplicidade.
           Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 120)

02. No 2º parágrafo do texto, a expressão ATINGIR O MÁXIMO DE MATIZESsignifica o artista
(A)  fazer refletir, nas penas do pavão, as cores do arco-íris.
(B)  conseguir o maior número de tonalidades.
(C)  fazer com que o pavão ostente suas cores.
(D)  fragmentar a luz nas bolhas d’água.

TEXTO III
O IMPÉRIO DA VAIDADE

              Você sabe por que a televisão, a publicidade, o cinema e os jornais defendem os músculos torneados, as vitaminas milagrosas, as modelos longilíneas e as academias de ginástica? Porque tudo isso dá dinheiro. Sabe por que ninguém fala do afeto e do respeito entre duas pessoas comuns, mesmo meio gordas, um pouco feias, que fazem piquenique na praia? Porque isso não dá dinheiro para os negociantes, mas dá prazer para os participantes.
             O prazer é físico, independentemente do físico que se tenha: namorar, tomar milk-shake, sentir o sol na pele, carregar o filho no colo, andar descalço, ficar em casa sem fazer nada. Os melhores prazeres são de graça - a conversa com o amigo, o cheiro do jasmim, a rua vazia de madrugada -, e a humanidade sempre gostou de conviver com eles. Comer uma feijoada com os amigos, tomar uma caipirinha no sábado também é uma grande pedida. Ter um momento de prazer é compensar muitos momentos de desprazer. Relaxar, descansar, despreocupar-se, desligar-se da competição, da áspera luta pela vida - isso é prazer.
             Mas vivemos num mundo onde relaxar e desligar-se se tornou um problema. O prazer gratuito, espontâneo, está cada vez mais difícil. O que importa, o que vale, é o prazer que se compra e se exibe, o que não deixa de ser um aspecto da competição. Estamos submetidos a uma cultura atroz, que quer fazer-nos infelizes, ansiosos, neuróticos. As filhas precisam ser Xuxas, as namoradas precisam ser modelos que desfilam em Paris, os homens não podem assumir sua idade.
               Não vivemos a ditadura do corpo, mas seu contrário: um massacre da indústria e do comércio. Querem que sintamos culpa quando nossa silhueta fica um pouco mais gorda, não porque querem que sejamos mais saudáveis - mas porque, se não ficarmos angustiados, não faremos mais regimes, não compraremos mais produtos dietéticos, nem produtos de beleza, nem roupas e mais roupas. Precisam da nossa impotência, da nossa insegurança, da nossa angústia.
                O único valor coerente que essa cultura apresenta é o narcisismo.
(LEITE, Paulo Moreira. O império da vaidade. Veja, 23 ago. 1995. p. 79.)

03. O autor pretende influenciar os leitores para que eles
(A)  evitem todos os prazeres cuja obtenção depende de dinheiro.
(B)  excluam de sua vida todas as atividade incentivadas pela mídia.
(C)  fiquem mais em casa e voltem a fazer os programas de antigamente.
(D)  sejam mais críticos em relação ao incentivo do consumo pela mídia.

TEXTO IV
A PARANOIA DO CORPO

              Em geral, a melhor maneira de resolver a insatisfação com o físico é cuidar da parte emocional.
LETÍCIA DE CASTRO
             Não é fácil parecer com Katie Holmes, a musa do seriado preferido dos teens, Dawson's Creek ou com os galãs musculosos do seriado Malhação. Mas os jovens bem que tentam. Nunca se cuidou tanto do corpo nessa faixa etária como hoje. A Runner, uma grande rede de academias de ginástica, com  23000 alunos espalhados em nove
unidades na cidade de São Paulo, viu o público adolescente crescer mais que o adulto
nos últimos cinco anos. “Acho que a academia é para os jovens de hoje o que foi a
discoteca para a geração dos anos 70”, acredita José Otávio Marfará, sócio de outra
academia paulistana, a Reebok Sports Club. "É o lugar de confraternização, de diversão."
             É saudável preocupar-se com o físico. Na adolescência, no entanto, essa
preocupação costuma ser excessiva. É a chamada paranoia do corpo. Alguns exemplos.
Nunca houve uma oferta tão grande de produtos de beleza destinados a adolescentes.
Hoje em dia é possível resolver a maior parte dos problemas de estrias, celulite e
espinhas com a ajuda da ciência. Por isso, a tentação de exagerar nos medicamentos é
grande. "A garota tem a mania de recorrer aos remédios que os amigos estão usando, e
muitas vezes eles não são indicados para seu tipo de pele”, diz a dermatologista Iara
Yoshinaga, de São Paulo, que atende adolescentes em seu consultório. São cada vez
mais frequentes os casos de meninas que procuram um cirurgião plástico em busca da
solução de problemas que poderiam ser resolvidos facilmente com ginástica, cremes ou
mesmo com o crescimento normal. Nunca houve também tantos casos de anorexia e
bulimia. "Há dez anos essas doenças eram consideradas raríssimas. Hoje constituem
quase um caso de saúde pública”, avalia o psiquiatra Táki Cordás, da Universidade de
São Paulo.
              É claro que existem variedades de calvície, obesidade ou doenças de pele que
realmente precisam de tratamento continuado. Na maioria das vezes, no entanto, a
paranoia do corpo é apenas isso: paranoia. Para curá-la, a melhor maneira é tratar da
mente. Nesse processo, a autoestima é fundamental. “É preciso fazer uma análise
objetiva e descobrir seus pontos fortes. Todo mundo tem uma parte do corpo que acha
mais bonita”, sugere a psicóloga paulista Ceres Alves de Araújo, especialista em
crescimento. Um dia, o teen acorda e percebe que aqueles problemas físicos que
pareciam insolúveis desapareceram como num passe de mágica. Em geral, não foi o
corpo que mudou. Foi a cabeça. Quando começa a se aceitar e resolve as questões
emocionais básicas, o adolescente dá o primeiro passo para se tornar um adulto.
(CASTRO, Letícia de. Veja Jovens. Setembro/2001 p. 56.)

04. A ideia CENTRAL do texto é
(A)  a preocupação do jovem com o físico.
(B)  as doenças raras que atacam os jovens.
(C)  os diversos produtos de beleza para jovens.
(D)  o uso exagerado de remédios pelos jovens.

TEXTO V
No mundo dos sinais

Sob o sol de fogo, os mandacarus se erguem, cheios de espinhos.
Mulungus e aroeiras expõem seus galhos queimados e retorcidos, sem folhas, sem
flores, sem frutos.
              Sinais de seca brava, terrível!
              Clareia o dia. O boiadeiro toca o berrante, chamando os companheiros e o
gado.
                Toque de saída. Toque de estrada.
                Lá vão eles, deixando no estradão as marcas de sua passagem.
 (TV Cultura, Jornal do Telecurso.)
 
05. A opinião do autor em relação ao fato comentado está em
(A)  “os mandacarus se erguem”
(B)  “aroeiras expõem seus galhos”
(C)  “Sinais de seca brava, terrível!!”
(D)  “Toque de saída. Toque de entrada”.

TEXTO VI

O CARACOL INVEJOSO

                  O caracolzinho sentia-se muito infeliz. Via que quase todos os animais eram mais ágeis do que ele. Uns brincavam, outros saltavam. E ele aborrecia-se debaixo do peso de sua carapaça!
 __ Vê-se que meu destino é ir devagarinho, sofrendo todos os males! Dizia ele, bastante frustrado. Seus amigos e familiares tentavam consolá-lo, mas nada conseguiam.
              __ Caracolino, pense que, se a Natureza lhe deu essa carapaça, para alguma coisa foi, disse-lhe a tartaruga, que se encontrava em situação semelhante à dele.
              __ Sim, claro, para alguma coisa será! Pode explicar-me a razão? Perguntava Caracolino, ainda mais chateado por receber tantos conselhos.
              Caracolino tornou-se tão insuportável por suas reclamações, que todos o abandonaram. E ele continuava com sua carapaça às costas, cada vez mais pesada para o seu gosto.
              Um dia, desabou uma tempestade. Choveu durante muitos dias. Parecia um dilúvio! As águas subiram, inundando tudo. Muitos dos animaizinhos que ele invejara, encontravam-se agora em grandes dificuldades. Caracolino, porém, encontrou um refúgio seguro. Dentro de sua carapaça estava totalmente protegido! Desde então, compreendeu a utilidade de sua lenta e pesada carapaça. Deixou de protestar, tornando-se um animalzinho simpático e querido por todos.
(Autor Desconhecido)
06. A infelicidade do Caracolzinho se dava devido
        (A) ver que todos os outros animais eram mais ágeis do que ele.
       (B) o peso de sua carapaça.
       (C) a forma como ele andava.
       (D) não poder tirar sua carapaça de suas costas.

TEXTO VII
As enchentes de minha infância

            Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda, mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio.
            Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara à enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo.
            Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, torcíamos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando, mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo – aquilo era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes.
(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. 3. Ed. Rio de Janeiro: Ed. Do Autor, 1962. P. 157)

07. A expressão que revela uma opinião sobre o fato “... vinham todos dormir em nossa casa” (l. 10), é
(A) “Às vezes chegava alguém...”
(B) “E às vezes o rio atravessava a rua...”
(C) “e se tomava café tarde da noite!”
(D) “Isso para nós era uma festa...”

TEXTO VIII
Esse trânsito que maltrata

Fumaça, fuligem, ruído de motores, tédio, cansaço, carros e ônibus que andam lentamente: assim é o trânsito nas cidades grandes. Principalmente nas primeiras horas da manhã, quando as pessoas se dirigem ao seu local de trabalho e, no fim da tarde, quando dele estão voltando.
           Além do tempo perdido, do gasto excessivo de combustível e do aumento da poluição, esse trânsito maltrata as pessoas: a ansiedade de chegar logo acusa acidez no estômago; ficar sentado muito tempo causa dores nas articulações; inalar poluentes dá sonolência, dor de cabeça e problemas respiratórios.
           Todos são prejudicados: os que estão confortáveis em seus automóveis e, mais ainda, os que estão espremidos nos ônibus. E o principal responsável por esse sofrimento são os automóveis que ocupam as ruas e avenidas das cidades.
           Para acomodar o crescente número de automóveis, casas são demolidas, ruas são alargadas, avenidas e viadutos são construídos, e os estacionamentos invadem praças e parques, com a derrubada de árvores centenárias e monumentos históricos. Vale tudo para dar passagem a esse deus dos tempos modernos.
           Apesar de causarem tantos transtornos, os automóveis carregam menor número de pessoas que os transportes coletivos. Cada automóvel costuma circular com uma ou duas pessoas, enquanto um ônibus transporta, nas horas de movimento, até oitenta passageiros em cada viagem.
           Os ônibus são o melhor transporte para as cidades, e dele depende a maioria da população. Apesar disso, as linhas são insuficientes, são mal conservadas e os motoristas, mal pagos. O pior é que o preço das passagens consome boa parte do salário dos trabalhadores.
(Rocicler Martins Rodrigues. Cidades brasileiras : o passado e o presente. São Paulo : Martins Fontes, 1992, p. 64.) (Fragmento adaptado).

08.  O objetivo global do autor com o texto foi:
(A) apontar as principais consequências da poluição urbana.
(B) comentar os efeitos do trânsito nas grandes cidades.
(C) ressaltar os prejuízos de quem apenas dispõe do transporte coletivo.
(D) indicar os males físicos decorrentes do excessivo trânsito de carros.

 09.  O segundo parágrafo começa com a expressão ''Além do tempo   perdido''. Com essa expressão o autor pretendeu:
(A) fazer uma ressalva.                              (C) indicar um acréscimo.
                 (B) contrastar opiniões.                             (D) introduzir uma concessão.

           10. A expressão 'inalar poluentes' mantém o seu significado em:
(A) aspirar poluentes.
(B) ingerir poluentes.
(C) expirar poluentes.
(D) lançar poluentes.

                 11.  Em relação às grandes cidades, o texto é visivelmente a favor:
(A)    do crescente número de automóveis.
(B) do alargamento de ruas e avenidas.
(C) de novos viadutos e estacionamentos.
(D) dos meios de transporte coletivos.

 12. Pela compreensão do texto, pode-se concluir que, para o autor, ''o deus dos tempos modernos'' é o:
(A) combustível.                                           (C) automóvel.
(B) ônibus.                                                    (D) motorista.

 13. No trecho ''Para acomodar o crescente número de automóveis'', o termo destacado expressa uma ideia de:
(A) finalidade.
(B) concessão.
(C) condição.
(D) adição.

 14. O trecho: ''O pior é que o preço das passagens consome boa parte do salário dos trabalhadores.'' implica dizer que:
(A) o preço das passagens é pior que os salários dos trabalhadores.
(B) quase todo o salário dos trabalhadores é gasto com transporte.
(C) os assalariados ganham o que consomem fora de casa.
(D) o pior dos trabalhadores paga com seus baixos salários o transporte que
              usa.

  15. Há uma relação de causa e consequência expressa na alternativa:
(A) O trânsito nas grandes cidades é pior nas primeiras horas da manhã.
(B) Há muitos transtornos físicos provocados pelo trânsito das grandes
             cidades. 
(C) Cada automóvel costuma circular com uma ou duas pessoas.
(D) As linhas de ônibus são insuficientes e mal conservadas.

  16. O autor no final do texto, termina, expressando-se de forma
(A)   séria.
(B)  crítica.
(C)  reflexiva.
(D) engraçada.


  
LIÇÃO 2
O suor e a lágrima
Carlos Heitor Cony

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.
            Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.
 
            O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.
            Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.
            Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.
             E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.
             Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.
             Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.
O texto acima foi publicado no jornal “Folha de São Paulo”, edição de 19/02/2001, e faz parte do livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha”, Publifolhas – São Paulo, 2001, pág. 319, organização de Arthur Nestrovski.

COMPREENDENDO O TEXTO
Responda as questões de 1 a 5, consultando o texto.

01.   As palavras que compõem o título – O suor e a lágrima – são usadas fora de seu campo de significação próprio, adquirindo, no texto, significação figurada. De acordo com texto, quais as possíveis interpretações para o sentido figurado observado, respectivamente, nas palavras suor e lágrima?

02.   Na composição da narrativa, certos elementos linguísticos explicitam circunstâncias diversas, imprimindo coerência ao texto. Que fragmento do texto é esse? E qual a circunstância que ele expressa?

03.   A tomada de consciência do personagem-narrador acerca dos abismos sociais vai-se aguçando gradativamente a partir de certo ponto da narrativa. Que trecho do texto contém os primeiros sinais dessa tomada de consciência que estão adequadamente representados por um processo de adjetivação?

04.   As comparações, ao destacarem semelhanças e diferenças entre elementos colocados lado a lado, funcionam como estratégias por meio das quais se ressaltam determinados pontos de vista. Que fragmento do texto indica uma comparação? E que parágrafo está?

05.   A crônica de Carlos Heitor Cony é uma crítica à hierarquia econômico-social que prevalece em nossa sociedade. Qual é o fragmento do texto que apresenta o ponto de vista do narrador sobre essa hierarquia? Lembre-se que ele está exemplificado por meio de uma metáfora.

LIÇÃO 3
Observe a charge.

      01.  É correto afirmar que a charge visa
(A) Apoiar a atitude dos alunos e propor a liberação geral da frequência às aulas.
(B)  Criticar a situação atual do ensino e denunciar a evasão escolar.
(C)  Enaltecer a escola brasileira e homenagear o trabalho docente.
(D) Recriminar os alunos e declarar apoio à política educacional.

Leia a charge.

      02.  No contexto apresentado, o personagem expressa-se informalmente. Se sua frase fosse proferida em norma padrão da língua, assumiria a seguinte redação
(A) Fazemos o seguinte: a gente ressuscita o Bin Laden e lhe matamos de novo.
(B)  A gente faz o seguinte: ressuscita o Bin Laden e lhe mata de novo.
(C)  Façamos o seguinte: nós ressuscitamos o Bin Laden e o matamos de novo.
(D) Façamos o seguinte: a gente ressuscitamos o Bin Laden e matamos de novo.

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