O que é mesmo o ato de avaliar a
aprendizagem?
Cipriano
Carlos Luckesi
Antes de mais nada, uma disposição psicológica necessária ao avaliador.
O
ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção do melhor resultado
possível, antes de mais nada, implica a disposição de acolher. Isso significa a
possibilidade de tomar uma situação da forma como se apresenta, seja ela
satisfatória ou insatisfatória, agradável ou desagradável, bonita ou feia. Ela
é assim, nada mais. Acolhê-la como está é o ponto de partida para se fazer
qualquer coisa que possa ser feita com ela. Avaliar um educando implica, antes
de mais nada, acolhê-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, para, a
partir daí, decidir o que fazer.
A
disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e não no objeto da
avaliação. O avaliador é o adulto da relação de avaliação, por isso ele deve
possuir a disposição de acolher. Ele é o detentor dessa disposição. E, sem ela,
não há avaliação. Não é possível avaliar um objeto, uma pessoa ou uma ação,
caso ela seja recusada ou excluída, desde o início, ou mesmo julgada
previamente. Que mais se pode fazer com um objeto, ação ou pessoa que foram
recusados, desde o primeiro momento? Nada, com certeza!
A
disposição para acolher é pois, o ponto de partida para qualquer prática de
avaliação. É um estado psicológico oposto ao estado de exclusão, que tem na sua
base o julgamento prévio. O julgamento prévio está sempre na defesa ou no
ataque, nunca no acolhimento. A disposição para julgar previamente não serve a
uma prática de avaliação, porque exclui.
Para
ter essa disposição para acolher, importa estar atento a ela. Não nascemos
naturalmente com ela, mas sim a construímos, a desenvolvemos, estando atentos
ao modo como recebemos as coisas. Se antes de ouvirmos ou vermos alguma coisa
já estamos julgando, positiva ou negativamente, com certeza, não somos capazes
de acolher. A avaliação só nos propiciará condições para a obtenção de uma
melhor qualidade de vida se estiver assentada sobre a disposição para acolher,
pois é a partir daí que podemos construir qualquer coisa que seja.
Por uma compreensão do ato de
avaliar.
Assentado no ponto de partida
acima estabelecido, o ato de avaliar implica dois processos articuladas e
indissociáveis: diagnosticar e decidir.
Não é possível uma decisão sem um diagnóstico, e um diagnóstico, sem uma
decisão é um processo abortado.
O ato de avaliar, como todo e
qualquer ato de conhecer, inicia-se pela constatação, que nos dá a garantia de
que o objeto é como é. Não há possibilidade de avaliação sem a constatação.A
constatação oferece a "base material" para a segunda parte do ato de
diagnosticar, que é qualificar, ou seja, atribuir uma qualidade, positiva ou
negativa, ao objeto que está sendo avaliado.Entretanto, essa qualificação não
se dá no vazio. Ela é estabelecida a partir de um determinado padrão, de um
determinado critério de qualidade que temos, ou que estabelecemos, para este
objeto.
Desde que diagnosticado um
objeto de avaliação, ou seja, configurado e qualificado, há algo,
obrigatoriamente, a ser feito; uma
tomada de decisão sobre ele. O ato de qualificar, por si, implica uma
tomada de posição – positiva ou negativa –, que, por sua vez, conduz a uma
tomada de decisão. Caso um objeto seja qualificado como satisfatório, o que
fazer com ele? Caso seja qualificado como insatisfatório, o que fazer com ele?
O ato de avaliar não é um ato neutro que se encerra na constatação. Ele é um
ato dinâmico, que implica na decisão de "o que fazer". Sem este ato
de decidir, o ato de avaliar não se completa. Ele não se realiza. Chegar ao
diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação de "diagnosticar sem
tomar uma decisão" assemelha-se à situação do náufrago que, após o naufrágio,
nada com todas as suas forcas para salvar-se e, chegando às margens, morre,
antes de usufruir do seu esforço. Diagnóstico sem tomada de decisão é um curso
de ação avaliativa que não se completou.Em síntese, avaliar é um ato pelo qual,
através de uma disposição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um objeto,
ação ou pessoa), tendo em vista, de alguma forma, tomar uma decisão sobre ela.
Trecho extraído
da Revista Pátio, fev/2000
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