domingo, 3 de março de 2019

Fábula: Dos Dois Leões




Fábula: Dos Dois Leões
       

 Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

        Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões de todo jeito, mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.
        Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado.  Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.
        Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.  Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
        Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha:
        — Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arrego, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.
        O outro leão então explicou:
        — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.  Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.
        — E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?
        — Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.

Fonte: “Primo Altamirando e Elas”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1961, pág. 153.

Entendendo a fábula:

01 – O texto de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) mostra implicitamente um hábito comum nas repartições públicas do país que perdura há décadas:
a)   A importância de se tomar café como relaxamento em horários de rotina por parte dos servidores públicos.
b)   A falta de qualificação profissional por parte do serviço público quanto ao cumprimento dos serviços.
c)   O desrespeito por parte dos servidores em estarem tomando café em horário de expediente.
d)   A discriminação dos servidores públicos graduados quanto ao serviço de um contínuo (Auxiliar de Serviços Gerais que providencia o café).
e)   A escassez de servidores públicos nas repartições públicas, principalmente as de órgãos municipais.

02 – Sobre o texto de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), a expressão alquebrado pode ser substituída sem alteração contextual por:
   
  a) Vigoroso.  b) Forte.c) Desconfiado.   d) Abatido. e) Cego.

03 – Entre os fragmentos textuais abaixo, assinale a alternativa em que a expressão grifada corresponde a um termo adjetivo.
a)   Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade.
b)   Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou.
c)   Voltou magro, faminto e alquebrado.
d)   Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
e)   — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.

04 – Assinale, entre os fragmentos textuais abaixo o que apresenta nitidamente uma linguagem figurada denominada prosopopeia.

a)   Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico.
     b) Tinham sumido, que nem o leite.
     c) Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.
     d) Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico     Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
     e) O outro leão então explicou: — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.

05 – No trecho: ― Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca ‖, temos:
     a) Uma conjugação verbal no afirmativo do imperativo.
     b) Uma conjugação verbal no presente do indicativo.
     c) Uma conjugação verbal no futuro do subjuntivo.
     d) Uma   conjugação   verbal   no   pretérito   mais-que-perfeito do indicativo.
     e) Uma conjugação verbal no pretérito imperfeito do indicativo.

Fábula: A DIFICULDADE E A FELICIDADE

        A Felicidade se encontrou com a Dificuldade e falou:
        -- "Você atrapalha a minha existência."
        A Dificuldade, muito difícil que era, em vez de responder, criou um caso: colocou dez pedras enormes no caminho da Felicidade. A Felicidade, que já estava com as asas meio tortas de tanto levar pedrada, pulou uma, duas, três, quatro, cinco... e quando chegou na sexta, ufa! Descansou e reclamou um pouco:
        -- "Você não me deixa passar, saia do meu caminho!"
        Então a Dificuldade, chatinha e difícil que era, continuou calada e colocou mais doze pedras no caminho da Felicidade. Puxou outra vez a alavanca da determinação e começou a pular: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete... ufa! Na hora da oitava, se deitou e pensou: 
        -- Estou cansada. Por que ela não sai do caminho?!
        Ai... a Dificuldade colocou mais catorze pedras enormes na estrada.
        A Felicidade levantou-se, determinada e séria, e começou a pular: uma, duas, três, quatro, cinco, seis... exausta, chegou a pular treze pedras, e quando já estava quase na última, ops! Deu de cara de novo com a Dificuldade:
        -- "O que é isto, não acredito! Outra vez você no meu caminho?"
        A Felicidade não vacilou. Respirou fundo, sorriu e alavancou a força necessária para pular a última pedra. A Dificuldade ficou parada, olhando, e disse apenas:
        -- "Eu existo para que você me vença, não para impedir a sua passagem."
        A Felicidade então prosseguiu mais feliz: sabia agora como pular as pedras que iria encontrar pela estrada. Uma estrada muito, muito longa.
                                                                                     Diléa Frate.

Entendendo a fábula:

01 – Explique por que as palavras “Dificuldade” e “Felicidade” estão escritas com letra inicial maiúscula?
      Porque são as personagens do texto.

02 – A Felicidade se encontrou com a Dificuldade e falou: “Você atrapalha a minha existência”. Segundo o texto, por que a Dificuldade atrapalha a existência a Felicidade?
      Porque sempre coloca pedras no meio do caminho.

03 – “A Felicidade, que já estava com as asas meio tortas de tanto levar pedrada, pula uma, duas, três, quatro, cinco...”
A que se referem os numerais em destaque?
      Refere-se as dificuldades, os obstáculos.

04 – Circule, no trecho abaixo, a palavra que expressa o alívio que a Felicidade sentiu ao pular a última pedra: “E quando chegou na sexta, ufa!”.
      A palavra ufa!

05 – “Estou cansada. Por que ela não sai do caminho?!” Observe que os pontos de interrogação e de exclamação foram empregados juntos, na mesma frase.
Que efeito de sentido causa o emprego dessa pontuação na frase?
      Indica precisamente a soma dos significados individuais, é a indagação inicial, seguida quase instantaneamente por admiração, surpresa ou espanto.

06 – “Ai... a Dificuldade colocou mais catorze pedras enormes na estada”.
O uso das reticências, neste trecho, ajuda criar:
(X) Uma dúvida sobre o que vai ser dito.
(   ) Um suspense para o que vai ser dito.
(   ) Uma sensação de alívio a partir do que foi dito.

07 – “A Felicidade então prosseguiu mais feliz: sabia agora como pular as pedras que iria encontrar pela estrada”.
Os dois pontos, empregados no trecho acima, poderiam ser substituídos, sem modificar o sentido da frase, pela palavra:
a)   Portanto.
b)   Porém.
c)   Porque.

d)   Mas.
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