segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Texto: Um sonho ecológico

TEXTO: UM SONHO ECOLÓGICO - JOÃO JUSTINO LEITE FILHO - COM GABARITO


Texto: Um sonho ecológico

        Eu via o pôr-do-sol e meu lado criança entendia que o sol era uma pipa que estava sendo recolhida do céu por alguém que havia brincado o dia inteiro.
        Minha imaginação permitiu que eu fosse uma gaivota e tentasse acompanhar o espetáculo, de cima. Então, me senti de asas abertas, desafiando o vento e ganhando altura.
    Quando escureceu de vez fui coruja e pela primeira vez pude ver na escuridão. De manhã, eu, andorinha em voos rasantes, passei a centímetros de prédios, antenas, telhados...
        Uma chuva me surpreendeu e, encharcado, mergulhei no oceano. Fui golfinho, polvo, fiz parte de cardumes, pesquisei as profundezas do mar, descobri cavernas, montanhas. Desafiei meus limites como baleia e fiquei encalhado na praia.
        Sendo tartaruga me libertei da areia e fui lentamente caminhando em direção à mata, tomei banho de sol como crocodilo, fui ganhando patas ágeis, corpos flexíveis. Fui leopardo, tigre, antílope. Acho que tive o pescoço mais comprido do mundo, depois brinquei com a minha tromba, pensei em me ver no espelho e fiz muitas macaquices.
        Dancei nos desertos como avestruz e, porque a sede bateu, fui camelo e me saciei no meu próprio reservatório.
        Dei sustos, quando fui hipopótamo, brinquei bastante como foca, vivi bons momentos como rinoceronte e fico emocionado quando me recordo da minha vida de chinchila nas montanhas do Peru e do Chile.
        Migrei como cegonha, vi Deus nos nascimentos.
        O frio e o cansaço fizeram de mim um urso sonolento se preparando para hibernar.
        Dormi o mais longo dos sonos e acordei pensando em continuar experimentando vidas irracionais. Só que meu lado racional me mostrou os riscos que eu havia corrido. Os homens podiam ter acabado com a minha vida de hipopótamo, interessados na minha pele e no marfim dos incisivos. Podiam ter me fuzilado em plena dança de avestruz, visando minhas longas penas brancas para fazerem enfeites. Se me encontrassem como foca, ou me matariam para confeccionar roupas esportivas com a minha pele, ou me levariam para fazer gracinhas que dão dinheiro. Minha preciosa vida poderia ter sido abreviada por um arpão.
        Pobre de mim se tivessem me visto como chinchila, como leopardo, como irracional. Corri sérios riscos de ser enjaulado, engaiolado, castrado, embalsamado. Como cegonha, eu estaria migrando para o fim.
        Por segurança fui me levantando como ser humano e meu lado realista me disse: muito cuidado com os homens!
                                                                   LEITE, João Justino Filho.

Entendendo o texto:
01 – No texto, o narrador coloca-se como um personagem:
(X) Criança, que gostaria de ser animal.
(   ) Adulta, que seu lado criança;
(   ) Adolescente, que vive experiências próprias de sua idade;
(   ) Animal, que vive uma experiência como ser humano.

02 – Qual é a ideia central do texto?
(   ) Todas as pessoas deviam, de vez em quando, sonhar que são animais.
(   ) É importante sonhar, pois isso faz parte da natureza humana.
(   ) O homem devido à sua ambição, é o responsável pela extinção de muito animais.
(X) Os sonhos ecológicos geralmente acontecem ao pôr do sol.

03 – No oitavo parágrafo – “Migrei como cegonha, vi Deus nos nascimentos” – o autor faz referência a cegonha possivelmente por que:
(X) Popularmente, costuma-se contar às crianças que os bebês recém-nascidos são trazidos pela cegonha.
(   ) As cegonhas voam muito alto e por isso se diz, na cultura popular, que elas ficam perto de Deus.
(   ) A cegonha é uma espécie de ave que, para ter seus filhotes, precisa migrar para regiões muito quentes.
(   ) Segundo conhecida lenda, embora sejam aves migratórias, as cegonhas só constroem seu ninhos em torres de Igrejas.

04 – No texto, continuar experimentando vidas irracionais significa:
(   ) Continuar vivendo alegremente, sem preocupações.
(   ) Continuar dormindo e sonhando.
(X) Continuar vivendo como os animais, que não fazem uso da razão.
(   ) Continuar experimentando ser outra pessoa.

05 – O que aconteceu quando o autor acordou?
(   ) Comparou a vida irracional com a racional e concluiu que a primeira era melhor.
(   ) Levantou-se como ser humano, feliz por não ser um bicho.
(   ) Ficou triste com o fim da experiência e voltou a dormir.
(X) A razão o fez entender os riscos que correu vivendo como bichos.

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